Conversa sobre a realidade - Parte 1

Gabriel Alves

Educação Financeira

Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.

sexta-feira, 02 de julho de 2021

Confesso que me faltou um pouco de criatividade ao definir o título da coluna desta semana. Ainda mais tratando-se de um texto comemorativo... podia ter sido melhor, mas até gostei da brincadeira! Afinal, ontem, 1º, o real completou seus 27 anos de idade. São quase três décadas de circulação da nossa moeda e é algo a ser comemorado, pois à época ninguém poderia imaginar tal realidade: os últimos 50 anos da nossa economia foram marcados por seis diferentes moedas em períodos distintos neste intervalo. É uma vitória da nossa história econômica recente, mas quais foram as mudanças observadas? Amadurecemos economicamente? O que dizem os números?

Ah – peço licença para a linguagem cotidiana e para uma observação –, 27 anos de circulação do real me faz lembrar outro motivo de comemoração: hoje também faz dois anos que escrevo neste jornal. A convite de Adriana Ventura, diretora de A VOZ DA SERRA, escrevi um artigo sobre os 25 anos do real e em julho de 2019, no Caderno Z, meu texto foi publicado pela primeira vez por aqui. Enfim, sejamos gratos por nossas conquistas; me faz bem estar por aqui com vocês, leitores. Obrigado!

Bom, chegou a hora do nosso estudo? Pois vamos, então, aos nossos parâmetros adotados.

Poder de compra

Em 1994, 1 real era a medida equivalente a 1 dólar; isso promovia bastante estímulo para o consumo de bens e serviços estrangeiros, mas o estudo do poder de compra não para por aqui. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em julho de 1994, o preço da cesta básica no Estado do Rio de Janeiro custava R$ 66,22. Parece algo interessante para quem não entende as interferências da inflação, mas à época o salário mínimo nacional fora definido em R$ 64,79. Já imaginou (ou se lembra como era) ter um salário mínimo que não sustenta uma única cesta básica?

Primeira conclusão? Hoje, como consumidores, temos muito menos espaço no mercado internacional, mas no mercado interno nosso poder de compra é consideravelmente mais relevante: em maio de 2021, a cesta básica calculada pelo mesmo departamento custava R$ 622,76 e o salário mínimo nacional está fixado em R$1.100.

Juros e inflação

Aqui, não posso me dar ao luxo de desperdiçar espaço para explicar o que é e como a taxa básica de juros interfere na economia. Portanto, vamos direto aos números. Em julho de 1994, a taxa Selic anualizada estava em 131,03% a.a., valor que logo passara por grande reajuste e, em agosto do mesmo ano, caiu para 56,46% a.a.. A inflação ainda era bastante selvagem e nossos juros voláteis. O que vemos hoje com taxas de juros fixadas por um período razoável de tempo era inimaginável à época. Hoje, portanto, temos uma Selic fixada em 4,25% a.a. e uma taxa anualizada, em junho de 2021, de 3,76% a.a..

Sem entrar no mérito do debate sobre as políticas monetárias que chegaram a levar a Selic anualizada para o patamar de 1,90% a.a. em setembro de 2020, hoje vivemos numa economia de inflação (apesar dos contragolpes de acontecimentos de extrema relevância que elevaram essa medida) mais sob controle. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é a medida oficial de inflação no Brasil, e durante o primeiro mês da circulação do real no dia a dia da população brasileira o índice foi calculado em 6,84%, fechando os primeiros 12 meses do real em exatos 29%. Hoje, portanto, vimos a inflação do mês de maio chegar a 0,83% e os últimos 12 meses somarem 7,78%.

Continua na próxima semana...

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