Deflação? Comer continua sendo caro...

Gabriel Alves

Educação Financeira

Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.

sexta-feira, 02 de setembro de 2022

Em tempos de deflação, a comida não para de ficar mais cara. Esta semana, a FGV (Fundação Getúlio Vargas) divulgou o resultado do IGP-M de agosto. O resultado, deflação de 0,70% para o período. Para o IPCA, índice oficial de inflação medido pelo IBGE, o mês de julho também foi deflacionário e foi calculado em -0,68% - puxado pelo recorde de deflação com o grupo de Transportes, -4,51%. Ainda assim, enquanto isso, a alimentação – o consumo mais básico – está cada vez menos acessível.

Antes de começarmos nossa conversa sobre o assunto, precisamos voltar um pouco e entender o que são estes índices e quais são suas utilidades. Basicamente, ambos consideram cestas de produtos e serviços comumente utilizados por grande parte da população; quando aplicados numa fórmula, o resultado da medida de inflação. Mas vamos as diferenças.

IGP-M: medido pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, o indicador apura informações sobre a variação de preços entre os dias 21 e 20 do mês da coleta. De acordo com a própria instituição, o índice “é utilizado amplamente na fórmula paramétrica de reajuste de tarifas públicas (energia e telefonia), em contratos de aluguéis e em contratos de prestação de serviços.

IPCA: sob responsabilidade do IBGE, o Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor é quem produz o indicador. Medido em meses fechados, do dia 1º ao 30 do mês de referência, o IPCA busca englobar resultados relevantes para famílias com rendimentos de um a 40 salários mínimos.

Contudo, o ponto onde quero chegar precisa destrinchar este assunto e encarar os detalhes individuais do que é medido. Para isso, vamos usar, daqui em diante, apenas o IPCA a partir de agosto de 1999 – mês em que todos os nove componentes do índice passaram a ser medidos simultaneamente.

Numa análise simples de todos estes componentes, o segmento Alimentação e Bebidas lidera os números somando 174,8% de inflação; no mês com a maior inflação do grupo, o índice aferiu 5,85% em novembro de 2002. Pode parecer pouco para quem vivenciou na pele (e no bolso) os tempos de inflação dos anos 80-90, mas é extremamente relevante para economias maduras.

Todavia, a essa altura você pode estar se perguntando: “e por que alimentos?”

Já parou para refletir sobre as extensas cadeias de produção e distribuição de alimentos? Se considerarmos que muitas vezes precisamos cotar em dólares os insumos primários para as cadeias de produção de alimentos, podemos encontrar uma justificativa. A soja, utilizada para a produção de ração animal e o petróleo, para viabilizar combustível para distribuição – ambos comercializados em dólar – podem ser bons exemplos para exercitar a compreensão do cenário. Mas, ainda assim, será que essa justificativa pode ser considerada a verdadeira resposta para um problema social?

Falar e compreender inflação, é fundamental para cobrar e promover políticas públicas. Já que o assunto te interessa (partindo deste princípio, já que está lendo esta coluna), estude. Só o estudo nos proporciona as melhores ferramentas para encontrar as mais assertivas respostas.

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