Depois de 24 anos da primeira cirurgia cardíaca realizada em Nova Friburgo, em 19 de agosto de 1998, a cidade chega ao marco de mais de oito mil procedimentos realizados até agora. As cirurgias são feitas no Hospital São Lucas, credenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e por alguns planos de saúde para esse serviço, além de atender pacientes particulares.
“Em 52 anos de exercício médico em Nova Friburgo, sinto-me recompensado em ver as pessoas podendo ser atendidas aqui, com um serviço de excelência. Foram muitas noites em claro, estudando e calculando esse investimento, que foi muito alto. Conseguimos recursos avançados, num bom nível material e científico. Os resultados foram aparecendo e fomos conquistando a confiança da comunidade”, lembra o médico Hébson Deslandes, um dos diretores do Hospital São Lucas e idealizadores da implantação do setor de cirurgias cardíacas.
Uma das primeiras pacientes operadas pela equipe local foi a empresária Janaína Castro Morgado Botelho, que teve que trocar duas válvulas cardíacas, em 1999, quando tinha 26 anos. “Eu estava na fila de espera para operar em Itaperuna e tive a oportunidade de fazer a cirurgia aqui. Essa foi a minha segunda. A primeira foi realizada em São Paulo, porque em Nova Friburgo esse tipo de intervenção ainda não era realizada. Quando completei 40 anos, fiz nova cirurgia aqui também, implantando um marcapasso. Hoje, tenho três aparelhos no coração: duas válvulas e um marcapasso e me sinto muito bem, trabalho, faço academia, tenho uma vida normal. Claro que sendo monitorada pelos meus cardiologistas. A equipe, além de muito competente, é humana, carinhosa. O dr. Gustavo (Ventura Couto, cirurgião cardíaco e diretor do setor no São Lucas, abaixo) é um escolhido de Deus que o colocou em Nova Friburgo para cuidar dos nossos corações”, declarou a paciente.
Outra paciente que passou pelas mãos da equipe de cirurgia cardíaca friburguense foi a empresária Rosane Bizzo, moradora de Santa Maria Madalena. Depois de passar mal e ser indicada a operar com urgência, Rosane veio para Nova Friburgo em busca da cirurgia. “Em 2013, fiz uma mamária e uma safena. Foi um procedimento muito bem sucedido, a recuperação foi muito boa. Em 2015, tive uma nova complicação porque sou cardiopata. Deu tudo certo, uma recuperação maravilhosa. Levo uma vida normal e controlo a pressão arterial com medicamentos. Depois que fiz a cirurgia, sou uma nova mulher, com a autoestima lá em cima. Sou muito feliz por ter dr. Gustavo em minha vida. Ele me salvou”, relatou a paciente.
Classificação A pelo Ministério da Saúde
Não são só os pacientes que vêem a qualidade do serviço prestado pela equipe de cirurgia cardíaca do Hospital São Lucas. Em maio passado, o serviço de cirurgia cardiovascular recebeu a classificação máxima do SUS: a categoria A. Além de Nova Friburgo, apenas outros 61 serviços obtiveram o mesmo resultado. “Esta classificação representa o reconhecimento do excelente trabalho desempenhado ao longo destes 24 anos, aumentando em 75% o valor a receber pelos serviços hospitalares e profissionais. Para Nova Friburgo, essa conquista representa a comprovação da referência em cardiologia, não só para a cidade, mas para a região que é assistida por esse serviço”, comemora o cirurgião Gustavo Ventura.
Aqui são realizadas cirurgias eletivas e de urgência. E o cirurgião cardíaco enfatiza o excelente resultado: “nossa taxa de óbitos total é menor que 2,5%, sendo que, excluindo-se os casos de urgência e emergência, passa a ser menor que 1%. Nossa taxa de permanência de UTI é de menos de 24 horas em 97% dos pacientes”, completa Gustavo.
Para tanto, a equipe está em constante atualização. O cirurgião cardíaco conta ainda que recentemente, foi realizado no São Lucas o primeiro caso de fechamento percutâneo de comunicação interatrial pelo SUS no estado do Rio de Janeiro. “Comunicação interatrial é uma patologia congênita, que ocorre na membrana que divide a cavidade esquerda da direita e, com isso, o coração não se forma completamente, gerando uma comunicação entre elas, misturando sangue arterial (com oxigênio) com o venoso (pobre em oxigênio)”, explicou Gustavo.
Também pioneiramente, nas regiões Serrana e Centro-Norte fluminense, 25 pacientes foram submetidos a uma nova técnica para a implantação da prótese aórtica e quatro de plastia mitral transcutânea. “Até o advento da prótese aórtica implantada através da artéria da perna, só era possível por cirurgia aberta, ou seja, por uma incisão no "peito" e o auxílio de uma "bomba" externa para manter as funções da circulação. Da mesma forma, o tratamento de alterações da válvula mitral, antes somente por cirurgia aberta, agora, em determinados casos, também é possível pela via venosa, sem cortes no peito, esclareceu ele.
