A desmontagem do Hospital de Campanha de Nova Friburgo está em fase avançada. Erguido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro em anexo ao ginásio esportivo Frederico Sichel, do Sesi, no Prado, distrito de Conselheiro Paulino, inicialmente com a proposta de reunir 100 leitos para pacientes com Covid-19, 40 deles de UTI, a unidade não chegou a ficar pronta e jamais funcionou.
A imagem da desmontagem da estrutura vista de cima lembra a de um esqueleto de um fóssil sendo descoberto por escavadores. Na manhã desta quarta-feira, 23, praticamente a metade das hastes de ferro que sustentavam a base da tenda feita de lona já estava no chão e a previsão é de que toda a estrutura das tendas sejam desmontada ainda hoje, 24.
Em agosto, a SES informou que a desmontagem das estruturas estava previsto no contrato com a organização social Iabas, para a qual já foram destinados R$ 256 milhões. A SES contesta qualquer dívida existente com relação à logística e à desmontagem das unidades. Quando perguntada pela reportagem sobre o cronograma da desmontagem de toda a estrutura e os valores da operação, a SES reafirmou que “o desmonte do Hospital de Campanha de Nova Friburgo será coordenado pela Fundação de Saúde e que os equipamentos médico-hospitalares serão distribuídos entre unidades das redes estadual e municipais. Não há prazo para conclusão dos trabalhos”. Voltamos a insistir sobre os custos da operação, mas a SES não respondeu.
Uma longa e triste história
Inicialmente, o Hospital de Campanha estava previsto para funcionar a partir do dia 30 de abril. Passada essa data, o governo estadual adiou por quatro vezes, até o comunicado final de que o hospital não iria sair do papel. Neste meio tempo, a SES trocou três vezes de titular. Em julho, o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, foi preso por suspeitas de irregularidades nos contratos assinados durante a pandemia de Covid-19 no Estado do Rio. Há suspeitas de fraudes, inclusive já apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), em alguns contratos firmados sem licitação, entre eles, o de compra de respiradores, oxímetros e medicamentos e o de contratação de leitos privados. O Governo do Rio gastou R$ 1 bilhão para fechar contratos emergenciais.
Apesar da SES não confirmar o valor investido em Nova Friburgo, de acordo com o deputado estadual Filipe Poubel (PSL), em uma das suas vistorias ao Hospital de Campanha do município, informou que o projeto estava orçado em aproximadamente R$ 60 milhões aos cofres públicos. A SES informou que não tem como precisar o valor investido em cada unidade, somente que repassou inicialmente R$ 256 milhões para a organização social Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), num total de quase R$ 700 milhões.
Rompimento com Iabas
No início de junho, o governador Wilson Witzel publicou um decreto rompendo com o Iabas e, consequentemente, afastou a OS da construção e gestão dos sete hospitais de campanha do Estado do Rio. Segundo o decreto, o motivo do rompimento foi o atraso para a conclusão das obras. A decisão de intervir nos hospitais de campanha foi tomada após a informação de que os 500 aparelhos de ventilação mecânica que a OS comprou para o tratamento dos pacientes não eram respiradores, e sim equipamentos para anestesia, que não são indicados para pacientes com insuficiência respiratória grave. O governo estadual anunciou que pedirá à Justiça o bloqueio dos bens do Iabas para ressarcimento dos prejuízos ao erário.
Afastamento de Witzel
No dia 29 de agosto, o governador Wilson Witzel foi afastado do cargo por 180 dias. O Ministério Público, por meio da Procuradoria-Geral da República (PGR), sustenta ter provas que colocam Witzel "no vértice da pirâmide" dos esquemas de fraudes investigados no Estado do Rio. Segundo a PGR, o Governo do Estado do Rio de Janeiro estabeleceu um esquema de propina para a contratação emergencial e para liberação de pagamentos a OSs que prestam serviços ao governo, especialmente nas áreas de saúde e educação. Ainda de acordo com a denúncia, Witzel usou o escritório de advocacia da mulher, Helena Witzel, para receber dinheiro desviado por intermédio de quatro contratos no valor aproximado de R$ 500 mil.
Desmonte em outros municípios
Outras unidades de campanha no estado também estão sendo desmontadas, apesar da decisão judicial que obriga o Governo do Rio a manter funcionando os cinco hospitais erguidos para o combate à pandemia da Covid-19. No início do mês passado, a SES informou estavam programados além da unidade de Friburgo a desmobilização e desmonte dos hospitais de campanha de Duque de Caxias e de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Em nota, a SES informou que a desmontagem do Hospital de Campanha de Nova Friburgo será coordenado pela Fundação de Saúde e que os equipamentos médico-hospitalares serão distribuídos entre unidades das redes estadual e municipais.
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