Precisamos de um plano contra a dengue

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Já não é de hoje que o Aedes Aegypti causa transtornos na vida dos brasileiros. O conhecido mosquito das “patas pintadas”, originário da África, carrega o apelido de “odioso do Egito”. Bem provavelmente, espalhou-se pelo mundo em meio ao comércio que percorriam toda a costa do Atlântico, e de lá para cá, tornou-se uma das espécies exóticas invasoras de difícil controle biológico.

O mosquito, que originalmente, era selvagem, logo se adaptou às nossas cidades e ao ambiente humano. Nos depósitos de água parada, deixados e esquecidos por todos nós, tornaram-se o local perfeito para procriação da espécie. E o nosso sangue, com a pele levemente descoberta por pelos, passou a ser seu alimento principal.

E assim, o pequeno mosquito listrado de poucos centímetros, aos poucos foi se tornando uma das espécies invasoras que mais causam preocupações em países de clima tropical, por ser um conhecido vetor de doenças como zika, chikungunya, febre amarela e nossa “antiga conhecida”, a dengue.

 

Crise sanitária: epidemia

Apesar de ser um pequeno mosquito, os problemas causados pelas doenças podem ser enormes. Desde a ocorrência de pequenas pintinhas vermelhas no corpo, à casos de microcefalia em bebês durante a gestação, e até o óbito de um humano adulto devido a hemorragias e febres.

O cenário, que nunca foi dos melhores, parece ser preocupante no presente momento. A previsão menos otimista é de que, neste ano, o Brasil tenha 4,2 milhões de casos de dengue – o dobro do que foi registrado em 2023, quando o número de casos já foi desafiador. Estamos diante de algo nunca vimos antes.

Nesta quarta-feira, 21, o governador Cláudio Castro (PL) anunciou que o Estado do Rio de Janeiro passa por uma epidemia de dengue. O número de casos – quase 50 mil, desde o início do ano - é 20 vezes maior do que esperado no período pela Secretaria estadual de Saúde.

 

Vacinas: não em Nova Friburgo

Após décadas de pesquisa, o que sempre soou improvável, aconteceu: uma vacina contra a dengue, que pode ser aplicada amplamente na população e que foi aprovada pelos órgãos de vigilância. Para muitos, a notícia veio como um alívio, contudo, a realidade se desprende dos nossos sonhos.

O Ministério da Saúde confirmou que pelo Sistema Único de Saúde (SUS) serão vacinadas crianças e adolescentes de 10 a 14 anos - faixa etária que concentra maior número de hospitalizações por dengue. Os números mostram que, de 2019 a 2023, o grupo respondeu por 16,4 mil hospitalizações, atrás apenas dos idosos - grupo para o qual a vacina não foi autorizada.

Em alguns municípios, a vacinação foi incorporada ao SUS, e algumas pessoas já conseguiram tomar as duas doses do imunizante. Por outro lado, a realidade de outros municípios ainda não é vista em Nova Friburgo, mesmo para as crianças.

No Estado do Rio de Janeiro, apenas 12 municípios, da Região Metropolitana e Baixada Fluminense, farão parte da campanha de imunização. Nova Friburgo e os demais municípios do interior fluminense não foram contemplados pelo programa, o que nos deixa, de certa forma, ainda mais vulneráveis.

Apesar de vivermos em um município com risco de proliferação do mosquito, somente aqueles que possuem dinheiro suficiente para pagar a vacina nos laboratórios particulares - sejam estes adultos ou crianças - conseguirão comprar as doses do imunizante. Deixando assim, a população mais carente, desamparada de ajuda do poder público.

 

Fumacês viraram fumaça

Entretanto, mesmo quando a vacinação avançar, não podemos deixar de eliminar o mosquito vetor. No entanto, as medidas tomadas pelo poder público não têm se mostrado eficazes na implantação de estratégias que funcionem para a prevenção. Até esta quarta-feira, 21, estão contabilizados 531 casos notificados, sendo 237 positivos e 294 negativos no município.

Quanto mais mosquitos têm voando em uma dada área, maior a chance de acontecer um encontro com uma pessoa infectada. Por consequência, mais insetos sobrevivem ao período de incubação do vírus em seu próprio corpo, e mais chance, então, de encontrarem alguém não infectado para picar.

Os famosos “fumacês”: os carros financiados pelos munícipios que eram responsáveis por borrifar inseticidas em locais críticos, desapareceram. Apesar da estratégia matar apenas os mosquitos voando, ainda sim, são uma solução paliativa contra uma doença que pode matar.

Não podemos esquecer dos criadouros, especialmente porque o mosquito causa outras doenças, como a zika e a chikungunya. Contudo, os “fumacês” parecem ter virado fumaça, o que pode contribuir para o aumento da doença na cidade. E infelizmente, não podemos nem dizer que foi por falta de dinheiro.

 

Também temos o nosso papel

Entretanto, também precisamos enxergar a nossa responsabilidade como sociedade. Como muitas pessoas não entendem a gravidade da doença, deixam o mosquito para lá. Mas, nem sempre a culpa é do vizinho e precisamos nos atentar também às nossas responsabilidades.

Por isso, a comunidade friburguense tem um papel enorme de não deixar água parada, tampar ralos e vedar as caixas d’água e cisternas. Não é cobrir, porque o mosquito acha um buraquinho para passar. Tem que vedar. Reduzir a população do mosquito ao máximo é o ponto principal para interromper a transmissão. E caso queira denunciar focos de dengue, ligue para: (22) 2543-6293.

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