Viajar é cuidar da gente

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Há quem diga que viajar é luxo. Que é gasto supérfluo. Que é coisa de quem pode. Discordo com veemência — e com ternura. Viajar é investimento. E não falo de cifras. Falo daquilo que não se contabiliza: lembranças, afetos, novos olhares. Falo de ampliar a alma até onde os olhos não alcançam. Falo de se permitir existir em outros ritmos, em outras paisagens, em outras versões de si mesmo.

A vida, no seu correr costumeiro, tende a nos enquadrar. Rotinas se sobrepõem aos sonhos. Compromissos sufocam vontades. E quando a gente se dá conta, já se passaram meses, anos, décadas. A viagem, nesse cenário, é respiro. É pausa necessária. É encontro com o novo, com o outro e com a parte da gente que andava esquecida.

Viajar é uma forma bonita de viver com intenção. Quando planejamos uma viagem — pequena ou longa, perto ou longe — estamos dizendo a nós mesmos: eu mereço. Eu importo. Meu bem-estar vale a organização, o esforço, a economia. Não importa se será uma ida à cidade vizinha ou um sonho antigo realizado em outro continente. O que importa é o movimento. É o permitir-se. E há algo profundamente valioso em sair do próprio eixo. Caminhar em ruas que não conhecemos, ouvir sotaques diferentes, experimentar sabores inéditos. A bagagem que trazemos de volta nem sempre pesa — mas transforma. Aprendemos com a simplicidade de outros modos de viver, com a beleza inesperada de um fim de tarde, com as histórias compartilhadas por quem cruza nosso caminho. Aprendemos até com os perrengues — e como aprendemos.

Investir em experiências é lançar raízes no invisível. É dar à vida camadas novas de sentido. É voltar com a mala cheia de histórias que farão os olhos brilhar em conversas despretensiosas, nas memórias que nos aquecem em dias difíceis. É ter o que recordar com afeto, com riso solto, com aquela pontinha de saudade boa que só existe quando o vivido valeu a pena.

Viajar também ensina a desacelerar. A tomar café com mais calma. A olhar com mais curiosidade. A valorizar o que temos e o que somos. E talvez aí resida uma das maiores riquezas: voltar para casa com um olhar renovado sobre a própria vida. Sair do nosso espaço habitual também nos reconecta com o que somos e com o que queremos ser.

E se há algo que a vida tem me ensinado é que aproveitar os dias é urgente. Não falo de viver numa euforia constante, nem de postar felicidade fabricada. Falo de viver com presença. Com intenção. Com prazer em estar. Falo de aceitar convites simples — um passeio de carro, uma visita a alguém querido, um fim de semana em um lugar novo. Conhecer o outro lado do mundo ou a cidade vizinha. Olhar para fora e se permitir olhar pra dentro de si.

Viajar é plantar memórias em solo fértil. É voltar diferente. É, no fundo, um compromisso com a nossa melhor versão. E isso, para mim, é um baita investimento na vida. Porque ela não espera. Ela acontece.

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Paula Farsoun

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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