Será mágica?

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Pode ser que não seja nada, pode ser que seja tudo. Mas entre o tudo e o nada existe o que não se sabe profundo. Ao infinito só o finito para ser nada. Tudo o que existe, o profundo. Será? 

Entre alegrias e alergias basta mudar a posição do “r” para alterar a risada, no entanto, apenas alguns segundos bastam para alterar o destino. O tempo, nenhuma letra pode mudar. Será?

Pode ser o sonho a amordaça da realidade, pode ser o contrário ou ambos se fazem de reféns. A ilusão é ótica, mas seu dissabor é a faca que se tirada do peito faz sangrar. Melhor deixar, ali, estanque. Será?

Entre o céu e o inferno – nós. Entre a piedade e a soberba – o sol. Para quem não é planeta, o contentamento em ser satélite, mas o desejo em ser constelação do signo de maio. Será?

Vaguear pelo mar de gente pode ser mais divino do que navegar pelo oceano de orações que ensurdecem Deus nas noites de expectativa por dias menos cretinos. A ira, produto da paciência não explodida, será tempestade cada vez mais devastadora na soma do que acumula. Será?

Entre poesias e más notícias dos jornais, as palavras desvendam ou buscam desvendar olhares e crimes ou crimes desses olhares. Assim se fazem as histórias. Nem sempre em métricas harmoniosas ou rimas. Tanto quanto enigmáticas ao concerto de notas que não se repetem se não desenhadas em partituras. Será?

Será mágica tudo isso ou nada disso? Será supérfluo o interesse em se dar e querer receber em troca apenas de um pouco de atenção? Basta de varrer para debaixo do tapete os traumas que impedem a mágica acontecer. Quanto mais varremos, maior fica o terremoto que virá. Mais cedo ou mais tarde, virá! 

Portanto, por agora, não há o que temer! Que o amor surja como o coelho da cartola do mágico. E não é preciso saber do truque e se há truque, pois se é fantasia é magia e se não é fantástico também pode ser mágica.

Brincar de ser feliz é mais interessante que os modismos dos coaches: empatia, resiliência, tolerância, versatilidade, antifragilidade... Sorrir e abraçar são mais eficazes para a prosperidade. Gestos. Gestos substituem mil palavras bonitas, talvez todas as palavras. Gesto é mágica que acontece sem varinha de condão. 

Vive a música a tocar.  Tem silêncio entre uma nota e outra. Percebe? É tão ligeiro, é tão sutil esse intervalo que faz dar falta, quase saudade, da canção. Como pode alguém juntar palavras a versos e versos a sons para fazer canção? Será mágica? 

A poesia, a invenção, a iguaria, a equação, a flor, a intuição, a dor, a pretensão, a bailarina, a joia fina, o encontro... Todos os encontros. Será mágica? Esse profundo que reside no tudo e no nada, mas que se faz mesmo entre um e outro. 

É mágica! Esses devaneios, essas utopias, esses passos, essa crônica, a realidade, o que se vê, o que se sente, esse papel na parte tingida e na parte que não tem tinta, todo o jornal. Todo eu, todo você, todos eles, todos nós... 

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