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Força de vontade

Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
O que move uma pessoa? Nem sempre é o amor. Nem sempre é a fé. Às vezes, nem mesmo a esperança. Acho que é tudo isso junto e mais alguns elementos. Necessidade. Propósito. Desejo. Força de vontade. Aliás, falemos sobre ela. Não faz barulho, não tem cor, não vira foto de rede social. Mas está lá — como uma raiz que ninguém vê, sustentando toda a árvore.
Lembro quando ouvi que “vontade a gente não espera, a gente cria.” Na época, achei um pouco duro. Hoje entendo que era sabedoria das antigas. Porque esperar a vontade chegar pode ser o primeiro passo para ela nunca aparecer. A força, às vezes, vem depois do movimento, e não antes.
Já vivi dias em que levantar da cama parecia tarefa para um exército. Nada de grave, mas o corpo pesado, a alma em modo silencioso, e aquele questionamento: “Pra quê tudo isso?” E mesmo assim, eu fui. Escovei os dentes, abri a janela, coloquei café no fogo. Não porque queria — mas porque havia um compromisso comigo mesma: não me deixar para depois.
Essa é a verdadeira força de vontade. Ela aparece quando tudo o que a gente sente nos empurra para trás, mas alguma parte interna ainda insiste em ir para frente. É como remar contra uma correnteza interna — emocional, mental, às vezes até física. Mas remar mesmo assim. Não é heroísmo. Não é superação de novela. É escolha cotidiana. É compromisso com a gente, mesmo quando ninguém está olhando. Porque ninguém vê o esforço de quem decide continuar, mas quem vive isso sabe o tamanho do passo.
Força de vontade também é não cair na cilada da comparação. A gente olha para o outro e pensa: “nossa, fulano é tão disciplinado”. Mas talvez o fulano só tenha aprendido a dar pequenos passos todos os dias, mesmo sem plateia, mesmo sem motivação. Força de vontade não é mágica, é treino. E não é sobre vencer sempre. É sobre tentar mais uma vez. Errar de novo, mas melhor. Recomeçar com cansaço, mas sem desistência. Ter força de vontade é lavar a louça quando tudo em você queria o sofá. É retomar o projeto depois de meses parado. É dizer “vou tentar” mesmo com medo de falhar.
Já percebi que quem tem força de vontade não necessariamente tem tudo sob controle. Mas tem um tipo de fé particular: a de que continuar vale a pena, ainda que o destino seja incerto. É essa força que move a mãe solo que acorda às 5h para trabalhar e cuidar dos filhos. É ela que sustenta o estudante que revisa pela terceira vez o mesmo conteúdo, mesmo sem entender tudo. É a força de vontade que faz alguém seguir em frente após um luto, uma perda, uma decepção.
Ela não vem de fora. Não está nos livros, nos vídeos motivacionais, nem nos conselhos bem-intencionados. Vem de dentro. E às vezes vem fraca. Mas a gente só precisa de um fio. Há dias em que esse fio se rompe. Aí é preciso descanso, pausa, recolhimento. Força de vontade não é obrigatoriedade, nem martírio. Ela também precisa de fôlego. E tudo bem parar um pouco, desde que não seja para sempre.
No fundo, força de vontade é uma conversa constante entre você e você mesmo. Uma troca silenciosa que diz: “não vai ser fácil, mas vai valer.” E, se for para acreditar em algo neste mundo de tantos ruídos e distrações, que seja nisso: na delicada e potente força que mora em querer seguir, mesmo que seja só mais um dia. Mesmo que seja só mais um passo.

Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
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