No meio da poesia

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 11 de março de 2023

Estou à procura de achados que ainda não encontrei. Talvez tenha vislumbrado, mas jamais encontrado. Olhar atento, caminho pelas ruas dos dias para no meio da poesia quem sabe… 

O que será percebido? O que me emprestará a interpretação no agora? Porque o que fomos nos trouxe, mas a leitura que vale é a desse ser que vive agora. 

Amanhã? Talvez me avalie adolescente demais, desses que vão no afã da ocasião ou adulto de menos, como os que decidem apenas com o coração.  

Se a ingenuidade me protegeu — não sei. Talvez a poesia, sim, a poesia proteja os que fazem das cicatrizes tatuagens que artistas apreciam.  

Ah! A poesia. Sujeito oculto que merece ser singular e até composto quando fala de dois. Eu e você, todos nós que se desatam como o voo da pétala que se desprende da flor e desaprende a ser presa. Livre, plaina. E ao encontrar refúgio, simplesmente, pousa para ao vento dos versos voar quando bem se encantar. 

Não sei quem é mais poeta. Se o autor que escreve ou se aquele que lê e entende até mesmo quando diz não compreender. Admitir que admira o que não entende é de tal leveza que afasta a vaidade vil. 

Assim, os poetas são seres maravilhosos, porém, mais maravilhosos ainda são os leitores que se deixam afetar pela viagem exclusiva que fazem nas mesmas rimas que se distribuem ao sabor de cada olhar e da experiência que cada um tem no instante que está.

No meio da poesia… Quem sabe? Sem querer se fazer esconderijo de fascinações ou dramas, sem a presunção de ser respostas ou soluções. No meio da poesia talvez se encontre aquilo que se procura com aquilo que surpreende, que não se espera ou tampouco se imagina. Mesmo por mentes que visitam longínquas estrelas. Será que é possível surpreender pensamentos que vivem nas luas de Saturno? 

O susto, a curiosidade o despertar novo para quem já foi despertado antes. Falar de amor e suas estranhezas e mesmo que pareça que todos os amores já foram descritos, escrever e ler o amor com ineditismo, pois todo amor tem talento para ser inédito. Somos poetas mesmo sem saber escrever poesias, pois ao lê-las, ainda que nos livros da natureza, poetizamos a existência para suavizar o existir. 

No meio da poesia pode vir tudo e do mesmo meio soar e ser diferente para quem se será amanhã. Para a poesia, afinal, tudo é possível. 

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