Avanço da variante Delta desafia retomada e pode restringir flexibilização

“A vacina não impede a contaminação pela doença, mas evita, na grande maioria dos casos, a forma grave”, diz médico Armando Lemos
sexta-feira, 20 de agosto de 2021
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Dr. Armando Lemos
Dr. Armando Lemos

Segundo equipes de cientistas, da Fiocruz e do Observatório Covid-19 BR, o número de mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), voltou a ter alta na última semana, após uma trajetória de queda que durou dois meses seguidos. O número de internações, que parou de diminuir há cerca de um mês, também dá sinais de estar subindo. De acordo com epidemiologistas, há muitos fatores a serem considerados para explicar a mudança de tendência. Inclusive, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, em entrevista coletiva na manhã de sexta-feira, 20, diante do avanço da variante Delta que aparece em 53,7% das amostras de Covid-19 analisadas na cidade, expressou sua preocupação: “Nunca tivemos tantos casos em 2021 como agora”. 

Para tirar dúvidas e avaliar a situação que vem preocupando a comunidade científica do país, e a população friburguense, em particular, entrevistamos por e-mail, o médico neurocirurgião Armando Lemos, diretor administrativo da Unimed Nova Friburgo. 

A VOZ DA SERRA: Quanto o senhor está preocupado com o aumento de mortes e internações devido à Covid-19 nos últimos dias?

Armando Lemos: Estamos bastante preocupados pois registramos nos meses de abril e maio o maior número de casos. Até então, acreditávamos que haveria redução lenta e gradual, o que de fato não ocorreu.

O que pode explicar esse aumento? Flexibilização das medidas restritivas, relaxamento com a proteção, variante Delta? A soma de todos eles?

Temos observado nas últimas semanas um aumento expressivo e não esperado do número de casos covid na população atendida  em nosso hospital — Unimed Nova Friburgo. Isto se deve primordialmente ao pico de contaminação da variante Delta, que ora encontra o epicentro brasileiro no estado do Rio, cuja principal característica é a disseminação mais rápida, consequentemente levando a um número maior de contaminados. Naturalmente, o desgate da população com o isolamento necessário também contribui, havendo relaxamento não somente das medidas restritivas mas também protetivas (higenização, máscaras etc).

Já é possível afirmar que é inevitável a chegada de uma terceira onda da Covid-19? O que se pode fazer para evitar que seja tão perigosa quanto? (Entre especialistas, existe uma percepção vaga de que isso não vai ocorrer, mas poucos se arriscam a fazer previsões categóricas).

Sempre haverá o temor de novas ondas. A verdade é que o mundo científico se deparou com uma forma totalmente nova e agressiva de doença infecto-contagiosa, pegando todos de surpresa, levando a aprendizado contínuo por estarmos lidando com o desconhecido. Sendo assim, nenhuma previsão seja otimista ou pessimista é totalmente confiável. A história ainda está em curso.

A sensação de que a vacina protege está fazendo com que os vacinados abram mão das máscaras e do distanciamento físico. E a entrada da variante Delta do coronavírus, que é muito transmissível, pode ser um fator importante. Concorda com essa avaliação?

Sem dúvidas - análise cristalina da realidade. Lembrando que a vacina não impede a contaminação pela doença, mas evita, na grande maioria dos casos, a forma grave da doença.

Em entrevista para este jornal, ano passado, o senhor já alertava: “Estamos em novembro com mais casos que os registrados em agosto, que foi nosso pior mês. Nesse momento estamos vivendo o período mais crítico, desde o início da pandemia, com aumento do número de casos e de internações. [...]. De lá para cá, vimos uma escalada nos números de internações e mortes, seguido de queda e agora de crescimento, de novo. O que há de semelhante entre estes dois momentos?

Veja o caráter ingrato dessa doença: continuamos com mais dúvidas do que respostas. Felizmente, hoje com muito mais certezas do que meses atrás. Aprendemos na dificuldade a tratar os pacientes e fomos adquirindo conhecimento entre acertos e dúvidas. Quem seria capaz de afirmar naquela entrevista que experimentaríamos em Nova Friburgo um cenário gravíssimo em abril e maio de 2021? Foi o que de fato aconteceu. Ora vemos a elevação de casos, capitaneados principalmente pela variante Delta. Quem pode prever como estaremos em relação à doença em 3 ou 6 meses?

Apenas 25% da população brasileira está totalmente imunizada. A lentidão na vacinação pode ser considerada a principal causa do crescimento de casos e mortes, principalmente, de idosos? 

A única e verdadeira maneira de conter a disseminalção da doença é a vacinação em massa de toda a população, obviamente respeitando todo escalonamento determinado pelas autoridades sanitárias. Quanto maior é o número de vacinados de uma população, maior proteção aquela população vai experimentar. Cada pessoa vacinada evita a propagação da doença, e se protege mutuamente. O inverso também acontece. A boa notícia é que a variante Delta, apesar do nível alto de disseminação, não tem levado ao aumento proporcional de óbitos, o que também reflete o efeito da vacinação, ainda que aquém do desejado.

Que avaliação faz da situação em Friburgo? O que recomenda para a população? 

Friburgo é municipio central do nosso estado, que é o epicentro nacional da variante Delta. Não temos ainda nenhuma segurança sobre o que ainda pode acontecer. Já sabemos hoje que a principal disseminação do vírus causador da Covid-19 é aérea, portanto, continua a valer as máximas: VACINAÇÃO EM MASSA do maior número possível de pessoas, uso regular de máscaras quando em ambientes coletivos, higeninização das mãos (água e sabão ou álcool em gel), distanciamento social de no mínimo 1,5 metros. Não tem sido fácil, a perda de entes queridos vai doer por muito tempo, mas não tenho dúvidas: isso tudo vai passar e vamos conseguir superar esses tempos sombrios. Unidos e disciplinados iremos vencer! 

 

 

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