A irmã morte

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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.

terça-feira, 02 de novembro de 2021

Todos os anos, no dia 2 de novembro, fazemos uma pausa de nossas atividades cotidianas para nos lembrarmos de nossos irmãos e irmãs, parentes e amigos, que já partiram do nosso convívio. Refletir sobre a morte sempre foi importante para a humanidade, quanto mais nos é neste momento que estamos vivendo.

Passados quase dois anos do início da pandemia da Covid-19, os números de mortes ainda nos assustam. Muitas pessoas que ocupam um lugar importante em nossa peregrinação, através do tempo e da história, largaram suas mãos de nossas mãos.

Contemplar a morte tão de perto nos faz pensar sobre nossa finitude e sobre o que estamos cultivando nesta vida. Nem sempre é possível encarar com serenidade a chegada desse final inevitável para todos. A humanidade tem um desejo incontrolável de vida. Construímos nossa existência com momentos marcantes, planejamos o futuro sem nos dar conta que um dia esta vida será abruptamente interrompida. Não há quem um dia não enfrente o mistério da morte.

Contudo, não se pode delegar somente um aspecto negativo sobre este momento ímpar de nossa existência. Ao vivenciar o processo do fim, num primeiro momento poderíamos repetir como o autor sagrado “Tanto morre o sábio como morre o louco! E assim detestei a vida, pois a meus olhos tudo é mau no que se passa debaixo do sol; sim, tudo é efêmero e vento que passa. Também se tornou odioso para mim todo o trabalho que produzi debaixo do sol, visto que devo deixá-lo àquele que virá depois de mim” (Ecle 2, 16b-18).

Mas, é importante recordar que ao contemplar todo o caminho de sua existência, o mesmo autor conclui: “que nada é melhor para o homem do que alegrar-se e procurar o bem-estar durante sua vida. Igualmente é dom de Deus que todos possam comer, beber e gozar do fruto de seu trabalho. Reconheci que tudo o que Deus faz dura para sempre, sem que se possa ajuntar nada, nem nada suprimir. Deus procede dessa maneira para ser temido. Aquilo que é, já existia, e aquilo que há de ser, já existiu; Deus chama de novo o que passou" (Ecle 3, 12-14).

Assim, compreendemos que a morte é um processo natural da vida, com todas as finitudes que ela possui (doenças, enfermidades, idade). São Francisco de Assis chama a morte de irmã, pois a vê como aquela que no fim do decurso nesta vida nos dá a mão e nos conduz ao bem supremo. Como um autêntico arauto da paz, Francisco, jamais diria ‘bem-vinda irmã morte’ quando ela é consequência do pecado humano. O santo de Assis gritaria ao mundo de hoje: “Maldita a morte causada por toda a violência armada; maldita a morte causada pela fome em consequência da não partilha; maldita a morte provocada pela privação dos direitos sociais, causada pelo enriquecimento ilícito dos que legislam em causa própria; maldita a morte causada pela disseminação da segregação racial, ideológica e religiosa. Enfim, maldita a morte que destrói a vida das nossas florestas; maldita a morte, fruto dos produtos tóxicos despejados sobre o alimento; maldita a morte dos nossos rios, resultado da ganância das mineradoras; maldita a morte das nossas praias nordestinas, causada pela omissão dos primeiros responsáveis e pela ganância” (Frei Fidêncio Vanboemmel).

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é assessor da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo.

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