A forma de consumo mudou muito em pouco tempo. Até a década de 1960, em Nova Friburgo, as compras eram feitas nas quitandas e mercearias, perto de casa. Os alimentos eram acondicionados em sacas e vendidos a granel, pesados na hora, na frente dos consumidores. Arroz, feijão, farinha, muitas vezes, eram fornecidos por agricultores locais. Em menos de 60 anos, tudo mudou. Mercados e supermercados chegaram e, na última década, com a revolução digital, vieram também as compras online.
E o que a forma de consumo globalizada tem a ver com a degradação do meio ambiente? “Tudo. Sabemos que 25% das emissões de carbono no planeta são feitas por transporte e grande parte desta emissão é por transporte de carga. Além disso, com os comodities, ou seja, com a monocultura de grãos como arroz, feijão e soja, grandes áreas são desmatadas para a produção. O que não acontecia quando consumíamos localmente”, disse Alice Freitas, co-fundadora da Rede Asta, uma das parceiras do Movimento Pertinho de Casa, um programa nacional, que incentiva o consumo local e tem seu projeto piloto em Nova Friburgo e em Itabirito-MG.
Alice Freitas (foto) explica que o Movimento Pertinho de Casa é um programa que visa levar movimentos de localização, que já acontecem na Europa e Estados Unidos, para as cidades brasileiras. Foi fundado em 2020, no auge da pandemia da Covid-19, e tem como missão apoiar micro e pequenos negócios das cidades a prosperarem, oferecendo ferramentas para aumentarem suas vendas locais, redes de apoio e treinamentos para que ampliem seus conhecimentos empreendedores. “O movimento de localização quer resgatar valores humanos e ambientais que foram sendo perdidos ao longo de 500 anos de globalização.”, esclarece ela.
Em Nova Friburgo, o movimento tem como articulador local Rodrigo Latanzi e Roberta Lomanco (fotos abaixo) no atendimento, além de Alice Freitas. Três friburguenses, que saíram da cidade, estudaram e trabalharam fora e que, como o próprio movimento Pertinho de Casa, voltam para atuar onde nasceram. “É o processo de construção de estruturas econômicas que permitem que os bens e serviços de que uma comunidade precisa sejam produzidos local e regionalmente, sempre que possível. Significa redimensionar a economia de volta ao nível humano”, explica Alice.
Como funciona
O trabalho é feito de duas formas, uma delas é através de uma plataforma, a www.pertinhodecasa.com.br, desenvolvida pela Accenture, uma das parceiras do movimento. Lá, consumidores encontram tudo que precisam nas suas cidades. Para entrar na plataforma, é preciso digitar a localização. As pessoas só têm acesso aos produtos da sua própria cidade. “Em Nova Friburgo já existem mais de 60 empreendedores cadastrados. Mas, na plataforma é possível encontrar 16 mil micro negócios de mais de 600 cidades brasileiras”, relata Alice.
A outra atuação é o engajamento cívico, com a adesão ou criação de um comitê para economia local, promovendo cursos, treinamentos, feiras, e outras ações. “Economias localizadas podem fortalecer a coesão da comunidade e levar a uma maior saúde humana e bem-estar material, ao mesmo tempo que reduz a poluição e a degradação do mundo natural”, explica ela.
Além de fazer a economia local girar, consumir produtos da própria cidade, ajuda na geração de empregos. De acordo com o site do Sebrae, hoje os pequenos negócios representam mais de 98% das empresas registradas e são responsáveis por mais de 50% dos empregos formais. Consumir de empresas locais colabora para o crescimento econômico da cidade, estimula novos negócios e gera mais empregos. E, como não há necessidade de transporte entre cidades, ainda gera menor impacto ao meio ambiente.
Grandes empresas estão apoiando a iniciativa do movimento Pertinho de Casa, como a Coca-Cola Foundation e a Vale. “Em breve, teremos muitos outros parceiros e várias cidades com movimentos de localização implantados. Queremos estar em 50 cidades nos próximos três anos e com 200 mil micro negócios com lojas na plataforma Pertinho de Casa”, explica Alice. Para participar como empreendedor na plataforma, basta se cadastrar. Sem custo algum.
Manifesto
Perto
As coisas que nos fazem bem queremos sempre Perto!
E as que amamos? Perto, Pertinho.
A comida que você come vem de Perto?
Da onde vem sua roupa? O material de limpeza de casa? De Perto?
Já imaginou se esses produtos fossem feitos pertinho da sua casa por micro e pequenos empreendedores e que os insumos que eles usam também fossem produzidos na mesma cidade onde são comprados?
Já imaginou quantas toneladas de CO2 deixariam de ser emitidas, ou a quantidade de empregos que seriam gerados bem aqui, pertinho de nós? O que isso significaria para a prosperidade da nossa comunidade?
Pelo menos 55 milhões de brasileiros são nano ou microempreendedores,
50% dos empregos no país são gerados por eles e 70% dos micro empreendedores atuam na região onde moram.
Se os micro empreendedores prosperam, nossa cidade, bairro, comunidade prospera junto.
Isso é localização, um movimento mundial que significa trazer a economia para pertinho de onde estamos, assim podemos vê-la acontecer, aumentando o nosso encontro com as pessoas e com o mundo natural.
Pertinho de Casa, trazendo movimentos de localização para as cidades brasileiras.
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