A indefinição em torno da abertura (ou não) dos hospitais de campanha ganhou mais um capítulo nesta quarta-feira, 29, porém, nada animador. Após o secretário estadual de Saúde, Alex Bousquet, anunciar o fechamento de todas as unidades – incluindo a de Nova Friburgo - durante uma audiência na última segunda-feira, 27, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) e desmentido no dia seguinte pelo Governo do Estado, que garantiu que as unidades seriam finalizadas e funcionariam como ‘retaguarda’ no enfrentamento à Covid-19, Bousquet reafirmou nesta quarta-feira o fechamento das unidades – que sequer chegaram a abrir.
Em coletiva concedida no fim da manhã, o secretário disse que o governo do Rio espera desmobilizar todos os hospitais de campanha até o próximo dia 12 de agosto, caso não haja nenhum impedimento legal. Isso porque, atualmente há uma decisão judicial que impede o fechamento das unidades. No entanto, Bousquet disse que a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) está avaliando como contornar a situação, considerando a queda do número de casos da doença.
“Nossa argumentação será técnica. Tivemos um pico nas duas primeiras semanas de maio e, de lá para cá, temos uma curva descendente que já se mostrou confiável”, argumentou Bousquet, que completou: “Vencidas as barreiras judiciais, temos uma programação de desmobilização dos hospitais”, declarou.
Além da unidade de Friburgo, o cronograma prevê ainda - caso a decisão judicial seja revertida - o fechamento das unidades de Caxias e Nova Iguaçu no dia 5 de agosto. Os do Maracanã e São Gonçalo seriam fechados até o dia 12. Os equipamentos, segundo Bousquet, seriam reaproveitados. “A desmobilização dos hospitais vai fazer com que distribuamos esse material — que é nosso e não do Iabas — para as demais unidades da nossa rede própria e nos municípios. Assim fortalecemos os municípios no combate à pandemia”, afirma o secretário, sem especificar quais equipamentos e para quais unidades de saúde seriam destinados.
Problema vai além
Se não bastassem os prejuízos por conta do fechamento dos hospitais de campanha, os planos de flexibilização das atividades econômicas de diversos municípios da região, incluindo Nova Friburgo, podem ser afetados, já que as prefeituras contavam com os leitos que seriam disponibilizados para desafogar os sistemas de saúde municipais.
Mas os problemas não param por aí. Dezenas de profissionais de saúde contratados em abril e maio pelo Iabas para compor as equipes que trabalhariam no hospital de campanha de Friburgo estão vivendo uma situação delicada. Eles seguem vinculados à organização social, sem receber salários, sem nenhuma informação, e o pior, sem poder pleitear um novo emprego já que não foi dada baixa nas carteiras de trabalho.
A VOZ DA SERRA teve acesso a um grupo que foi criado por esses profissionais no Whatsapp intitulado “Processo contra o Iabas”. Até o fim da tarde desta quarta-feira, o grupo contava com 64 participantes, todos relatando o mesmo problema. São enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, farmacêuticos, auxiliares de farmácia, maqueiros, roupeiros, pessoal administrativo, entre outras funções.
Profissionais cobram os salários
Todos relatam que foram contratados pelo Iabas no final de abril ou no início de maio. Em abril receberam o proporcional do mês em maio. Em junho, receberam o equivalente aos dias de maio. Já o pagamento referente ao mês de junho, apesar de constar como pago, ninguém afirma ter recebido. Quanto ao mês de julho, ainda estar em curso, também não há nenhuma sinalização de pagamento. Mesmo não tendo trabalhado, já que o hospital de campanha nem chegou a funcionar, eles cobram o pagamento dos salários porque ficaram à disposição do Estado para atuarem a qualquer momento.
“Fiz todas as etapas do processo seletivo e fui contratado com a assinatura da carteira no dia 28 de abril. Em maio recebi valores proporcionais e, em junho, o valor do salário de maio, porém diferente do estipulado no contrato. Em julho não recebi referente a junho. Mandei alguns e-mails e liguei para saber quando seria chamado para atuar, mas nunca tive resposta. No último dia 26 recebi um e-mail sobre o meu desligamento após o término do contrato”, denunciou o fisioterapeuta respiratório, Rafael Siqueira.
“Tem gente alegando que não trabalhamos para exigir isso (pagamento dos salários), porém estamos em prontidão para trabalhar quando solicitados. Eles têm um vínculo trabalhista com cada um de nós. Deixei de pegar uma paciente particular porque poderia ser chamada a qualquer momento”, lamentou uma profissional que não quis ser identificada.
Alguns, inclusive, se desligaram de outros empregos para atuar no hospital de campanha. No final das contas, ficaram sem ambos: “Tive que abrir mão de outro emprego para estar à disposição a qualquer momento. No mínimo precisamos de uma resposta sobre como devemos proceder para dar baixa em nossa carteira de trabalho”, se queixou outra profissional que também pediu anonimato.
Iabas comunica desligamento
Já nesta quarta-feira, 29, diversos desses profissionais começaram a receber e-mails do Iabas informando sobre o desligamento contratual. De acordo com a mensagem a qual o jornal teve acesso, a organização social comunica que o contrato de experiência terminaria em 11 de agosto, mas as atividades estavam sendo encerradas neste dia 29 de julho. O e-mail, porém, não traz mais detalhes, como telefone para contato ou uma previsão de quando será dada baixa nas carteiras de trabalho e quitados os valores devidos.
O que dizem o Iabas e o Governo do Estado
Durante toda esta quarta-feira tentamos contato com o Iabas por e-mail e telefone, no entanto, não tivemos retorno. Também entramos em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, para saber quando será feito o acerto e o desligamento desses profissionais do Iabas; e qual a orientação para quem ainda tenha vínculo e/ou dúvidas sobre o assunto; mas até o fechamento desta edição, não tivemos resposta.
Relembre a ‘novela’
A promessa do Governo do Estado era inaugurar sete unidades até o dia 30 de abril, mas só os hospitais do Maracanã, na Zona Norte do Rio, e de São Gonçalo, foram abertos, mesmo assim com muitos atrasos e com menos leitos do que o previsto. A unidade de Nova Friburgo, que estava sendo montada no ginásio Frederico Sichel, do Sesi, no distrito de Conselheiro Paulino, teve adiados diversos prazos de abertura e remodelação do projeto, que dos 100 leitos de UTI que seriam disponibilizados a princípio, na última atualização esse número já havia caído para 60.
O Iabas venceu a licitação para a construção dos hospitais de campanha do Estado do Rio por mais de R$ 835 milhões. Desse total, a empresa chegou a receber R$ 256 milhões. “Será feito um acerto de contas para determinar se o que nós pagamos foi suficiente para o que eles nos entregaram de serviços de insumos ou se foi além”, garantiu Bousquet.
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