Há quatro meses, desde 28 de outubro passado (RELEMBRE AQUI), o maior pintor do universo não ficava tão inspirado. Após a chuvarada desta terça-feira, 23, desta vez sem raios nem trovões nem pedras de gelo, os friburguenses ficaram maravilhados com os tons de vermelho que tingiram os céus da cidade, como bolas de fogo, no fim da tarde.
Não era, definitivamente, um crepúsculo qualquer, desses típicos de verão. O espetáculo de cores da natureza, com direito a arco-íris, fez dezenas de pedestres pararem nas calçadas para admirar o “céu que nos protege”. “Fui à farmácia e, na volta, achei estranho tanta gente na Praça Getúlio Vargas olhando para cima”, contou a jornalista Dalva Ventura, que também ficou fascinada com o que viu.
Aos 92 anos, dona Rita de Cassia Fernandes de Oliveira, moradora do Bairro Suíço, disse nunca ter visto, em toda a sua vida, um céu tão bonito e diferente. “Foi mágico, um milagre. Cheguei na janela por acaso, bem na hora em que estava acontecendo. Foi uma mensagem de esperança e otimismo em meio a tantas coisas ruins acontecendo no mundo”, definiu dona Cassinha.
Entenda o fenômeno à luz da Ciência
À luz da Ciência, o fenômeno tão encantador tem um nome: “dispersão de Rayleigh”, em homenagem ao cientista que provou para o mundo por que o céu é azul.
Tudo se deve às propriedades ópticas da luz do Sol que passa pela atmosfera da Terra", explica o astrônomo Edward Bloomer, do Royal Museums de Greenwich, no Reino Unido.
Relembrando as aulas de Física, a luz é composta de todas as cores do espectro visível: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. A luz solar, no entanto, não se dispersa por igual. Cada cor tem um comprimento de onda diferente, e é isso o que define as matizes. A cor vermelha, por exemplo, tem o comprimento de onda mais longo e a violeta, o mais curto.
A atmosfera, por sua vez, também tem várias camadas de gases, incluindo o oxigênio que respiramos. Conforme a luz solar passa por diferentes camadas de ar, cada uma com gases de diferentes densidades, ela se adapta e se divide como se passasse por um prisma. Abaixo, o registro de Marcelo Auad e acima, de Giovani Faria.
Além disso, existem partículas suspensas na atmosfera, como poeira, poluição e fumaça, que também fazem a luz dividida rebater e refletir. Daí porque os crepúsculos podem ser mais intensos em determinados locais, como os desertos.
Quando o Sol se põe ou nasce, seus raios atingem as camadas superiores da atmosfera em um certo ângulo. Conforme os raios do Sol atravessam essas camadas superiores, os comprimentos de onda azuis são divididos e refletidos, em vez de serem absorvidos.
"Quando o Sol está baixo no horizonte (ou se escondendo nas montanhas), estamos espalhando todos os azuis e verdes e obtemos aquele brilho alaranjado e vermelho nas coisas", explica Bloomer.
Isso ocorre porque a luz de comprimento de onda mais curto (violeta e azul) se espalha mais do que a luz de comprimento de onda mais longa (laranja e vermelho). E o resultado é uma gama de cores fascinantes no céu.
A dispersão de Rayleigh também explica por que o céu fica mais azul no meio do dia. Como o Sol está alto no céu, sua luz atravessa a atmosfera ininterruptamente, é absorvida conforme passa e a cor visível predominante é o azul.
Se chover enquanto ainda há sol, como aconteceu nesta terça, a luz se divide em seus diferentes comprimentos de onda por cada gota de chuva, e a refração resultante espalha todas as cores na atmosfera, criando os arco-íris.
Cumulonimbus reforçaram “aquarela”
No caso de Friburgo, a chuva desta terça foi provocada por nuvens do tipo cumulonimbus, típicas de verão, e que ajudaram a compor a bela aquarela daquele fim de tarde tão especial.
As tonalidades também projetam o clima para o dia seguinte: quanto mais laranja e vermelho o fim da tarde, mais limpo e ensolarado é o dia seguinte. Cores quentes denotam falta de nuvens, e por isso dá para prever que o dia seguinte será sem chuva. O que, de fato, aconteceu nesta quarta, quando o dia, em Friburgo, amanheceu lindo, sem uma nuvem sequer. Resultado do sistema pré-frontal, ou seja, calor antes da chegada de outra frente fria esta semana.
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