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Tudo passa

Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
A moça estava com os olhos cheios d’água, com um semblante triste e o corpo contraído. Dava para ver que não estava bem. Só não sabia o que ela tinha. Resolvi perguntar... afinal de contas, quem sabe não poderia ajudar de alguma forma. Aproximei-me e indaguei: “O que você tem? Está passando mal? Precisa de algo que eu possa auxiliar?”. E a resposta foi: “Não, obrigada por perguntar. O que eu tenho é dor de alma”.
Pronto. Foi o suficiente para eu nunca mais esquecer a resposta. E refletir. E me identificar. Eu acho que entendi, no ato, o que ela quis dizer. Já senti também. É um tipo de dor para além do corpo físico, que não é palpável, não é determinada e não se resolve com analgésico. Aliás, há dores que não se explicam... dor da saudade, dor do tempo perdido, dor do que poderia ter sido e não foi, dor da frustração, dor da separação, dor do conflito, dor do medo, dor no encerramento de ciclos, dor da escassez e tantas outras dores.
E se não sabemos muitas vezes como ajudar os outros, talvez não saibamos também como nos ajudar nesses momentos. Já me disseram certa vez: “Deixa doer. Dor dá e passa”. Mas fácil, não é. Hoje em dia temos muito mais discernimento, de um modo geral, para compreendermos que podemos necessitar de ajuda profissional para auxiliar nos processos de cura, e procurarmos por ajuda quando for preciso.
Já percebi que nem todo mundo se conecta com a dor do outro. Aliás, às vezes as pessoas não conseguem se conectar nem mesmo com suas próprias dores, incorporando o estado de melancolia em suas vidas e jogando para debaixo do tapete situações que precisam ser resolvidas e superadas.
A vida é mesmo muito curta e se não nos esforçarmos para tentarmos ser felizes, dentro de nossas felicidades, quem o fará por nós? E diante do reconhecimento de que a existência nos impõe altos e baixos, momentos de alegria e de tristeza, de saúde e de doença, de força e de vulnerabilidade, de completude e solidão, de compaixão e egoísmo, de confiança e insegurança, de metade do copo cheio e a outra metade vazia, porque afinal de contas, somos todos humanos, me parece um desafio compreender o limite em que acolher a “dor de alma e deixar passar” é o simples “sentir faz parte da vida”.
Ou se é justamente o alerta para buscar ajuda profissional porque isso que a moça me falou naquele dia é sinal ou sintoma de algo que demanda cuidados profissionais.
Seja como for, é fato que há caminhos de ajuda. Há pessoas habilitadas para o cuidado médico, psicológico e multidisciplinar. E assim como essa premissa é verdadeira, também é uma realidade que devemos ser mais atentos, proativos e empáticos com os outros e com nós mesmos e vivermos a esperança de que dor de alma também passa.

Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
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