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A Inteligência Artificial e a leitura

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Stephen Hawking, astrofísico teórico britânico e escritor, um dos mais renomados cientistas, há 30 anos previu que em 2025 o mundo entraria em uma nova era tecnológica devido à disseminação dos computadores, ao avanço da robótica em várias áreas de produção e atividade humana, o desenvolvimento da Inteligência Artificial, dentre outras.
Com relação à Inteligência Artificial, Hawking anteviu que esta superaria a capacidade humana até 2025. E alertou que poderia se aprimorar em velocidade exponencial sem que nós, os humanos, fôssemos capazes de entender ou reagir. Inclusive, de agir contra a ética, na medida em que poderíamos atribuir a ela a solução de todos os problemas. Além do mais, poderá se tornar perigosa na medida em que for definida por objetivos mal-intencionados.
O momento em que estamos vivendo tem me causado grandes preocupações, especialmente com relação à criança e ao adolescente, que estão chegando a um mundo cercado de robôs e inteligências que vão limitar o saudável e natural desenvolvimento das suas capacidades físicas e intelectuais; que irão criar referenciais não humanos para construção dos valores éticos, sociabilidade, autopercepção, cidadania e afetividade.
Sou pedagoga de formação e guardo o ser humano como o bem maior do planeta. A natureza e nós somos a maior, melhor e mais bela expressão da vida no universo que conhecemos. Com toda a pesquisa espacial, ainda não temos ciência de um mundo com existências tão aperfeiçoadas como as nossas. Mas, enfim, o desenvolvimento tecnológico está aí, tal como chegaram o avião, a geladeira e o computador, que se estabeleceram pelos quatro cantos do mundo, passaram a fazer parte da nossa vida e nos trouxeram tantos benefícios. A Inteligência Artificial está enraizada em nós como os celulares, do qual estamos dependentes.
Hoje é tão fácil fazer uma pesquisa com a Inteligência Artificial. É só chegar no site, digitar uma questão e clicar. E, eis que, num passe de mágica, em segundos, surge um conteúdo estruturado e bem escrito. Tendo eu, inclusive, a possibilidade de pedir que aprofunde as ideias e torne o texto mais poético. Esse avanço tecnológico vem acontecendo há uns setenta anos aproximadamente, pouco tempo para alavancar tantas possibilidades!
Ressalto que independentemente de todo o avanço tecnológico, é importante aprimorar a escrita cursiva, caligrafia, a compreender o que se lê e o que se escreve porque são ações que desenvolvem habilidades cognitivas importantes.
A escola está certíssima em impedir o uso de celulares. O aluno tem de estudar por ele mesmo, de experimentar os erros e os acertos. Tem de ter dúvidas e chegar a conclusões. Crescer é desafiador, sofrido e difícil. Mas é o meio pelo qual a criança e adolescente têm para se tornar adultos livres, produtivos e responsáveis.
O desenvolvimento de hábitos de leitura deve fazer parte do processo educacional da criança e do jovem, que se constitui em um grande desafio para a família, escola e governos.
Enfim, oferecer tudo pronto e facilitado é limitar o potencial criativo de gerações, predestinar a criança e o jovem a ser dependentes da tecnologia, a incapacitá-los a pensar com originalidade. O pior, de torná-los exímios plagiadores.
Nos primórdios da Inteligência Artificial, a literatura ainda tem condições de preservar o humano em todos os leitores. Salve os livros!

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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