A mais nobre das palavras

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O nome é a mais nobre das palavras por traduzir uma identidade, identificar uma personalidade e contar uma história.

Ao fazer literatura, experimentamos situações que emergem do quotidiano, as quais passam despercebidas por serem comuns. E não são! São as mais importantes, mas não a consideramos desta forma sempre que lidamos com ela. O nome. Mesmo possuindo valor inestimável, quantas vezes alguém pergunta meu nome e eu respondo até sem pensar: Tereza. Em quantas situações não considerei, como deveria, o valor do meu nome para minha história de vida? E o de outras pessoas?

Quando comecei a escrever “Um cão cheio de ideias”, os personagens foram surgindo durante a construção da história e, repentinamente, como se uma campainha soasse, reconheci a necessidade de nomeá-los. Não foi uma tarefa fácil posto que tinha de encontrar um nome que representasse cada um deles. Veio a mim um forte argumento: sem nome, cada um deles poderia ser um tal, um qualquer ou um ninguém. Como todos tinham uma identidade definida, não poderiam ser reconhecidos como aquele lá. A partir de então, quando vou criar uma história, declaro o nome do protagonista na primeira linha e o dos personagens tão logo surgem no enredo.

O nome é a palavra que vai além da imagem, já que descreve um significado que expressa o que a pessoa é, bem como o que os outros gostariam que fosse. Recebemos um nome ao nascer que podemos considerá-lo como um marco inicial da construção de nossa identidade. Ao dar um nome a um filho, os pais nele colocam afetos, desejos e esperanças. Vivemos em um mundo feito de sentidos. Construímos significados nas relações em que vivemos, o qual sempre é identificado pelo nome.

Quando somos nomeados temos um pretexto para ser alguém que se refere ao nome que recebemos: “Tu és!” A questão é que nem sempre queremos o nome que recebemos porque, ao nos nomearmos, não engrandecemos a pessoa que somos como gostaríamos: “Eu sou!” Todavia, o nome que recebemos na certidão de nascimento delineia um direito a uma personalidade protegida pelo código civil. É a marca que vai nos acompanhar ao longo da vida.

O mesmo acontece com os personagens que foram definidos pelo autor e ganharam eternidade, como Jean Valjean, Dom Quixote e Hamlet, que se tornaram referências pelas suas qualidades e, até hoje, nos oferecem parâmetros de avaliação.

As pessoas, dia a dia, vão desenvolvendo a própria identidade fundamentada no nome, da mesma forma os personagens são construídos a partir do nome que recebem do autor. A cada etapa da história, que seja vivida ou narrada, o nome vai ganhando valor pela sua representatividade decorrente dos registros que a pessoa e o personagem vão deixando nos contextos em que estão inseridos.

A força do nome é dinâmica e vai se transformando, daí a importância de cuidar da palavra que nos nomeia. É a dialética fundamental que nos faz ser o que somos a todos os instantes: pensamento, palavra e ação. 

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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