Histórias divertidas de velhos carnavais em Friburgo

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Um dos relatos mais divertidos que já li em minhas pesquisas no jornal O Friburguense foi a matéria “Polícia carnavalesca, soldados rolistas e maxixeiros. Durma-se com um barulho deste!” Trata-se do carnaval de fevereiro de 1901 quando a polícia transformou-se durante os três dias de folia em um verdadeiro pomo de discórdia. Segundo o jornal, a polícia foi uma ameaça constante ao pacato cidadão que “sofreu a macaca” quando procurava divertir-se durante os folguedos carnavalescos.

No primeiro dia de carnaval enquanto populares se divertiam no Beco do Arco (hoje Rua do Arco), soldados que se achavam em ronda naquela rua causaram grande distúrbio, pondo em completa debandada os mansos transeuntes e os inocentes assistentes. Ainda segundo o jornal, os praças transformando sabre em sardinha, a bambolear o corpo com gestos de capoeiragem e atitude agressiva ameaçavam a tudo e a todos, retirando-se os valentes somente quando o beco ficou deserto pela fuga precipitada do povo indefeso.

Além de diversos conflitos com a população durante o carnaval, no terceiro e último dia provocaram novo sarilho na sede da Sociedade Musical Estrela, na Rua General Osório, onde ocorria um baile de carnaval. O subdelegado e os soldados invadiram a sede e avançaram com ganância sobre a mesa de um botequim comendo todos os pastéis, beberam quanto quiseram, recusando-se a efetuar o pagamento do que haviam consumido. A seguir, embriagados, se retiraram para a sala do baile e tomaram a pulso parte nas danças.

Ao som de um tango choroso e mole os policiais dançaram um maxixe quebrado e dengoso, a folgar carnavalescamente. O subdelegado, esquecendo-se da posição de seu cargo, atirou-se num “choro gostoso”, gritando: “Não sou autoridade, não sou nada! Sou um homem como os demais!” Depois de quebrarem uma talha d´água, o subdelegado e os soldados em promíscua confusão e ao som de uma “habanera” deixaram a sede do clube.

Chegando à rua, com a voz esganiçada, falavam aos assustados transeuntes: “vocês nos conhecem? Nós somos os encarregados de velar pela segurança e tranquilidade pública!” Não obstante a violência da cena não deixa de ser jocoso o comportamento da polícia. Existem duas histórias muito divertidas sobre a quarta-feira de cinzas. O primeiro deles era o enterro do carnaval, manifestação popular ocorrida até 1960. O cortejo saía do bairro Ypu e percorria as ruas da cidade, encerrando os festejos do Momo. De roupas escuras o imigrante italiano Giuseppe Nicoliello presidia o evento anualmente. Foi proibida pela Diocese porque nos cortejos saía um indivíduo vestido de padre benzendo o caixão.

Outro evento divertido da quarta-feira de cinzas se refere aos indivíduos que eram presos no carnaval. Era uma prática permanecerem na cadeia durante os dias da folia. Em meados do século 20 a delegacia de polícia de Nova Friburgo parecia não ser muito frequentada já que podia dar-se ao luxo de tirar de circulação no carnaval os criadores de caso e baderneiros. Nesta ocasião a delegacia de polícia funcionava na avenida Comte Bittencourt em um belíssimo palacete que pertencera a Casa de Itália.

Na quarta-feira populares aguardavam ansiosos no entorno da delegacia a soltura dos foliões pois tinham curiosidade de saber quem fora pego na rede. Era uma algazarra só quando saía da delegacia, ainda fantasiado, algum conhecido. Vamos a mais histórias sobre os velhos carnavais.

De acordo com Luiz Zulmar que faz parte da diretoria da Vilage, nos anos de 1960 as escolas de samba saíam às ruas cercadas por uma corda e por isto passaram a ser chamadas de cordões. Isto para que os populares não se misturassem aos componentes das escolas atrapalhando o desfile. Nesta ocasião os componentes variavam entre 100 a 150 pessoas. Nos desfiles as escolas de samba circulavam pelas ruas passando pela praça Getúlio Vargas e Rua Dante Laginestra e seguiam para a Alberto Braune. No meio desta avenida havia um palanque. Os componentes das escolas subiam uma rampa e ficavam no palanque por algum tempo. Era o ponto alto do desfile. Desfilavam durantes dois dias, no domingo e na terça-feira.

Os instrumentos eram de latão fornecido pela fábrica de carbureto, resto de couro cedido pelo curtume das Duas Pedras e com couro de gato confeccionavam o tamborim, algo chocante nos dias de hoje. Já que o artigo é sobre memória recordo-me de Rubem Sérgio Venezia. Para quem não o conhece foi um carnavalesco apaixonado pelo carnaval. Venezia faleceu precocemente quando estava prestes a publicar um livro que reunia os sambas enredo de todas as escolas de samba, desde o ano de 1955, quando surgiu pela primeira vez. É certo que faltavam alguns sambas, mas muito poucos e não comprometeria a importante coletânea de seu hercúleo trabalho de pesquisa.

O livro tinha como título “De Dom João ao dom de sambar: os batuques do Morro Queimado”. Desejo que um dia seja publicada esta obra posto que servirá como importante fonte para os pesquisadores de história cultural e deleite para a população friburguense.

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    Prazer da Mocidade, da Campesina

  • Foto da galeria

    Enterro do carnaval, ano de 1960

  • Foto da galeria

    Alunos do Samba, década de 1950

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