Apenas 70 quilômetros separam duas das três maiores cidades da Região Serrana e dois universos bem distintos quando se trata da Covid-19. Ligadas pela RJ-130, Nova Friburgo e Teresópolis começaram o enfrentamento do novo coronavírus praticamente juntas. A situação começou a mudar em meados de abril, quando o número de casos confirmados da doença disparou em Teresópolis bem mais do que em Nova Friburgo.
Se hoje Teresópolis ultrapassa a marca de mil infectados, Friburgo registra menos de 300. Terê chega a 38 óbitos, enquanto Friburgo está com 24. A explicação para a diferença pode ter estar na testagem: enquanto Friburgo realizou pouco mais de 600 testes até a semana passada, Teresópolis aplicou quase cinco vezes mais, cerca de 2.800.
Evolução
As duas cidades registraram a primeira morte confirmada por Covid praticamente juntas, em meados de abril. Naquele momento, Teresópolis estava com 27 casos positivos e Friburgo, com 22.
Em 16 de abril, já com o primeiro óbito, Teresópolis tornou obrigatório o uso de máscaras em estabelecimentos coletivos, medida que só foi adotada por Friburgo 11 dias depois. No dia seguinte, o número de casos confirmados da doença começou a subir muito na cidade vizinha. Em 24 horas, foram confirmados mais 12 casos de Covid-19, fazendo o total subir para 44. Um dia depois, os casos confirmados já eram 56, mais que o dobro em apenas quatro dias, reforçando a tese do rápido avanço da doença no município.
Teresópolis superou a barreira dos 100 casos confirmados ainda no final de abril - em Friburgo isso só aconteceu em meados de maio. A escalada veloz da doença no município fez com que Teresópolis chegasse a 199 casos positivos no dia 3 de maio, pouco tempo depois do centésimo caso. Já Friburgo chegou aos 199 casos em 27 de maio, quando também já registrada as 20 primeiras mortes. No dia 7 de maio, Teresópolis batia os 300 casos, um salto de 100 em apenas quatro dias. Friburgo, felizmente, ainda não chegou a tanto.
Pandemia
A pandemia foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março, quando o mundo já contava com quatro mil mortos pela Covid-19. No dia 13 de março, uma semana após o carnaval, o governo do Rio anunciou a suspensão das aulas a partir de 16 de março.
Veja, a seguir, a evolução da doença em Teresópolis e como o município agiu para combatê-la.
Primeiras medidas
O primeiro caso suspeito foi notificado em 29 de fevereiro. A prefeitura seguiu a decisão do estado e também suspendeu as aulas na rede pública e particular de ensino.
No dia 16 de março, o prefeito Vinícius Claussen baixou o primeiro decreto com medidas restritivas no município. A prefeitura constituiu um gabinete de crise sobre a pandemia Foram proibidos eventos de qualquer natureza, teatro, cinema e afins.
No dia 19 de março foi baixado novo decreto municipal com medidas de segurança. Foi adotado o sistema de rodízio e a redução dos horários de trabalhos internos nos órgãos municipais, suspendendo o atendimento presencial ao público e restringindo a 30% a lotação de bares, restaurantes, lanchonetes e congêneres. O transporte coletivo também foi afetado com a medida, que reduziu a 50% a capacidade de lotação.
Mesmo sem nenhum caso confirmado de Covid-19 em Teresópolis, os casos suspeitos não paravam de subir. Em 19 de março, já eram 135, 52 a mais que três dias antes.
No dia 21 de março os acessos ao município passaram a ter rigoroso controle, com permissão de entrada apenas para agentes de saúde, segurança e serviços. O comércio ficou limitado aos setores essenciais. A entrada de novos hóspedes em hotéis da cidade também foi proibida.
Primeira confirmação
Com a confirmação do primeiro caso, em 25 de março, praticamente um mês depois da notificação do primeiro caso suspeito no município, a prefeitura prorrogou as medidas de isolamento social. Em 31 de março houve o primeiro óbito suspeito.
Em 6 de abril, a prefeitura apertou o cerco na fiscalização ao cumprimento dos decretos. Noventa estabelecimentos foram fiscalizados e 55 fechados. Em 8 de abril a cidade já contava com dez casos confirmados. O município lança um canal de transparência. Em 10 de abril o município lança um painel detalhando a evolução da doença.
No dia 8 de maio surgiram os primeiros sinais de saturação de leitos. O prefeito adotou o primeiro estágio do lockdown em 12 de maio. Dois dias depois, foram mais três óbitos por Covid-19 em 24 horas, chegando a 11 mortes no total. Em 15 de março, número de casos já estava próximo dos 500. E não parou mais de crescer.
Prorrogação do lockdown
Diante da escalada da Covid, o prefeito Vinícius Claussen prorrogou o primeiro estágio do lockdown por mais uma semana em 26 de maio. No mesmo dia a cidade confirmou mais dois óbitos, chegando a 24 no total. Leitos de UTI seguiam lotados, com apenas algumas vagas nos leitos de enfermaria.
Em 27 de maio Teresópolis ultrapassou os 700 casos confirmados da doença, sendo 43 novos casos em apenas 24 horas. Com mais duas mortes confirmadas no dia 26 de maio, cidade subiu para 28 o número de óbitos por Covid-19. Um dia depois a cidade já tinha mais de 800 casos do novo coronavírus e confirmou também a 29ª morte.
Nesse sentido, o plano de retomada de atividades em Teresópolis foi pausado até 8 de junho. Para isso, taxa de ocupação dos leitos de UTI precisa estagnar em 70%. Nesta sexta-feira, 5, a cidade ultrapassou a marca dos mil casos (1.003 no total) apenas 73 dias após o registro do primeiro caso. No mesmo dia também foi confirmado mais um óbito: o 38º.
NOVA FRIBURGO:
O primeiro boletim da prefeitura, em 17 de março, já mostrou que a cidade lidava com 22 casos suspeitos, dos quais um hospitalizado.
A primeira morte suspeita foi divulgada em 1º de abril, quando o total de suspeitos chegava a 52.
A confirmação do primeiro caso se deu em 3 de abril. Em meados de abril houve a confirmação da primeira morte, quando já havia 22 casos confirmados da doença. Nessa época friburguenses enviavam para a redação imagens e relatos de diversas situações de desrespeito ao distanciamento social, aglomeração em diversas linhas de ônibus, filas quilométricas em agências bancárias e um movimento praticamente normal no Centro da cidade.
Um mês depois, em meados de maio, a cidade chegava aos primeiros 100 casos confirmados e as primeiras dez mortes.
Menos de duas semanas depois, as mortes dobravam para 20 e os casos confirmados dobravam para 200.
Apesar dessa escalada, em 28 de março, antes mesmo do primeiro caso confirmado, já começavam os pedidos para uma flexibilização do comércio, sob medidas restritivas desde meados de março.
Em 8 de abril o estado anunciou que Friburgo ganharia um hospital de campanha.
Em 20 de abril, o prefeito Renato Bravo anunciava o uso obrigatório de máscaras em ambientes compartilhados.
Maio foi um mês turbulento com mais dois adiamentos do hospital de campanha, embates entre a Defensoria Pública e setores produtivos da cidade e os primeiros sinais de saturação dos leitos no Hospital Municipal Raul Sertã.
Diante do impasse sobre a reabertura do comércio em plena pandemia, Ministério Público, prefeitura, Câmara Municipal, OAB, sindicatos e entidades empresariais se reuniram para discutir um plano que possibilite a flexibilização segura das atividades econômicas na cidade.
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