Fazenda São Clemente (Última parte)

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Centenário de aquisição pelo clã Monnerat

No coluna da semana passada vimos que a Fazenda São Clemente, unidade de produção de café, pertencera a Francisco Clemente Pinto. Como não conseguia pagar um empréstimo hipotecário, ele perdeu a fazenda para o banco, arrematada pelo coronel José Affonso Fontainha Sobrinho. Antônio Clemente Pinto, filho homônimo do 1º barão de Nova Friburgo escolheu como título nobiliárquico o nome da fazenda do avô materno, o alferes João Clemente Pinto e onde nascera sua mãe Laura Clementina da Silva Pinto, a futura 1ª baronesa de Nova Friburgo. Por conseguinte, Antônio Clemente Pinto tornou-se o barão de São Clemente em 3 de junho de 1863, visconde de São Clemente em 1882 e conde de São Clemente no ano de 1888. Daí o nome Parque São Clemente, em Nova Friburgo, outrora propriedade dessa família.

Dando continuidade à sucessão da Fazenda São Clemente, a propriedade passou dos Fontainha ao clã dos Monnerat. O patriarca desta família foi o colono suíço François Xavier Monnerat, casado com Elizabeth Koller com quem teve sete filhos. No ano de 1837, apenas 17 anos após a sua chegada à Vila de Nova Friburgo, há o registro dos Monnerat adquirindo terras em Cantagalo, a Fazenda Rancharia do Norte, uma propriedade de 400 alqueires.

Em 6 de julho 1920, o coronel João Henrique Monnerat, casado com Maria da Veiga Monnerat adquiriu a Fazenda São Clemente do coronel José Affonso Fontainha Sobrinho, por meio  de permuta com a Fazenda Paraíso, localizada no município de Sapucaia. Foi para essa mesma região que o colono suíço Anton Ignaz Leimgruber se estabeleceu como lavrador, se dedicando ao cultivo de café na Fazenda Santo Antônio de Sapucaia. Essa localidade foi freguesia de Nova Friburgo até o ano de 1847, quando então foi incorporada ao município de Magé.

Após o falecimento de Maria da Veiga Monnerat, em 1924, a Fazenda São Clemente ficou em condomínio entre o viúvo meeiro e os filhos herdeiros. Com o decorrer dos anos, a São Clemente teve como únicos proprietários Carlos Catulino Monnerat e sua esposa Adelaide da Silva Monnerat. Com o falecimento de ambos, o filho do casal Carlos Lincoln Monnerat e seus irmãos adquiriram, em 1986, por sucessão hereditária, a Fazenda São Clemente. Finalmente, em 4 de abril de 1990, Marcello Cardoso Monnerat, atual proprietário recebeu de seus pais Carlos Lincoln Monnerat e Maria José Cardoso Monnerat, por meio de doação, o respectivo quinhão de sua herança.

Marcello Monnerat, bisneto do coronel João Henrique Monnerat comprou dos demais herdeiros as partes que estavam em condomínio. Posteriormente, foram reincorporadas glebas originárias do complexo cafeeiro da Fazenda São Clemente. Cumpre destacar que essa propriedade não tem a dimensão originária de 700 alqueires, como no século 19.

Outros bisnetos do coronel Monnerat mantêm propriedades desmembradas da Fazenda São Clemente. Marcello Monnerat restaurou a casa palacete da Fazenda São Clemente, em estilo eclético com elementos neoclássicos, assim como a Capela São Clemente, a casa para laticínios, o pombal, o laboratório, a cocheira e o prédio da administração e de serviços. Segundo ele, todo o processo de restauração da casa palacete e das demais benfeitorias foi bastante criterioso. Foi levado em consideração não somente a descrição oral e escrita fornecida pelo seu pai Carlos Lincoln Monnerat, mas também iconografias e notadamente foram observadas as valiosas informações contidas na grande tela à óleo, pintada por Henry Walder, em 1895, ilustrando vários aspectos da sede da Fazenda São Clemente.

O mobiliário com peças de diversos estilos tais como Império, Luís XV, Luís XVI e o barroco mineiro foi igualmente restaurado com técnica e apuro. Tive o privilégio de conhecer a Fazenda São Clemente, localizada em Boa Sorte, 5º distrito do município de Cantagalo. Além das belíssimas instalações me chamou a atenção o pomar-parque. Originalmente foi um imenso jardim eclético, semelhante aos jardins ingleses e que abrigava uma coleção preciosa de orquídeas, uma moda à época entre aristocratas e burgueses ingleses. Possivelmente foi concebido pelo paisagista Auguste François Marie Glaziou, que servia a Imperador D. Pedro II.

Arecas, sagus, mangueiras, dentre outras espécies circundam a propriedade. Algumas palmeiras imperiais remanescentes atravessam o pomar-parque. Marcello Monnerat deu a boa notícia que se ocupa da restauração do pomar-parque tendo como referência a tela à óleo acima citada. A família Monnerat não é o único exemplo de descendentes de colonos suíços que se tornaram proprietários das fazendas dos barões do café falidos do Vale do Paraíba fluminense. No entanto, uma propriedade na mesma família há 100 anos é um caso excepcional e que denota respeito e afetividade à história familiar. (Fonte: Marcello Cardoso Monnerat)

  • Foto da galeria

    Coronel João Henrique Monnerat e família (Acervo Marcello Monnerat)

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    Escritura de permuta da Fazenda São Clemente pela Fazenda Paraiso (Acervo Marcello Monnerat)

  • Foto da galeria

    Fazenda São Clemente. Tela à óleo de Henry Walder, 1895 (Acervo Marcello Monnerat)

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