Brevemente, a cidade passará a contar com novos serviços na área. “Estamos desenvolvendo o serviço de cardiopatias estruturais com tratamento endovascular e, para tal, a equipe está se habilitando com cursos em São Paulo e Porto Alegre,” antecipou Gustavo.
Serviço de excelência próximo de casa
Desde que se começou a falar sobre a construção do Hospital do Câncer em Nova Friburgo, uma das questões abordadas é o sofrimento dos pacientes, que precisam sair daqui, fazer viagens cansativas em busca de tratamento. O mesmo acontecia com pacientes que precisavam de cirurgias cardíacas antes da implantação do serviço na cidade. De acordo com o cardiologista Raul Feijó, que atua em Nova Friburgo desde 1988, esse foi um marco, que modificou a perspectiva de vida na cidade.
“A sobrevida e a qualidade de vida das pessoas foi melhorando gradativamente. Eu tenho pacientes que foram operados pela equipe do dr. Gustavo, há quase 20 anos e estão muito bem. A qualidade do serviço aqui é impressionante, e os resultados são muito bons, tanto a curto, quanto a longo prazo. E, com certeza os friburguenses e os moradores de toda a região estão vivendo mais depois que o coração passou a ser cuidado aqui. Para mim, como profissional que precisa lançar mão desse serviço para cuidar dos meus pacientes, isso foi fundamental para minha tranquilidade médica e para a sobrevivência e a saúde dos meus pacientes,” relatou Raul.
O cardiologista Aldino Tavares enfatiza a diferença que faz na vida do paciente ter o serviço de cirurgia cardíaca na cidade onde mora e se trata. “Antes da implantação da cirurgia cardíaca aqui, quando tínhamos um diagnóstico de patologia que necessitava de tratamento cirúrgico, já causava uma grande angústia e preocupação na gente e também nos pacientes e seus familiares. A necessidade de transferência para outras cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo e Itaperuna, causava um transtorno não só do deslocamento, mas também na necessidade da permanência e hospedagem em cidades desconhecidas para que esses procedimentos fossem realizados. Além disso, ainda causava uma situação de preocupação para o médico, uma vez que tínhamos dificuldades de entrar em contato com as equipes responsáveis pelos procedimentos, além do desconhecimento da qualidade desses serviços prestados nessas cidades. Hoje, temos a facilidade de conversar a respeito dos procedimentos e também a respeito da evolução dos pacientes no pós operatório com a garantia de termos realizado um serviço de qualidade,” disse Aldino.
Pacientes na fila de espera
O serviço de cirurgia cardíaca de Nova Friburgo é reconhecido por todos. Muitos, hoje, tem, como eles relatam, uma nova oportunidade de viver. Mas, muitos também aguardam sua vez para fazer a cirurgia. De acordo com uma fonte ouvida por A VOZ DA SERRA, hoje são 180 pacientes na fila de espera.
Entre elas, a aposentada Janisa Pereira da Costa, de 75 anos, à espera por quase três meses pela cirurgia. “Sentia muita falta de ar, dor nas pernas e estava muito inchada. Hoje, estou na casa da minha filha, em repouso, e sem sintomas. Mas, tive que sair da minha casinha, parar a minha vida e ficar longe do meu neto, que criei desde os cinco meses e mora comigo. Não vejo a hora de poder voltar à minha vida normal”, relatou ela.
O marido de Josane Louvise Braga, Hélio Braga, está esperando desde o final de maio ser chamado para seu procedimento. De acordo com Josane, nem dirigir o marido está conseguindo. “Ele está impedido de viver uma vida mais normal. Até para tomar banho, fica cansado”, disse ela.
Janaíne Bom dos Santos também aguarda a cirurgia do marido Leonício Souza de Oliveira, de 54 anos. “Ele sente muita dor no peito, mal estar. Ele não pode caminhar e não consegue trabalhar. Está esperando desde abril. Tudo que vai fazer, estou junto”, relatou Janaíne.
O que diz a Secretaria Estadual de Saúde
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, no dia 18 de agosto, “havia apenas um paciente em regime de internação na fila de espera para cirurgia cardíaca. O procedimento a ser realizado é a angioplastia intraluminal de aorta. Além desse paciente na fila há outros três do município já direcionados para o São Lucas: dois para implante de marcapasso e um para troca valvar. O tempo médio de espera para esses pacientes foi de dez dias.” Em nota, a Secretaria de Saúde informou ainda que, “uma vez que o paciente é encaminhado para uma unidade, a realização do procedimento, a sua remarcação e a fila interna são responsabilidade da equipe da unidade. A Secretaria ressalta que as regulações são realizadas de acordo com a agenda e as vagas informadas pela unidade.”
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