Salman Rushdie escapa de atentado nos EUA

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

A tentativa de assassinato da qual foi vítima Salman Rushdie (um ensaísta e autor de ficção britânico de origem muçulmana indiana) relembra aqueles que parecem esquecer que as liberdades fundamentais de uma sociedade moderna, como o criar e se exprimir, são constantemente ameaçadas mundo afora, pelas ideologias totalitárias. Aliás, Rushdie foi jurado de morte pelo, já falecido, aiatolá Khomeini, em função do seu livro Versos Satânicos, considerado ofensivo ao Islã. Não podemos nos esquecer de que as regras propagadas pelo Islã são verdadeiramente totalitárias, quando tolhem a liberdade de expressão, de se vestir, além de serem misóginas, pois colocam as mulheres num estado de inferioridade em relação aos homens, a quem devem respeito absoluto, impedidas de frequentar a universidade. Isso em pleno século 21.

Essas ideologias odiosas e desprezíveis a respeito dessas liberdades repousam sobre teorias políticas ou religiosas cuja legitimidade autoproclamada levanta perguntas. O caso de Salman Rushdie suscita a questão sobre o processo religioso e sagrado no mundo atual. Se a liberdade de consciência dá a cada um o direito de pensar o que ele quer sobre a origem do mundo e sua criação, as verdades reveladas pelas religiões não podem impor seus preceitos à sociedade como um todo. No entanto, nós constatamos depois de muitos anos que as práticas religiosas se tornam cada vez mais agressivas e autoritárias, quando não são ameaçadoras. Essa postura atenta seriamente contra os equilíbrios sutis das sociedades democráticas e instala um clima de insegurança, intimidação e de violência que não é mais aceitável.

Todo discurso crítico com relação aos dogmas religiosos, mesmo os mais leves, cai imediatamente sob o golpe das ameaças de morte e os cidadãos temendo por suas vidas, preferem renunciar a liberdade de exprimir sua discordância. Essa renúncia, em função da violência, se refere também ao mundo das artes e da criação que é mais rico que o das letras, pois lida com imagens e objetos, daí a preferência em abordar outros caminhos menos mortais. Ninguém ousaria hoje publicar “Os Versos Satânicos” em função do que aconteceu com seu autor.

Felizmente, dois dias após ser atacado com golpes de faca por um jovem americano de origem libanesa, quando dava uma conferência ao norte dos Estados Unidos, Rushdie está em fase de recuperação, mesmo se ele permanece em estado grave, de acordo com seu agente Andrew Wylie. Este afirmou ainda, num comunicado ao jornal Washington Post, que ele não está mais entubado e os ferimentos, apesar de graves, evoluem de modo favorável. Nada foi mencionado quanto a possível perda da visão num dos olhos e aos movimentos de um dos braços, cujos nervos foram atingidos pela faca.

No Brasil a postura de determinados membros do STF pode ser encarada como uma intimidação pesada quanto à liberdade de expressão. A prisão de deputados e de pessoas que se mostram contrárias aos desmandos da Suprema Corte, no famoso inquérito das fake news, nada mais é do que uma maneira pesada de calar as críticas que a sociedade faz, hoje, ao STF. É preciso que tenhamos uma atitude firme contra esses abusos da liberdade de expressão, pois essa mordaça que se tenta impor à sociedade é um ato antidemocrático por excelência. O engraçado que essas mesmas “autoridades” que tanto clamam pala democracia, são as que mais a apunhalam.

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