Céus de inverno

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 03 de julho de 2021

Essa é mais uma entra tantas declarações de amor. Já disse que te amei no bom dia, já falei que me fascinei por todas as suas luas, já revelei que me apaixono sempre que cruzo a última curva da serra, já garanti que não te abandonaria por absolutamente nada, pois nada é capaz de abalar o meu amor por você. 

E ainda que coloque tais memórias no tempo passado, sigo te amando no bom dia, me fascinando por seus luares, me apaixonando de novo e de novo a cada vez que passo pela última curva da serra que me transpõe ao paraíso, segue teimoso esse amor inabalável por você. 

O tempo passado, é na verdade, uma tentativa de sublinhar que nosso amor não vem de hoje. Vem antes, bem antes das pedras do Caledônia se formarem e do Bengalas existir. Parece que já disse quase tudo sobre essa relação, mesmo quando afirmei que faltava algo por dizer. E faltava e continuará faltando mesmo depois de mais uma, duas, três, quantas forem necessárias, infinitas declarações de amor. 

Exagerado, né? 

Mas não é exagero o amor que sinto por você e todo amor que me causa os seus céus de inverno. Azuis, rosados, vermelhos. De arco íris e dos múltiplos tons celestes de cores que não sei o nome. Recortando flores de cerejeiras e rosas de diversas famílias. Destacando a silhueta de suas montanhas, as de maior estatura e as de menor estatura também. 

O espanto de seus nevoeiros em meios às folhagens recebendo as mais puras gotas de orvalho. As suas temperaturas baixas que caem ao fim de cada tarde com o sol que se põe na pressa de dar lugar às estrelas e aos planetas acima de nós.    

De todos os céus de inverno, o seu é o mais bonito. E, esse fascínio poético, em parte, é construção de versos que você mesmo escreve com as centelhas de seu cotidiano. Faíscas que se elevam nos passos de sua gente pelas suas ruas e avenidas, nos piqueniques de seus parques, ou no simples descanso dos seus filhos nos bancos de suas praças. 

E você sempre surpreende a cada anoitecer, e você sempre se supera a cada amanhecer. No inverno e nas outras estações. Porque, de todos os céus de todas as estações, o seu é o mais bonito.

Prazeroso é sentir o mundo girar e, de repente - mesmo na grita do tempo - paralisar a velocidade, se desobrigar a correr só para se perder na observação de seu céu sobre nós. Teto iluminado que rejuvenesce as almas atentas às suas belezas. 

Se uma lágrima de emoção inunda os olhos, a liberto. Pois, enquanto escrevo esse texto, o sorriso não me cai dos lábios por duas percepções nítidas: uma é que por mais que eu me declare, você e o mundo jamais vão compreender o tamanho do meu amor por você. A outra é que por você não envelhecer – afinal, seu próprio nome é Nova - eu também não envelheço e sigo entusiasmado como adolescente em sua primeira paixão.     

As duas percepções nítidas, somadas a tantas outras, me levam, no entanto, a uma irrevogável comprovação: de todos os céus, o seu - Nova Friburgo - é o mais bonito. 

 

Foto da galeria
(Foto: Alan Andrade/Arquivo AVS)
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