Uma viagem à Argentina

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Estivemos fora por 14 dias, mais especificamente na Argentina, seis dias em Buenos Aires e oito em Mendoza. Apesar dos problemas econômicos enfrentados por nossos vizinhos, a viagem foi muito agradável e acima de nossas expectativas. Não sei se por conta da inflação galopante e da certeza de que o turista brasileiro é muito bem-vindo, o tratamento dos “Hermanos” em relação a nós mudou em muito, para melhor. Da última vez que estive em Buenos Aires, como a economia era outra, os portenhos exibiam o famoso nariz em pé e deixavam flagrante o desprezo que tinham em relação ao Brasil. Agora são acolhedores e fazem de tudo para nos agradar.

A capital argentina está muito bem cuidada. É uma cidade limpa, muito mais segura do que o Rio de Janeiro, com pontos turísticos imperdíveis. Claro está que com a crise, a inflação atual está na casa dos 138%, muita gente mora nas ruas, mas os principais pontos de visitação estão sempre livres. Geralmente as pessoas ficam nas ruas transversais mais afastadas das principais avenidas. Se você conversar com os moradores, todos são unânimes em condenar Alberto Fernandez (parece nome de ator de dramalhão mexicano) e Cristina Kirchner, atuais presidente e vice-presidente do país, creditando a eles a catástrofe econômica que assola o país. Forçando um pouco mais a barra, detestam Luís Inácio e falam muito bem de Bolsonaro, assim como adoram o Messi e Maradona caiu no ostracismo.

Para os argentinos, o custo de vida está caro, pois a moeda local não vale nada. No período em que estivemos lá, com R$ 1 comprava-se 150 pesos e um dólar era equivalente a 750 pesos (para evitar problemas, só troque dinheiro em agências de câmbio indicada pelos hotéis ou agentes de turismo). Mas, para nós, que representamos 90% dos turistas que visitam a Argentina, a situação é muito favorável. Por exemplo eu, a Oneli, minha esposa, e o meu neto fomos almoçar em um restaurante de carnes, La Estancia, numa transversal da Avenida 9 de Julho. A parrilha que eu pedi dava para duas pessoas e custava 8.800 pesos (R$ 60). A Oneli não come carne e pediu uma massa a 4.500 pesos (R$ 30), duas taças de vinho custaram 2.200 pesos, cada (R$ 29). Total da brincadeira 17.700 pesos, equivalentes a R$ 118.

Mas, para o residente, como é o caso do meu neto que estuda medicina na capital argentina, as coisas são um pouco mais complicadas, pois o aluguel é cobrado em dólares, com reajustes de seis em seis meses; além disso, os preços dos produtos aumentam constantemente. Parece o Brasil da década de 1980 e meados da de 1990.

De Buenos Aires fomos para Mendoza, uma cidade encantadora e a capital do vinho argentino. É uma cidade maravilhosa, que me encheu os olhos. Na realidade ela é um oásis artificial, pois ali é uma área desértica que foi preparada para abrigar uma cidade. Mal comparando, o local lembra muito Brasília que também apresenta um clima de deserto. Para se ter uma ideia de como lá é seco, o índice pluviométrico da cidade é de 250mm por ano. Uma outra característica dela é ser uma área sujeita a terremotos. Um, datado de 1856, arrasou toda a região. Daí que Mendoza tem cinco praças que foram construídas com a finalidade de receber os habitantes assim que a terra começasse a tremer. São locais muito bonitos e com suas características como a da Independência que tem uma dança das águas muito interessante, além de um museu que guarda a bandeira do exército do General San Martin libertador do Chile, da Argentina e do Peru. Na da Espanha o piso é todo de cerâmica, tendo nas extremidades o brasão de cada departamento espanhol.

Lá também, para turistas o custo é muito acessível, um exemplo: fomos fazer uma visita às Altas Montanhas, que na realidade ficam próximas ao pico do Aconcagua, com os Andes ao fundo, todos com as suas neves eternas. Como lá é frio, foi nos sugerido  comprar blusa de lã. Tudo bem que estava na promoção, pois apesar da temperatura estar baixa, já era primavera, no entanto, cada blusa saiu a 3.300 pesos, R$ 22, cada. Visitamos também o local onde San Martin chegou em Mendoza, descendo pelos Andes, pois seu exército veio pela rota normal, mas, ele, temendo ser assassinado escolheu a mais difícil, mas mais protegida. Aliás, o General San Martin é reconhecido como herói nacional e as cidades argentinas têm praças e logradouros com o seu nome. Ao contrário de lá, aqui D. Pedro I, uma figura marcante por nos ter libertado de Portugal e nos ter legado a mais longeva constituição, é apenas um detalhe, só lembrado pelos seus casos extraconjugais. Um devasso para os republicanos.

Como não poderia deixar de ser, estivemos em quatro vinícolas, todas com direito à degustação e a uma olivícola, o local que se produz azeite. Nessa, não tinham olivais, pois as azeitonas eram compradas de um fornecedor. A população de Mendoza é muito mais acolhedora que a de Buenos Aires, mas isso é uma característica de vários países, pois no interior, de modo geral, a vida é mais tranquila.

Foi uma viagem muito boa e esperamos repetir apesar de que, se o candidato Milei for eleito como novo presidente do país, ele promete fazer várias mudanças na economia, inclusive com uma dolarização do país. Creio que faria um plano real argentino; aliás ele está na frente dos outros candidatos, nas prévias pré-eleitorais. O segundo colocado é o atual ministro da economia e promete colocar as finanças em dia. É um gozador.

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