A criação de ecossistemas para inovação

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Se existe uma palavra que tem movido cidades, universidades e empresas pelo Brasil, essa palavra é inovação. Mas para que a inovação floresça, ela precisa de mais do que ideias: precisa de ambiente. Precisa de gente conectada, compartilhando saberes, recursos e oportunidades. É nesse contexto que entram os ecossistemas de inovação.

Esse ambiente é o que chamamos de ecossistema de inovação — um espaço vivo onde tecnologia, educação, empreendedorismo e políticas públicas caminham lado a lado. Não basta ter startups ou centros de pesquisa. É preciso que eles conversem, colaborem, troquem experiências e construam soluções em conjunto. O ecossistema é, antes de tudo, uma rede viva.

Na última semana, Nova Friburgo deu um passo nessa direção. Foi realizado o Workshop de Captação de Recursos, dentro do Projeto Ecossistema Local de Inovação – ELI, no auditório do Sebrae. A proposta do encontro foi reunir pessoas, instituições e empresas para pensar os caminhos possíveis de estruturar um verdadeiro ecossistema de inovação na cidade.

Fernanda Gripp, coordenadora regional do Sebrae, destacou a importância de conectar o que já existe: “O Sebrae já vinha atuando no ecossistema de inovação de Nova Friburgo desde 2018, com ações como a criação do Código Municipal de Ciência e Tecnologia. Esse histórico permitiu incluir a região no projeto nacional ELI, que busca fortalecer os ecossistemas locais. A iniciativa agora abrange todos os municípios da Regional Serrana I, com foco no desenvolvimento regional integrado.”

Floripa: referência em ecossistemas de inovação

Cidades que entenderam esse processo têm se destacado no cenário da inovação. Elas investem não só em tecnologia, mas também em gente, em articulação, em criar uma cultura onde errar faz parte do processo e onde inovar é algo cotidiano. O segredo está na conexão: ninguém inova sozinho.

Recentemente estive em Florianópolis-SC, cidade que hoje é considerada uma referência nacional em inovação. Não à toa, recebeu em 2024 o título de Capital Nacional das Startups. Lá, cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) vem do setor de tecnologia. E esse resultado não surgiu por acaso: é fruto de um ecossistema robusto, maduro e muito bem articulado.

Thiago Schütz, palestrante, conselheiro em Governança para Inovação, CEO do escritório de advocacia Silva Schütz, especializado no atendimento a startups, e envolvido em iniciativas como o projeto Flow Vista, que conecta inovação nacional ao mercado internacional, resume bem essa lógica: “Confiança e colaboração são o cimento do ecossistema. Nenhum ator, isoladamente, é capaz de criar um ambiente inovador sustentável. Empresas precisam confiar que governo e universidades não são apenas fiscalizadores ou geradores de burocracia, mas parceiros. Quando esses grupos colaboram, somam competências e compartilham riscos. Isso acelera a transferência de conhecimento, reduz gargalos regulatórios e cria pontes para internacionalização. Inovação é sempre um jogo coletivo, nunca individual.”

Em cidades como Florianópolis, essa cultura colaborativa foi construída aos poucos, com participação ativa de universidades, empresários e gestores públicos. Não se trata apenas de investir dinheiro, mas de cultivar relações. A inovação aparece como fruto de um ambiente fértil — e não como um raio que cai do céu.

“Quando iniciativas são contínuas e articuladas, acontece um fenômeno interessante: as conquistas de uns inspiram outros a empreender, investir e colaborar. Isso gera um ciclo virtuoso — as startups que crescem acabam, depois, mentorando ou investindo em novas empresas. O sucesso de um grupo retroalimenta o sistema, criando referências locais e, aos poucos, consolidando a reputação do ecossistema nacionalmente e até internacionalmente”, explica Thiago, com entusiasmo de quem vive esse ambiente no dia a dia.

Florianópolis abriga uma rede vibrante de ambientes de inovação que impulsionam o ecossistema local. Espaços como o Soho, a Acate, o Sebrae/SC, o Centro de Inovação da Acif, o Sapiens Parque e o Miditec servem como pontos de encontro para empreendedores, pesquisadores e investidores.

Esses locais oferecem suporte técnico, mentorias, eventos e conexões estratégicas que fazem a inovação circular. Juntos, formam um ecossistema onde ideias ganham vida e se transformam em negócios de impacto por todo o país.

E em Nova Friburgo? Há caminho e ele passa pela conexão

Nova Friburgo tem um ecossistema em construção, com uma base valiosa: um polo universitário respeitado, instituições como Uerj, Cefet, UFF e o Instituto Politécnico da Uerj, além de uma indústria de abrangência nacional sólida e criativa nos setores têxtil e metal mecânico. É um solo fértil, com talento, técnica e vocação para inovação.

O que falta, talvez, seja fazer essas peças se encontrarem. Muitos jovens se formam na cidade e acabam partindo, não por falta de capacidade local, mas por não enxergarem oportunidades conectadas com suas áreas. A solução está em aproximar ensino, mercado e empreendedorismo — e isso pode partir de todos nós.

Marcelo Verly, professor e articulador regional no ramo de inovação, acredita que esse movimento começa pela união dos ativos já existentes: “Quando os atores locais passam a trabalhar juntos, o ambiente de inovação se fortalece naturalmente. Não é preciso reinventar a roda, mas criar oportunidades reais de diálogo e ação conjunta”.

No fundo, inovar é isso: reunir pessoas para pensar e agir juntas, encontrando soluções criativas para os desafios locais. Friburgo tem histórias para contar, estrutura para crescer e gente disposta a fazer acontecer. O que falta são esses encontros que transformam ideias em realidade, construindo um ecossistema vivo, passo a passo, com vontade e propósito.

Esses encontros e conexões não precisam esperar por grandes investimentos ou ações grandiosas. Muitas vezes, começam em pequenos grupos, eventos locais, parcerias entre estudantes e empresas, ou mesmo em iniciativas comunitárias realizadas por grupos de WhatsApp.

Quando esses elementos estão integrados, nasce algo muito mais poderoso do que a soma das partes. As ideias fluem com mais rapidez, os recursos circulam com mais eficiência e as oportunidades se multiplicam. O que poderia ser apenas uma iniciativa isolada se transforma em um movimento coletivo com impacto real no território.

Publicidade
TAGS:

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.