Vai, planeta!

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 21 de janeiro de 2023

Vai, planeta! Fazer toda essa gente perdida e emburrada encontrar a sua humanidade. Desembrutecer para curar você planeta que era tão sadio. Mas, afinal, quem de fato está doente? Você ou toda essa gente? 

Planeta, querido. Dizem que você surgiu do caos. Somos filhos do caos. Mas nos impeça de confundir o caos que te criou e nos criou para o caos que destrói memórias, identidade, vidas, felicidade. Sei que é preciso afeto com a rebeldia, mas rebeldia a toda crueldade. Sem conciliação com o que é perverso. Há quem fantasie perversidade com a bela roupa da liberdade. Sabem bem o que fazem. Menino crescido e com acesso a informação sabe se iludir com desinformação, mas nenhuma ilusão é passe livre para agressão, ódio, eliminação do outro. Sem desculpas, por favor. 

“Pai, perdoa -lhes; porque não sabem o que fazem”. Tanto tempo para aprender, tanto sangue derramado na desventura humana pelas décadas que atravessamos, nós e nossos ancestrais. Ainda sim, seguimos sem saber o que fazemos? Será?

Vai planeta nos ensinar, sem tantos castigos, afinal é muito anos oitenta dar chinelada em criança rebelde que não cuida da própria casa. Precisamos tanto aprender a defender e regenerar o meio ambiente, inclusive nosso próprio ambiente interno. Tantos corações machucados, tantas almas feridas por cicatrizes abertas que sangram. Tanto desrespeito ao que se é e ao que se sonha ser. 

Em tempos de caça likes - detox das redes sociais faz bem. Melhor ainda desligar os smartphones e saborear o frescor das noites de verão. Sei. Nós nos acostumamos à superficialidade das fotos. Tiramos várias, aos montes, que se acumulam nas nossas nuvens de bits. Tão difícil escolher a melhor em retratos absolutamente iguais. 

Por que olhos perder estrelas tão lindas? Olha Júpiter se disfarçando de uma delas só para se destacar! A beleza do que se vê até pode se captar, mas a beleza daquilo que é sentido nos escapa rapidamente. Melhor do que guardar na memória limitada de aparelhos, é ter o sabor da nossa infinita memória, o cheiro perfeito do se compartilhar ao outro, a si mesmo. O que ficará, afinal, na vasta memória do planeta?

Livres sejam os que amam! Os que amam de fato herdarão você, planeta! Os que amam e só os que amam, ainda que solitários, ainda que com um pouco de luta e dor, esses se terão como herança e seguirão a cintilar no universo. 

Por que se incomodar tanto com aquilo que alegra o outro? Machuca alguém? Se não, ame e deixe amar! 

Chamamos você de planeta Azul, Terra, Água. Que possamos evoluir e um dia te chamar de planeta Amor! Pena que dependa tanto de nós, seus moradores que não pagam aluguel. Ou será o aluguel esse valor benéfico de amar uns aos outros? Estamos demorando a pagar. 

Respeito a tudo que nos diferencia. Gratidão à nossa unicidade. Devoção aos encontros que nos permitem ser o que podemos ser e um tanto mais. Sonharei como sei que você também sonha com esse dia. E quando esse dia chegar será permanente. E aí planeta, o elo entre você e a humanidade estará verdadeiramente feito. 

Vai, planeta! Eu sei, eu sei. A gente, toda gente, toda sua gente é que precisa ir. Vai, humanidade. Vamos, planeta!

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