Natal na Certeza e incertezas, na Festa e nas dores

A Voz da Diocese

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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

“E a luz brilha nas trevas, e as trevas não a dominaram” (Jo 1,5).

Já se passaram nove meses do anúncio da pandemia em nosso país. Alguns dias depois celebramos a Anunciação do Senhor e agora nos preparamos para o Natal. Estávamos no tempo da Quaresma quando chegou o isolamento social. No início, pensávamos que seria por pouco tempo. Contudo, passamos os quatro Tempos Litúrgicos na pandemia e não obstante tanta dor, luto, incertezas e sofrimentos, permanecemos em pé, sustentados na certeza de que, Aquele que nasceu num contexto de vulnerabilidade, está Vivo, é o Senhor da vida e da história.

 Percorremos até aqui o tempo de uma gestação, durante o qual foram descobertas e testadas vacinas, que desejamos ver em breve disponíveis para toda a população. A vacina está chegando, porém, antes dela, chega Jesus que veio, vem e virá. A vacina imuniza contra o vírus. A Fé nos imuniza contra o desânimo, apesar da dor e cansaço diante de uma situação que se agrava e prolonga indefinidamente.  Nossas incertezas só encontram sentido na Certeza de que um Menino nos foi dado; Ele é o Príncipe da Paz; Deus conosco (cf. Is 9,5).

Dentro da manjedoura, com Jesus, estão as esperanças e alegrias, tristezas e angústias da humanidade. Natal é celebrar a Certeza do Amor de Deus nas incertezas da vida. “Deus amou tanto o mundo que enviou o seu Filho para nos salvar” (Jo 3,16). Por essa razão, trazemos a dor para dentro da Festa do Natal. É justamente a Festa que nos fortalece para enfrentar a dor, o luto, o cansaço e os sofrimentos decorrentes da pandemia e de tantos outros males persistentes em nossa sociedade. Sem a Festa a dor seria insuportável!

O Natal chegou num momento extremamente crítico. Sem a certeza de que Deus visitou o seu povo e permanece conosco, como enfrentaríamos esse dramático período? Diante da pandemia e da espera pela vacina, teremos que prolongar a gestação e adiar nosso parto, não o de Cristo. Ele nasce! Na verdade, estamos em contínua gestação no Útero de Deus, no qual não existe tempo cronológico, apenas Amor e Vida. Todo o tempo pandêmico está abrigado no tempo de Deus que pode criar, recriar e restaurar.

Recordemos que durante a gestação de Maria duas viagens foram realizadas: para servir Isabel e para se registrar com José. Logo após a Anunciação e o aceite generoso e corajoso da Vontade de Deus, Maria foi apressadamente servir sua prima gestante e idosa, numa longa viagem, atravessando desertos e montanhas. Também nós, no início da pandemia que coincide com a Anunciação do Senhor, não deixamos de ir ao encontro dos sofredores, pobres e vulneráveis, de diversas maneiras. 

Já perto do parto, Maria e José foram obrigados a se deslocarem para cumprir um Decreto do Imperador. Também nós, mesmo em gestação, somos “obrigados”, por respeito à vida e dever de consciência, ao distanciamento social e ao uso de máscara para evitar a proliferação do vírus.

Seguimos em nossa gestação, sem parto agendado, vivendo as incertezas na Certeza do Natal e do abraço do Menino Jesus que antecipa o abraço definitivo de Deus na Vida Eterna e os abraços tão esperados e reservados para o dia do nascimento. Prolongar a presença no Útero de Deus pode ser bom e necessário para maturar nossos pulmões e transformar o nosso coração, preparando-nos para o trabalho de parto.

Sabemos que tanto o parto pré-termo como o pós-termo podem colocar em risco a vida e causar o sofrimento fetal e materno. Contudo, na ótica da fé, o adiamento do parto, no contexto de dor, não é prejudicial, porque nossa gestação não se dá no tempo cronológico, mas no tempo kairótico (da Graça de Deus). Portanto, o parto não será pós-termo, mas na hora certa, no tempo de Deus.

Aguardemos com vigilância, coragem, paciência e perseverança. Enquanto em gestação, acolhemos agora Aquele que vem na hora certa e numa situação desfavorável, pois não havia lugar para eles (Lc 2,7). Nós, igualmente numa situação adversa, ainda que já sintamos suas dores, necessitamos aguardar o momento certo para nosso parto, pois Aquele que nasceu prepara para nós um parto humanizado e em melhores condições, para que renasçamos, após essa prolongada gestação, mais humanos e melhores.

A ocasião permite externar minha gratidão sincera a todos e todas que, de diversos modos, mesmo na pandemia, manifestaram-me acolhida, alegria e proximidade. Foram meses intensos de alegre convivência, aprendizado e crescimento. O balanço do ano que finda é positivo, porque, movidos pelo amor de Deus, somos capacitados para superar os obstáculos e situações adversas e com Maria, nossa Mãe Maior, cantar: “O Senhor fez em nós (e por meio de nós) maravilhas”! Vamos em frente, em pé, no olhar da fé!

"Dizei às pessoas deprimidas: Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é ele que vem para vos salvar" (Is 35,4).

Feliz Natal a todos e todas! Gratidão sempre!

Rezemos: Vem Senhor Jesus! Fica conosco Senhor! Ajude-me a ser mais santo e humano, mais humano e santo. Amém!

Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, bispo diocesano de Nova Friburgo

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