Uma doença chamada alcoolismo

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Nada começa do dia para noite, começa-se aos poucos. De cerveja em cerveja, de vodka em vodka, de cachaça em cachaça e esse processo por vezes dura anos. Mas o que era recreativo acabou por virar rotina: todo dia, à noite, na saída do trabalho, que seja. Quando se percebe, bebeu os sete dias da semana e contente, se orgulha. E depois, os 30 dias do mês. E no bambear das nossas vidas, silenciosamente, o prazer vira uma necessidade, um vício. Pois bem, este é o alcoolismo.

A primeira fase é a ‘adaptação’: nesse momento, o álcool serve de muleta para facilitar o contato social e diminuir as tristezas e ansiedades da vida. A segunda fase é a ‘tolerância: beber muito, não se embriagar e no outro dia, conseguir facilmente ingerir álcool aos montes sem qualquer problema, mesmo com apagões frequentes do que aconteceu na noite anterior. A terceira fase é a ‘sindrome de abstinência’: nessa situação, a doença já está instalada e o álcool é mais que uma válvula de escape, é necessidade que deteriora o físico, o mental, o social, agrava os tremores, os rostos incham e começa a dependência.

A normalização dessa cultura é perigosa e tem trazido efeitos graves à sociedade. De acordo com o IBGE, em 2019, pelo menos 63% dos estudantes, menores de idade, já tinham tido contato precocemente bebidas etílicas. Fato é, que outras pesquisas são unanimes: quanto mais cedo o contato com o álcool, mais a chance de dependência aumenta, especialmente entre as mulheres.

Foi pelo o que passou Paloma – que terá um nome fictício para preservação de sua identidade – que é alcoólica em recuperação e hoje, trabalha ativamente como membro do Alcoólicos Anônimos, explica que passou por momentos difíceis até ser acolhida pela instituição, a qual tem um amor sem igual.

“A gente aprende a conviver socialmente com a bebida, especialmente dentro de casa. Comecei como tudo mundo: numa sexta-feira, depois em um fim de semana inteiro, depois era todo dia. Eu mesmo não percebia, mas comemorava minhas vitórias com o álcool e afogava minhas tristezas na bebida. De manhã, de tarde e de noite, e o pior de tudo, eu não percebia. Uma vez fui à um médico, disse que bebia todo o dia e ele me disse que eu era alcoólatra: saí de lá chateada por ele ter me chamado assim, mas só mais tarde fui entender que precisava de ajuda”, explicou Paloma.

E como já testemunhou a cantora Rita Lee em algumas de suas entrevistas: “O álcool é a droga mais difícil de todas de se largar”. Compreensível, afinal é uma verdadeira febre social que nunca sai de moda. Está nos estádios de futebol, na pelada com os amigos, nas mesas de entrevistas dos jogadores profissionais para a televisão, nos patrocínios dos eventos, nas praças, nos bares em cada esquina, nas padarias, nas baladas, no after, em casa, no churrasco da família, na propaganda da televisão, estampado na gôndola de promoções do mercado e nas ligações incessantes dos amigos que te incentivam a beber.

“Foram momentos muito difíceis. É você vê sua vida falindo aos poucos, não só materialmente, mas amorosa, social e espiritualmente. No começo, eu não sabia como procurar ajuda, até que há dez anos, encontrei o Alcoólicos Anônimos, onde fui abraçada, consolada, amadrinhada, amparada, incentivada e esclarecida de que a minha doença é incurável, progressiva e até fatal”, conta Paloma.

Hoje, a instituição para reabilitação tem um importante papel social e relevância a nível mundial, sendo responsável pela recuperação de diversas pessoas e pela mudança de vidas. O seu único requisito para ser membro do A.A. é ter o desejo de parar de beber. Não existem taxas ou mensalidades, a instituição é autossuficiente, graças às contribuições voluntárias dos membros.

O A.A de Nova Friburgo nesse domingo, 21, comemora os seus 70 anos em um evento realizado no Sindicato do Têxteis, às 9h, na Rua Augusto Spinelli, 84, Centro. Alcoolismo é uma doença séria e caso você precise de ajuda, não hesite em buscar ajuda. O telefone da instituição é 22 - 99810 2886

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