Modos diferentes de ser e de fazer

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 09 de março de 2020

Nesta coluna dou prosseguimento à anterior, em que abordei questões relevantes sobre a leitura e o saber. Na essência destas questões se encontram as diferenças entre a literatura e a pedagogia, que têm enfoques distintos e bem delimitados. Não é incomum haver uma percepção que venha a confundi-las. Eu mesma já pensei que a pedagogia e a literatura se fundiam em alguns momentos, entretanto, ao longo dos meus estudos, constatei que, caso isto aconteça, ambas correm o risco de perder o foco.

Gosto de definir a pedagogia por Emile Durkheim, sociólogo inglês, que concebe a educação como um ato intencional, através do qual uma geração adulta prepara uma outra, mais nova, para a vida coletiva, socializando-a. Ou por Dermeval Saviani, educador brasileiro, que define o trabalho educativo como um ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens.

O fazer literário, por sua vez, segundo Fernando Pessoa, escritor e filósofo português, é um modo de esquecer a vida, apesar de simulá-la. Oscar Wilde, escritor irlandês, a avalia como uma forma de moldar os fatos aos desígnios do escritor. E Jorge Luiz Borges, escritor argentino, afirma que a literatura é feita de sonhos, os quais se fazem através da combinação de ideias e de recordações.

Seus fundamentos são essencialmente diferentes. A literatura é arte e não tem a intenção de ensinar; o pensamento pedagógico não se estabelece no devaneio. Entretanto são complementares. A literatura enriquece o pedagógico, e o pedagógico oferece meios ao escritor para criar e produzir textos em diversos estilos literários, como também ao leitor para ler, interpretar e adquirir conhecimentos, para interagir e transformar o ambiente e os próprios modos de viver.

As cartilhas são livros de cunho pedagógico. Possuem conteúdos didáticos e são utilizadas facilitar e fixar a aprendizagem. Hoje são usadas nos programas de educação de pessoas portadoras de doenças, como o Diabetes, com a finalidade de empoderar os pacientes, promover a autogestão e os cuidados com a saúde. Na pedagogia tradicional são comumente utilizadas.

Os livros de literatura, como os de poemas e de poesias, servem para tocar a alma do leitor de modo a despertar reflexões e sentimentos. São elaborados com sensibilidade e revelam o olhar do escritor para o mundo. 

Esta coluna para mim é esclarecedora. Aliás sempre me utilizo deste espaço para pesquisar e tirar dúvidas ou algum resto de incerteza que fica serpenteando meus pensamentos sobre o ser e o fazer literário. Mas acredito que esta questão, disparada na semana passada pela escola de samba Império da Tijuca, sugerida pela Gerda, uma querida amiga, seja a de alguns leitores e fazedores de literatura que não sejam conhecedores das letras com maior profundidade.

Ah, a literatura e a pedagogia não se fazem de qualquer forma. São criteriosas.

 

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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