Que falta o abraço e o beijo estão nos fazendo!

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Estou escrevendo esta coluna na quarta-feira, 21 de outubro, motivada pelo
cronista friburguense Zuenir Ventura. Geralmente, escrevo-a nos finais de semana,
pois criei o hábito de pensar no tema que vou abordar e do modo como vou fazê-lo
durante os dias de branco. Como a literatura nos toca de diferentes formas, um bom
cronista sabe como fazê-lo com veemência.
Hoje, ao ler sua coluna no jornal O Globo, intitulada Carência de Afeto, senti sua
dor por não abraçar seus netos e tantas outras pessoas guardadas em seu afeto. Sua
crônica me remeteu a de Martha Medeiros, Dentro de um Abraço, publicada em maio
de 2012, nesse mesmo jornal, quando afirmou que o melhor lugar do mundo para se
morar é dentro de um abraço.
O afeto é o sol que aquece e ilumina a vida. Tem que ser sentido e vivenciado.
Entretanto, neste momento pandêmico, estamos privados de externá-lo através do
beijo e do abraço, as mais genuínas expressões da afetividade. Hoje, estão sendo
substituídos pelos acenos, toque de cotovelos e de punhos. Não se pode mais abrir os
braços e acolher quem gostamos no peito para trocar energias afetivas. Ah, não se
abraça amigos faz tempo! Sorte que o brasileiro é criativo e, rapidamente, aprendeu a
deslocar o afeto para gestos distantes.
O Beijar, o abraçar, até o modo de olhar são reparadores dos males que nos
adoecem. Na energia do amor, as pessoas se engrandecem e tornam-se poderosas
para conquistar seus destinos. A cada dia, buscamos diferentes formas para substituir
a aproximação dos corpos que tanto nos aquece a alma.
A vida começa no amor. Seja no sexo, seja na gestação. É preciso amar ao
extremo um filho para gestá-lo, carregá-lo no ventre ao longo de nove meses, para
fazê-lo pessoa ao longo de muitos anos. O amor tem concretude; não é abstrato. É
significado através de atos, atitudes. Os cães expressam com maestria seus afetos e
nos ensinam que só é preciso sentir o gostar para expressar o querer bem.

Noutro dia, beijei minha mãe com um passeio de carro. Como ela gostou, apesar
das máscaras, álcool e janelas abertas, e sentiu-se por mim beijada e abraçada. Ofereci
um lanche especial à minha filha, regado a vinho, conversas e risos. O gostar tem a
suavidade da borboleta que pousa sobre a mata para se aquecer ao sol.
Nesta crônica, Zuenir também se referiu à pesquisa de Anselmo Góes que
constatou: o que as pessoas mais sentem falta nestes tempos é do abraço. Somos
seres de relações. A proximidade traz segurança, esperança e alegria.
Espero que esta pandemia faça o planeta expandir e aprimorar os sentimentos
humanos. O Corona Vírus nos mostrou que não somos coisificados e que temos sangue
quente correndo nas veias. Que bom!

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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