Quaresma: nossa faxina anual e a Campanha da Fraternidade

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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A Quaresma é tempo de graça, revisão de vida e conversão que a Igreja anualmente nos oferece. Anselm Grün define a Quaresma como uma “faxina anual do corpo e da alma”. Trata-se, segundo ele, “de purificação, de uma limpeza geral da nossa casa, pensando em tudo o que podemos doar ou jogar fora”. Na faxina, além de se desfazer de tudo aquilo que nos atrapalha, temos a oportunidade de encontrar e reencontrar fatos e lembranças importantes que fizeram parte de nossa vida e ficaram esquecidas no tempo.

A Quaresma é um retiro que nos introduz nessa corajosa aventura de entrarmos em contato com nós mesmos, avaliando como está a nossa relação com Deus, com o próximo, com as coisas e bens. É um itinerário que permite reconhecer e acolher com sinceridade os próprios limites e pedir a Deus a força para superá-los de modo gradativo e constante. O convite para a faxina geral é uma ocasião para reorganizar a nossa casa, transformando-a num ambiente saudável, acolhedor, de contentamento e realização pessoal. Trata-se de renascer para uma vida nova, mais leve e simplificada.

Ambiente “limpo” é ambiente saudável. Saúde interior, espiritual e moral é também saúde física! Penso que esta casa seja a nossa vida interior, que define o nosso modo de ser e agir, e precisa de revisão anual, mensal, semanal e diária. Esta é a proposta de Cristo: entrar com ele no deserto, enfrentar as tentações e renascer para uma vida nova.

No Brasil, há décadas, o percurso quaresmal da Igreja Católica é acompanhado por um tema que favorece a reflexão e a conversão, proposto pela Campanha da Fraternidade. Como o próprio nome diz, trata-se de algo que favoreça a fraternidade entre os seres humanos, tendo consciência de que tudo o que fazemos por amor a Cristo e com amor, favorece e promove a vida do semelhante. Resgatar o conceito de fraternidade é um imperativo, sobretudo numa realidade marcada pela “tentação” da divisão, intolerância, desrespeito, individualismo e indiferença. Fraternidade significa viver como irmãos e irmãs, buscando a unidade na diversidade.

Hoje, mais do que antes, diante de tantas tensões e agressões, precisamos resgatar o conceito de fraternidade. Afinal, “somos todos irmãos” (Papa Francisco). Por essa razão, a Quaresma nos propõe três práticas: esmola, oração e jejum. Esmola ou caridade, diz respeito à relação com o próximo: família, colegas de trabalho, amigos, inimigos, os que pensam de modo diferente de nós, os pobres, vulneráveis e necessitados.

Já a oração acentua a importância de se ter uma constante e saudável relação com Deus, Senhor de nossa vida e de nossa história. O jejum procura melhorar a relação consigo mesmo, por meio de uma vida pautada pelo equilíbrio e temperança, sem excessos. Trata-se de um tripé que, quando bem vivenciado, oferece as condições para que sejamos melhores e cheguemos à festa da Páscoa com um coração renovado, mais humano e fraterno. É o que chamamos de conversão, mudança no modo de pensar, agir e ser.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade será ecumênica, com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. O objetivo geral é “um convite às comunidades de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade”.

Desejo a todos e todas um profícuo tempo de faxina quaresmal e desejo sincero de conversão, com respeito e vivência concreta do tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica: “Cristo é a nossa Paz”. Para que a Quaresma seja um tempo de graça (kairótico) é necessário que seja também um tempo kenótico (esvaziamento) de tudo o que prejudica o diálogo e a unidade. Com minha benção e gratidão, unidos no amor de Cristo,

Dom Luiz Antonio Lopes Ricci é bispo diocesano de Nova Friburgo. 

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