Quero que você sorria em pelo menos uma linha desta crônica

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 04 de novembro de 2023

Sorri, quando te vi pela primeira vez. Não sabia seu nome, nunca tinha visto seu rosto, mas sua alma já me habitava. O sorriso de quem tenta esconder o sorriso é tão engraçado que — na tentativa de disfarçar — se entrega. Contagia. Ao ponto de, despretensiosamente, arrancar o sorriso do outro. Em um possível sem fim me devolver o sorriso que emprestei, fazer você sorrir mais uma vez e passarmos a vida sorrindo. Por admiração, pela intenção não planejada de ser e estar junto driblando tudo o que possa cortar o sorriso, que não precisa necessariamente dos dentes sempre à mostra. 

Desses impactos proporcionados pelos encontros da vida, talvez se valha a vida inteira. Ou não. A chance é concedida, mas depende de cada um e da junção dos dois, o que virá depois da curva. Esse tal sorriso se estenderá ao altar? Até onde este sorriso levará? Talvez fique ali, marcado como tatuagem dessas que vêm no chiclete e saem com água e sabão. Talvez perdure, se multiplique. Pode ser que não passe de algo bom, mas que se encerra em si mesmo.

Sorri, quando subi ao palco e palhaço de minhas piadas arranquei sorrisos espontâneos, forçados, transmitidos de um para o outro por puro efeito cascata. Sorriu até quem não entendeu a piada, mas não quis passar de pouco ou muito sarcástico. O sorriso é contagioso.

Enquanto plateia, vivo sorrindo dos teatros do cotidiano. Das zoações que fazem com o meu time de futebol. Das derrotas da minha escola de samba. Das vitórias de cada um em que, eu torcida, publicizo o meu torcer. É um modo das pessoas se conectarem e dizerem que sabem da minha vida e participam dos meus dias. E não há nada de superficial nisso. 

É lindo quando alguém quer sorrir através de você ou te arrancar sorrisos, ainda que amarelos. Os inimigos, esses não têm grau de intimidade para ser sua plateia ou para que sejamos seu palco. Não nos sorriremos! Porque sorriso é genuíno e não se disfarça. Podem até se mascarar de sorriso, mas toda máscara, rapidamente, cai.

Sorri ao despertar agradecido. E é doce fazer oração com sorriso no coração. Dormir sorrindo é sinal de felicidade que não cabe. Pode ser por cócegas feitas por borboletas no estômago. Pode ser pela visita da conquista ou pelo sonho que se avança. Pode ser por simplesmente nada. Apenas se pega sorrindo e sorrindo, se deixa sorrir até ter câimbras no rosto.  

Bebê sorrindo é pureza que se fotografa na memória para sempre. O que estará sonhando o pequenino? Como podem gargalhar banguelas por essas caretas que adultos fazem? Sorriso verdadeiro desmonta o mau humor. Sorrisos mudam o mundo — para melhor. Sorrisos podem alterar a trajetória dos dias. Dirão que sorrisos até podem alterar as posições das estrelas.

Quero sorrir com meus amigos para além das fotos para as redes sociais. Quero sorrir com meus amores quando ninguém vê. Quero sorrir sozinho vendo minhas séries favoritas e seguir sorrindo mesmo ao fim do episódio. Quero que você tenha sorrido em pelo menos uma linha desta crônica. Quero você rindo à toa debaixo do chuveiro por cada ironia, por cada alegria e fantasia que o tempo lhe privilegiou. Quero ver você sorrindo agradecido e até emputecido, afinal, pratique a serenidade e sereno vencerá quem lhe apunhalou.

Sorrisos são capazes de desarmarem o mal. Sorrisos demonstram nossa humanidade, a presença e também a falta de sobriedade. Sorrisos nos conectam, nos atrelam a iguais. Sorriso é vacina, é remédio, é um jeito forte de enfrentar agruras, uma maneira nobre de conduzir o destino e se inserir como guardião do mundo.

Publicidade
TAGS:

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.