Cruzeiro pelos rios do Amazonas

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 09 de julho de 2025

Em meados de junho fizemos um cruzeiro, durante sete dias, pelos rios Negro e Solimões, uma viagem fantástica pelo conhecido pulmão do mundo. O navio é o Gran Amazon, da companhia Iberostar, um verdadeiro hotel flutuante cinco estrelas, tipo all-in com bebidas incluídas e pelo menos cinco refeições diárias. Em virtude do grande calor da região, a refrigeração está presente em todos os locais frequentados, excetuando o deck. É nele que fica situado a piscina e onde existe um bar com uma grande cobertura, ventilado pela brisa que sobe do rio.

Nosso passeio começou numa segunda feira, com a partida de Manaus, às 18h. Um detalhe por mim desconhecido, esse porto é o maior porto fluvial do Brasil e do mundo, com um intenso movimento, pois dali saem navios de passageiros e de carga para todos os recantos dos estados do Amazonas e Pará. Logo na saída se depara com a Ponte Rio Negro, a maior estaiada do Brasil, ligando os municípios de Manaus e Iranduba, com 3,6 quilômetros de extensão. À noite, iluminada, ela é muito bonita. O cruzeiro se divide em duas modalidades, uma de quatro dias, pelo Rio Negro e uma de três dias, pelo Rio Solimões. Para quem quiser, como foi o nosso caso, junta-se as duas e a duração da viagem é de sete dias.

Somos recebidos por membros da tripulação, que nos fornecem informações preciosas sobre o funcionamento a bordo e das manobras de salvamento em casos de emergência. Em seguida temos o coquetel de boas-vindas. O jantar começa no restaurante Quarup às 20h em ponto e que jantar... Aliás, esse é o ponto alto do cruzeiro, pois tanto o café da manhã como o almoço e jantar são de primeira. Recebidos com uma taça de espumante somos orientados a escolher uma mesa, todas redondas, com a orientação que será a nossa mesa pelos próximos quatro dias junto com as pessoas que ali se sentarem, pois o importante é o congraçamento a bordo.

Na programação do cruzeiro constam duas saídas de lancha, uma pela manhã e outra à tarde, exceto no dia em que se vai admirar o nascer do sol, com saída às 5h30 da matina e no dia em que se vai ver os jacarés, com saída às 21h30. No mais, palestras sobre a Amazônia, boto cor de rosa, peixes, pássaros, frutas da Amazônia, povos e cultura da região.

Numa de nossas saídas pela manhã fomos passear nos igarapés de Jaraqui. É interessante, pois além da beleza da região, vimos pássaros, preguiças, macacos, corujas em seu habitat natural. Estávamos num igarapé que são pequenos braços do rio que adentram na floresta. É diferente dos igapós (ig- água, apó-raiz), ou seja, floresta inundada. Aliás, é um tipo de vegetação que consegue sobreviver na água. Naquela região, o Rio Negro estava 13 metros acima do seu nível normal.

Outra visita interessante que fizemos foi à aldeia dos índios Cambébe, na realidade oriundos do Rio Solimões, mas que se adaptaram bem àquela região. Fomos recebidos pelas crianças indígenas locais, que nos brindaram cantando o hino nacional brasileiro em sua língua materna. Depois, vieram os adultos com uma dança tradicional. Mas, são índios adaptados à vida moderna, vestem roupas iguais as nossas, têm luz elétrica, antenas parabólicas, internet, ar-condicionado na escola e as compras de artesanato podem ser pagas em pix. Importante, nessa aldeia três índios foram enviados para Manaus para fazerem um curso de Técnico de Enfermagem e são eles que cuidam da saúde local. Caso seja um problema grave, o doente é transportado em canoa para a cidade mais próxima. A escola tem primeiro e segundo graus, sendo que no primeiro grau são professores índios que fizeram curso, também, em Manaus. A luz elétrica vem de um cabo que atravessa toda a Amazônia e distribui ramos para as aldeias. Aquelas que são muito distantes, têm gerador que funciona das 7h às 23h.

Visitamos uma colmeia piloto, no meio da selva, de abelhas sem ferrão típicas da região. A produção dessas abelhas é pequena, não ultrapassando três litros por ano. Outro ponto importante foi a ida a uma casa do caboclo (oriundo da miscigenação de índios, negros e brancos). Lá tivemos a oportunidade de ver como a castanha do pará é colhida. Na realidade, quando maduras, o invólucro onde elas estão dentro cai no chão bastando quebrá-lo e retirar o fruto que será descascado e degustado. Aliás, in loco é uma delícia.

 O guia nos disse que o índio se preocupa com o dia de hoje, daí não terem roças colhendo as frutas que encontram na mata; sua alimentação é à base de mandioca, peixes e caça, mas recebem uma cesta básica do governo. Cada casal recebe R$ 600 por criança, até que elas atinjam os 14 anos.

Foi uma viagem fantástica, mas com um episódio triste o extravio de minha bagagem, que foi parar no aeroporto de Confins. Antes de embarcar tive de ir ao shopping Manauara e comprar tudo novo, inclusive uma mala. Chegamos no domingo de madrugada, embarcamos na segunda-feira à tarde e a mala só retornou a Manaus no dia seguinte. Na sexta-feira, o navio parou em Manaus antes de prosseguir para o Rio Solimões e aproveitei o meu tempo livre para ir ao aeroporto pegar a fujona. Já entrei com uma ação contra a Azul pelos transtornos que me causou.

É visitando a Amazônia que entendemos porque os gringos estão de olho grande nela.

Publicidade
TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.