Caderno de anotações

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 

Acabando de ler a biografia da Hebe Camargo, logo mergulhei na de
Leonardo da Vinci, escrita por Walter Isaacson, o mesmo biógrafo de Steve
Jobs. É enriquecedor conhecer a vidas das pessoas, saber quem foram, o que
fizeram e como mudaram a história. Leonardo deixou contribuições
significativas para diversas áreas do conhecimento, como a medicina, a
aviação, a engenharia. Foi um grande amigo da humanidade ao criar bases
científicas para o futuro e obras de arte com perfeição.


Não poderia deixar de falar da sua beleza e porte físico, generosidade e
capacidade de se relacionar com pessoas, desde as autoridades de Milão aos
atores de teatro, desde arquitetos renomados de Florença aos militares. Era
um homem encantador e encantado com as formas, movimentos e fenômenos
da natureza, como o voo dos pássaros. A pesquisa para a descoberta do
conhecimento lhe era maravilhosa e tomou conta da sua vida.


Ao longo da leitura pude saber que ele registrou seus estudos em mais de
7.000 páginas. Como nos séculos XV e XVI o papel era raro e custoso, ele
aproveitava ao máximo os espaços das folhas e, em muitas, misturava poesia
com astronomia, pintura com engenharia e tantos mais registros, que se
tornaram verdadeiras enciclopédias. Bill Gates adquiriu por US$ 30,8 milhões
de dólares um manuscrito de Leonardo, uma vez que se sente por ele
inspirado, dado a tenacidade de Da Vinci para investigar, mesmo sem ter sido
reconhecido em vida como artista e cientista. Tanto é que consta em sua última
página o registro da frase “A sopa está esfriando.”


Ele tinha o hábito de portar um pequeno caderno pendurado na cintura
em que fazia as anotações. Leonardo era um exímio observador, chegando ao
ponto de perceber o movimento das quatro asas da libélula; quando duas se
abaixavam, as outras se elevavam. Walter Isacsoon considerou que a
genialidade de Leonardo era consequência da curiosidade incessante, da
persistente capacidade de observar os detalhes, do seu árduo trabalho de
pesquisar e registrar os fenômenos e fatos da natureza, como da anatomia
humana e animal, da mecânica e do universo. Da vontade obsessiva para

propor soluções aos problemas com os quais se deparava. Nada ficava
despercebido ao seu olhar, como o cenário de uma apresentação teatral em
que criou mecanismo para os atores voarem durante a apresentação.
Eis que a biografia de Leonardo nos oferece grandes aprendizados.

Um
deles é observar, o outro é anotar. Quantas fatos, palavras e frases nos tocam
e, rapidamente, caminham para o esquecimento? O que podemos falar
daquele momento em que acordamos e uma ideia nos transborda, mas a
perdemos imediatamente? Ah!, nunca mais a resgatamos.


A inteligência é feita de ideias. As melhores surgem de repente e
desaparecem no ar. Eu, particularmente, sou mestre em perdê-las. Acredito
que se as registrasse, minha memória seria mais colorida e rica em detalhes.
Quem sabe, cuidando de um bloco de anotações, poderei ser uma escritora
melhor.

Publicidade
TAGS:

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.