Quem foi o melhor prefeito de Nova Friburgo?

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Com a proximidade da eleição do novo prefeito de Nova Friburgo, cabe neste momento uma reflexão sobre quem teria sido o melhor gestor público na história política do município. Como a Câmara Municipal exercia no passado a função executiva, a primeira eleição para prefeito em Nova Friburgo ocorreu somente em 1916, sendo eleito Everard Barreto de Andrade. Muitos prefeitos eleitos e interventores passaram pela administração do município e,  na minha opinião, quem mais se destacou como modelo de gestão pública foi César Guinle (1911-1989).

César era engenheiro e tinha domicílio na chácara do chalet, no Parque São Clemente, que hoje pertence ao Nova Friburgo Country Clube. O seu pai, Eduardo Guinle, adquirira esta propriedade dos descendentes do notório Barão de Nova Friburgo para veranear com a família. A chácara do chalet era uma propriedade produtiva e vendia produtos de granja como flores, frutos, mudas, legumes, animais, ovos, peixes, adubos, madeiras e plantas diversas. A empresa de César Guinle, denominada Parque São Clemente, fabricava material de construção como telhas, tijolos, lajotas, manilhas etc.

Em dado momento, os Guinle foram uma das famílias mais ricas do Brasil. Eduardo Guinle construiu o belíssimo palacete no Rio de Janeiro que é hoje a residência oficial do governador do estado. Porém, César Guinle era de uma geração em que a fortuna da família já não era tão expressiva. César Guinle foi praticamente conduzido por um grupo de políticos locais para disputar o pleito municipal, tendo sido eleito prefeito com a votação de mais da metade da população. Em sua gestão no executivo (1947-1951) promoveu grandes avanços em Nova Friburgo na infraestrutura, nos serviços e na educação.

Guinle seria o novo na velha política friburguense representada por Galiano das Neves Junior, Galdino do Vale Filho e Dante Laginestra. Guinle teve foco em ações estruturantes e a sua primeira empreitada foi a questão energética. A energia elétrica era monopólio da família Arp, que direcionava boa parte da capacidade produtiva das usinas Hans e do Catete para as indústrias têxteis, não podendo em razão disto prover muitos bairros e distritos. Apenas com a finalização da usina de Macabu poderia suprir todo o município com energia elétrica. Guinle não quis esperar e pressionou a empresa Arp a aproveitar a queda d’água do Pinel para fornecer mais energia ao município.

Segundo ele, “os Arp foram alertados para o fato de o povo se revoltar e depredar as instalações da usina e mais, quebrar as fábricas que pertencem ao próprio grupo da companhia. A prefeitura dificilmente teria condições de impedir esse quebra-quebra.” Nos parece que Guinle se referia ao movimento popular que ficou conhecido como “quebra lampiões”, em que a população friburguense protestou contra a Câmara Municipal por criar obstáculos na concessão a Julius Arp de explorar a energia elétrica. A usina do Pinel ficou pronta juntamente com a de Macabu e a energia elétrica foi estendida a diversas localidades do município.

Outra medida estruturante de César Guinle foi a pavimentação de diversas vias  com a construção de estradas. Como empresário,  tinha ciência de que a comunicação era indispensável aos negócios. A companhia telefônica pertencia à família Sertã, sendo Raul Sertã o maior acionista. Porém, por não realizar investimentos, o serviço da empresa telefônica era extremamente precário e limitado.

Guinle, então, contratou o recém-imigrado Johannes Weidauer, aposentado da Siemens alemã e morador de Mury, para assessorá-lo na parte técnica e expandir este serviço. Houve resistência, pois Weidauer era alemão e a população friburguense vivia uma fase de animosidade em relação aos germanos em razão da Segunda Guerra Mundial. O momento era de tensão, tendo sido a Fábrica de Filó de Carl Ernst Otto Siems invadida por populares, o nome de Julius Arp retirado da Praça Payssandu e muitos outros incidentes. Mas César Guinle venceu essas resistências, já que Weidauer era indispensável como assessor técnico para a melhoria da telefonia.

Nova Friburgo, com o sistema de comunicação aprimorado, pôde desenvolver relações comerciais com outros municípios, estados e mesmo países. O prédio onde estava instalada a Uerj é um dos mais importantes patrimônios históricos de Nova Friburgo e atualmente se encontra deteriorado e sem destino. Inúmeros prefeitos e vereadores não conseguiram até hoje dar uma solução para aquele gigante adormecido que abrigou um dos mais importantes estabelecimentos de ensino do país. César Guinle também passou pela mesma situação.

Construído por particulares para ser um cassino, o Cassino Cascata, com a proibição do jogo de azar, este prédio em estilo normando se transformou em um elefante branco. Guinle, juntamente com auxiliares e educadores, a exemplo de Jamil El-Jaick, criou a Empresa Educacional Fluminense e negocia com a Fundação Getúlio Vargas para que entrassem com aporte de capital para a aquisição do Cassino Cascata e estabelecessem um colégio.

Guinle conseguiu até mesmo sensibilizar a população friburguense que, através de subscrição, contribuiu com recursos financeiros para a compra do prédio. Obtendo êxito na negociação, o Colégio Nova Friburgo seguiu os padrões do britânico Summerhill, colocando o município na vanguarda da educação. Como deputado estadual, Guinle tentou colocar Nova Friburgo como capital do estado fluminense no momento em que havia um movimento de interiorização do governo estadual. Mas não obteve votos suficientes. Como nos dias de hoje, o orçamento da prefeitura no passado era igualmente minguado, mas César Guinle, através de articulação com os empresários e o governo federal, conseguiu realizar os seus projetos e desenvolver o município.

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