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99,15% de prejuízo nas Lojas Americanas
Gabriel Alves
Educação Financeira
Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.
O impacto foi grande. De um escândalo que começou com R$ 20 bilhões, vimos ao longo desta semana o pedido da 4ª maior recuperação judicial do Brasil chegando a R$ 43 bi. O problema vem de financiamentos a fornecedores e se estende a toda a cadeia de distribuição de títulos e valores mobiliários do mercado financeiro do Brasil. Ao todo, a lista de credores das Lojas Americanas chega a quase oito mil nomes. Com o “tombo” da companhia, 1.057 fundos de investimentos foram afetados e mais de 130 mil CPFs estavam listados como pequenos acionistas da AMER3 (ticker da empresa na Bolsa de Valores).
Analisando impactos antes de entrarmos no mérito de uma carteira de investimentos bem distribuída, é momento de fazermos as contas com os preços das ações e o que aconteceu com quem tinha suas ações. No dia seguinte à divulgação de inconsistências nos balanços financeiros das Lojas Americanas, o papel derreteu na abertura do pregão – e não saiu do leilão durante todo o dia, nada de operações normais. Em 11 de janeiro de 2023, as ações fecharam as negociações custando R$ 11,71; quando abriram no dia seguinte, portanto, custavam muito menos e fecharam o dia a R$ 2,60 (77,8% de queda).
Contudo, é claro, mais algum tempo se passou e a informação que o mercado tinha naquele momento deixou de ser verdade e os valores em dívidas dobraram. Resultado? Mais quedas! Nesta quinta-feira, 26, enquanto escrevo esta coluna, as ações de AMER3 estavam cotadas em R$ 1,03 e traz o resultado de -91,2% no período entre os últimos dias 11 e 26. Semanas de terror para quem tinha parte de seus investimentos na companhia, mas ainda tem como piorar.
Já reparou que daqueles 130 mil CPFs de acionistas se comportam em grupo? Quanto maior a euforia, maior a vontade de participar dos investimentos – é a lógica irracional do investidor despreparado. Em agosto de 2020, quando a ação chegava a sua máxima histórica, o papel custava R$ 121 e alguém o comprou nesse patamar de preços. Sabe o que aconteceu com um investimento de R$ 100mil em AMER3 que manteve sua posição desde aquela data e vendeu no dia de hoje? Se tornou R$ 851,24 – um total de 99,15% de prejuízo.
Outra possibilidade de investimentos em Lojas Americanas é se tornar credor – sim, emprestar dinheiro em troca de juros. Aqui entram as debêntures da companhia e, diferente dos mercados de ações, há algumas garantias específicas de pagamento ao credor (investidor). Aqui, não vou me estender muito, mas essas garantias são a possibilidade de reaver capital diante de processo judicial. Ao contrário do investimento em ações, o investidor de debêntures ainda tem maior expectativa de redução de danos. Mas vamos nos atentar ao mínimo. Afinal, o óbvio também precisa ser dito.
Diversificação é a chave dos seus investimentos e o maior erro cometido pelo investidor é concentrar grande parte do patrimônio em um único emissor. Num ditado antigo, a mensagem já era clara: “Não coloque todos os ovos na mesma cesta”. Investimentos fundamentados, mitigam riscos a partir deste princípio. Como exemplo, o fundo de investimentos que eu mesmo utilizo para manter minhas reservas possuía, em seu portifólio, 0,26% do patrimônio líquido em debêntures das Lojas Americanas. Vai impactar sua performance, é claro, mas não vai quebrar.
Gabriel Alves
Educação Financeira
Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.
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