A imigração alemã e seu legado

quinta-feira, 11 de março de 2021

No ano de 2024 a comunidade alemã de Nova Friburgo celebrará o bicentenário de sua imigração. Os alemães são os únicos que vieram para esta terra tanto na qualidade de colonos como de imigrantes. Antes é preciso entender o contexto da época. A Alemanha não era um país unificado na ocasião em que os germanos imigraram para Nova Friburgo, sendo originários de reinos, grão-ducados, ducados e principados. A unificação da Alemanha em Estado-nação ocorreu em 18 de janeiro de 1871.

Declarada a independência do Brasil em relação a Portugal, D. Pedro I fez uso de mercenários europeus na organização do Exército nacional. Como os países restringiam a emigração de ex-combatentes, as autoridades brasileiras cooptavam agricultores e artífices entre os soldados para dissimular a vinda de mercenários. O primeiro navio, o Argus, chegou ao Rio de Janeiro em 7 de janeiro de 1824, trazendo 134 colonos alemães e 150 soldados. Já o Caroline chegou em 14 de abril do mesmo ano com 180 colonos e 51 soldados.

Sob protestos 342 colonos alemães foram encaminhados para a vila de Nova Friburgo chegando aqui em 3 de maio de 1824. Estes colonos deveriam ocupar as terras abandonadas pelos suíços, ainda que muitas fossem impróprias à agricultura. Disse sob protestos pois tinham conhecimento de que as terras da colônia não eram boas para a atividade agrícola. Como não tinham escolha tomaram posse dos lotes de terra. No entanto, seguiram o mesmo destino dos colonos suíços. Alguns venderam ou abandonaram as suas glebas e seguiram para outras regiões. Os Schuenck se tornaram proprietários de muitas terras nas freguesias de São José do Ribeirão e de Sebastiana.

O melhor exemplo de prosperidade entre os alemães é o de Joseph Erthal. Trabalhou como ferreiro e isto lhe permitiu com suas economias adquirir uma propriedade agrícola onde hoje situam-se os municípios de Bom Jardim e Duas Barras, cultivando café. Atualmente a família Erthal é a maior produtora de café do Estado do Rio de Janeiro exportando esta commoditie para diversos países.

Alguns alemães que serviram como mercenários ao darem baixa no Exército Imperial imigraram para Nova Friburgo. Um deles é Friedrich Gustav Leuenroth, mercenário do Batalhão de Estrangeiros que inaugurou a primeira casa de banhos na vila e posteriormente o Hotel Leuenroth. O mestre cervejeiro Albano Beauclair estabeleceu em 1893 a fábrica de cerveja Beauclair em Nova Friburgo. Era neto do médico alemão Johann Adolpho Rouville de Beauclair que viera para o Brasil trabalhar em fazendas de Cantagalo, cuidando de escravos doentes. Cantagalo por ser muito mais próspero do que Nova Friburgo atraiu alemães como Jacob Gijsbert Paul Van Erven, que deu grande desenvolvimento às fazendas de café do Barão de Nova Friburgo. Em razão de seu conhecimento técnico se tornou sócio do barão em algumas fazendas.

Outro ilustre alemão foi Theodor Robert Peckolt, médico e botânico que imigrou para Cantagalo, em 1847. Industriais alemães dos ramos têxtil e metalúrgico como Peter Julius Ferdinand Arp, Maximilian Falck, Gustav Carl Siems e Hans Gaiser mudaram a história de Nova Friburgo transformando a pacata cidade de veraneio em um centro industrial. A detenção de navios germanos na Primeira Guerra Mundial redundou na prisão de centenas de alemães no Sanatório Naval de Nova Friburgo. Alguns foram cooptados pelas indústrias alemãs locais para trabalharem em suas fábricas recém instaladas a exemplo de Richard Hugo Otto Ihns, Johannes Robert Garlipp, Hermann Ostmann e Carl Otto Stern.

Os industriais do ramo têxtil utilizavam um maquinário extremamente complexo. Em razão disto muitos técnicos alemães foram contratados para montar e colocar as máquinas têxteis em funcionamento. Isto foi aumentando cada vez mais a presença de alemães em Nova Friburgo. Assim como os italianos se concentraram no bairro das Duas Pedras, os alemães escolheram Mury como moradia. Galdino do Valle Filho quase alterou o nome deste distrito para Germania tanto eram os alemães que ali residiam.

O estabelecimento das indústrias atraiu indivíduos de outros municípios para trabalhar nas fábricas e sítios do distrito agrícola de Conselheiro Paulino se transformaram em loteamentos para abrigar os novos moradores. Olaria teve o mesmo destino perdendo suas chácaras para dar lugar a residências dos operários. Outra influência dos alemães foi o montanhismo com a criação em 20 de julho de 1935 do Centro Excursionista Friburguense. Realizada a eleição do primeiro presidente, foi escolhido Friederich Von Veigl que deu nome a uma montanha na cidade.

O centro excursionista objetivava promover passeios, longas caminhadas e escaladas. Era o segundo clube de montanhismo do Brasil. Otto Siemens proprietário da fábrica de Filó foi um dos incentivadores do montanhismo. Assim como os suíços ganharam a obra de Martin Nicoulin, “A Gênese de Nova Friburgo”, e “Imigrantes”, de Henrique Bon para conhecer as suas origens, os alemães têm o benefício do blog do genealogista Cesar Raibert Valverde, que contém um rico material de pesquisa. Em 2024 teremos muito a celebrar sobre o legado do povo teutônico em Nova Friburgo.

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    Membro da família Cleff

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    Residência típica dos alemães em Friburgo

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    Os Erthal exportam café para diversos países

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