Em grupos de WhatsApp, que reúnem mães de Nova Friburgo, um assunto tem sido recorrente: a falta de medicamentos, principalmente infantis, em farmácias da cidade. Sempre tem uma mãe, pedindo informações sobre onde encontrar alguma medicação, depois de já ter ido a várias farmácias e não encontrado. Uma delas, relatou que só conseguiu comprar a bombinha prescrita para seu bebê, no Rio de Janeiro. Outras dizem que precisaram voltar ao pediatra para pedir nova prescrição, já que não conseguiram encontrar nem fora da cidade.
A escassez e a falta de medicamentos têm preocupado pais, médicos e farmacêuticos. Em nota, o Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio (CRF-RJ) relatou que “informações de farmacêuticos que atuam em hospitais, farmácias e outros serviços de saúde do estado, bem como a manifestação pública de autoridades estaduais e municipais de Saúde do estado do Rio e da própria indústria farmacêutica evidenciam desabastecimento de medicamentos e insumos, de modo geral, esgotados ou em vias de se esgotar em diversas cidades do estado do Rio de Janeiro. Entre os medicamentos em falta, estão: analgésico dipirona, antibiótico amoxilina e até mesmo soro fisiológico.”
De acordo com o farmacêutico Talles Félix, que atua em Nova Friburgo, há maior falta de antibióticos, medicamentos de suspensão infantis e alguns xaropes. “A única solução é voltar ao médico e substituir pelos remédios que ainda temos”, relatou ele. O farmacêutico disse ainda que não estão recebendo justificativas sobre a situação. “A informação não chega pra gente. É falta e pronto”, disse ele.
A nota emitida pelo CRF-RJ informa que “alguns desses fármacos estão escassos ou indisponíveis por reflexos de crises globais, como a guerra na Ucrânia e os fechamentos de portos na China por causa da Covid-19, que dificultam a importação dos insumos. Há casos também como a descontinuidade de produção dos medicamentos por desinteresse comercial das indústrias”.
A CRF-RJ informou ainda que reivindicou às autoridades estaduais e municipais e aos fabricantes de medicamentos, que todas as medidas possíveis sejam adotadas no sentido de garantir a saúde da população, o mais rápido possível; e apela pelo uso racional dos medicamentos neste momento de escassez de matérias primas, uma vez que se pode evoluir o quadro clínico das doenças e levar a óbitos por não ter o tratamento adequado.
“Alertamos a população para não substituírem os medicamentos que estão em falta por outros sem procurar um médico antes. Um quadro que poderia ser leve, pode se agravar ocasionando uma internação ou até mesmo um mal súbito. Pedimos a todos que façam o uso racional dos medicamentos. Os farmacêuticos estão nas farmácias, da rede pública e privada, para orientar os pacientes. E reforçamos que procurem um médico se não encontrarem algum medicamento para verificar com ele se há possibilidade de substituir por outro”, alertou a vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ), Luzimar Gualter.
Falta em todo o Brasil
A falta de medicamentos atinge tanto a saúde privada, quanto a pública, em todo o Brasil.
A Prefeitura de Nova Friburgo informou que, "entre centenas de medicamentos cuja aquisição têm sido difícil nos últimos tempos, podemos destacar os seguintes: dipirona injetável, bromoprida injetável, furosemida injetável, Amox+Clav comprimido e dexametasona comprimido e injetável. Apesar disso, cabe ressaltar que no Hospital Municipal Raul Serta não houve suspensão de nenhum atendimento."
O município informou ainda que está buscando soluções para essa situação através de um processo licitatório emergencial com os itens faltantes. De acordo com a secretária municipal de Saúde, Nicole Cipriano, a equipe tem trabalhado para abastecer a rede de saúde pública com pregões eletrônicos que abrigam centenas de itens que são utilizados diariamente nas unidades hospitalares e nos postos:
"Infelizmente, há situações que fogem do controle da gestão, mas trabalhamos incansavelmente para superar todas as questões dentro da legalidade. No momento, temos recebido os medicamentos da última licitação, que estão abastecendo os estoques das farmácias," disse ela.
A nota informou ainda que na atual licitação, 440 medicamentos foram cotados e 303 itens foram adquiridos. Os outros 137 tiveram resultado deserto ou frustrado, devido à ausência de interesse de fornecedores pelo item ou de lance final no certame. Relatou também que outra situação que gerou dificuldades para a Secretaria Municipal de Saúde foi em relação a uma das empresas que ganhou a licitação anterior e que tinha a responsabilidade contratual de fornecer uma quantidade significativa de itens de medicamentos, mas, mesmo após o município ter decisão judicial favorável, com previsão de aplicação de multa à empresa, ainda assim a entrega não foi realizada.
Por fim, informou que “Nova Friburgo, assim como os demais municípios do Brasil, tem tido muitas dificuldades em relação ao abastecimento de medicamentos de toda a rede. Diante desta situação, o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro (Cosems / RJ) se manifestou junto aos órgãos competentes quanto a esta preocupação.”
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