O sistema “criptofinanceiro” pode colapsar?

Gabriel Alves

Educação Financeira

Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

“Os anos passam, as tecnologias mudam e até o dinheiro se transforma. Este, por sua vez, é apenas um meio de troca; uma ferramenta para possibilitar negociações em diferentes mercados.” Este trecho marcou o início de outro texto meu – publicado nessa coluna em 12 de fevereiro de 2021. Naquele dia, o bitcoin custava US$ 47.558,34; hoje, não muito tempo depois, enquanto escrevi este texto no dia 24 de novembro de 2022, a cotação da criptomoeda abriu o dia em US$ 16.681,29 e quem comprou o ativo em 11 de setembro do ano passado (em seu preço histórico máximo) por US$ 67.130,05 já perdeu 75% do capital. Equivale ao investimento de US$ 10.000,00 se tornar apenas US$ 2.484,92.

Estou usando cotações em dólar pelo simples motivo de ser um ativo global e, assim como as commodities, por exemplo, também são usados os valores em dólar. Mas este é apenas um detalhe. Afinal, o objeto de estudo neste espaço hoje não é a cotação do ativo, muito menos a moeda a ser usada na cotação. Agora eu volto a falar do mesmo tema abordado pelo texto que sucedeu a mesma introdução de hoje: a questão regulatória.

O mercado de criptoativos está em plena expansão de moedas, tokens, exchanges e tudo o que engloba o novo setor. O grande ponto é: será que o bitcoin, a raiz de tudo o que surgiu depois, foi criado para ser investimento? A princípio, seu uso deveria ser direcionado aos sistemas de troca. Apenas uma moeda descentralizada podendo se tornar, também, proteção caso o projeto encontrasse êxito. Conhece alguém que compre dólar ou euro esperando valorização de milhares de pontos percentuais, como acontece em criptos? Não, porque não é o objetivo de operações com moedas.

Contudo, dada a alta demanda pelo novo mercado, a especulação financeira passou a fazer parte das possibilidades promovidas pelas criptomoedas. O resultado da ascensão exponencial num curto espaço de tempo foi a abertura de brechas para golpes financeiros e sistemas incapazes de manter garantias reais a seus (agora não só usuários participantes) investidores. É o que vem acontecendo ao redor do mundo e desta vez não vou me prender a pirâmides financeiras como ocorreu no Brasil a exemplo de GAS Colsultoria Bitcoin.

Nos Estados Unidos, a plataforma de negociações FTX declarou falência no dia 11 deste mês e deixou mais de um milhão de investidores desamparados. A corretora em questão chegou a alcançar o patamar de segunda maior exchange de criptoativos do mundo e isso não a impediu de ser uma empresa mal governada e sem lastro para suas operações. No início de novembro, o portal CoinDesk – veículo internacional de notícias, especializado em moedas digitais – fez a revelação de que a empresa Alameda Research, ligada a FTX, tinha seu balanço patrimonial composto, principalmente, por ativos sem liquidez. Não era dólar, nem euro, nem ouro... eram outros criptoativos e garantia nenhuma de lastro financeiro para suas atividades.

Assim como os bancos têm atividades interligadas – porém reguladas a fim de evitar riscos desnecessários –, estas corretoras de criptomoedas também possuem correlação e há a possibilidade de outras também declararem falência daqui em diante, deixando outras milhares (ou até milhões) de pessoas desamparadas.

Não estamos debatendo se a cotação é justa ou não, se a tese das criptomoedas é funcional ou não e nem mesmo a qualidade dos ativos. Aqui, agora, a crítica é sobre o sistema. Será que o sistema “criptofinanceiro” (acabei de inventar o termo e, por isso, as aspas) tem maturidade e capacidade de gerir, custodiar e desenvolver produtos com a segurança necessária para evitar um possível colapso? Só o tempo vai nos mostrar a resposta.

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