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Igreja Sinodal: missão de todos
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“Uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, consciente de que 'escutar é mais do que ouvir" (Evangelii Gaudium, 171)
O Concílio Vaticano II já apresenta de forma inovadora a Igreja, resgatando, na verdade a sua sinodalidade original, partindo não de sua hierarquia, mas de sua base, o conjunto do povo de Deus, em que todos gozam de igual dignidade e fundamental igualdade e vocação (Lumen Gentium, 30), estão capacitados a participar ativamente da missão evangelizadora da própria Igreja LG 9 e 10. Recebem um decreto próprio sobre o apostolado dos leigos (Apostolicam Actuositatem) que afirma existir a diversidade de ministérios na Igreja, mas unidade na missão (AA, 2), podendo os leigos e leigas por direito e por dever exercer seus carismas próprios (AA , 3). Essa eclesiologia conciliar é decisiva para a realização de uma Igreja sinodal.
A importância das Igrejas locais pelo significado pastoral da cultura local para a expressão e práticas da fé (Ad Gentes, 22) seja pelas formas e métodos adequados ao apostolado (Christus Dominus, 38), seja pela sua utilização na liturgia, de tal modo que a Igreja local seja realmente sujeito teológico e cultural da evangelização. Daí a necessidade de se aprofundarem as relações de colegialidade episcopal com o papa, a cabeça do colégio com sua autoridade petrina, conforme a revalorização feita pelo próprio Concílio (LG, 21-23). Enquanto membro do colégio episcopal, o bispo deve ter "solicitude pela Igreja universal", em comunhão com o Papa, exercendo de várias formas a corresponsabilidade no pastoreio da Igreja, na missão de ensinar, santificar e reger.
O Papa também retoma a metodologia da Gaudium et Spes, Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II, partindo da vida real, no diálogo com a cultura, a ciência, a experiência histórica: "É salutar prestar atenção à realidade concreta, porque os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história" (Amoris Laetitia,31). Igualmente insiste que se deve considerar a situação real de cada ser humano antes de proferir um juízo moral (EG, 44). Manifesta um profundo respeito à trajetória pessoal de cada fiel, sem lançar sobre ele as normas gerais, sem analisar a capacidade individual de cada pessoa em seu processo de vida, num acompanhamento caso a caso. A vida cristã é vista como um processo (EG, 166), " Um caminho de crescimento no amor" (EG, 161) que deve ser acompanhado e ajudado (EG, 169) dando tempo ao tempo (EG, 171) uma vez que Deus "não exige uma resposta completa, se ainda não percorremos o caminho que a torna possível" ( EG, 153)."É preciso evitar juízos que não levam em consideração a complexidade das diversas situações e é necessário prestar atenção ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa de sua condição" (AL, 296).
Dentro da perspectiva da eclesiologia do povo de Deus, com forte base bíblica enfatizada no Concílio Vaticano II, o Papa ressalta: Por se tratar de um povo incumbido de uma tarefa (EG, 114), "a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja" (EG,15). É uma Igreja "em saída" (EG, 20), sendo que todos os seus membros devem assumi-la pelo fato que todo "batizado, independentemente da própria função da Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização" (EG, 120). A missão pertence sem mais à identidade do cristão (EG, 273). Portanto, sujeito da evangelização é todo o "povo que peregrina para Deus" (EG, 111), sujeito coletivo ativo (EG, 122). Insiste na participação ativa de todos os fiéis em razão do Batismo (EG, 102), sobretudo a contribuição importante das mulheres para a comunidade eclesial (EG, 103).
No processo sinodal, o Papa Francisco valoriza as expressões populares de fé das comunidades: "Na piedade popular o protagonista é o próprio Espírito Santo" ( EG, 122); Há uma "manifestação teologal animada pela ação do Espírito Santo" abordado "com o olhar do Bom Pastor" (EG, 125); "Na piedade popular, por ser fruto do Evangelho inculturado, subjaz uma força ativamente evangelizadora que não podemos subestimar: seria ignorar a obra do Espírito Santo"( EG, 126). Constitui um verdadeiro lugar teológico (EG, 126), no protagonismo dos pobres e simples na sinodalidade da Igreja.
O Papa valoriza sobremaneira a ação do Espírito no povo simples, nos pobres: "têm muito a nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que nos deixemos evangelizar por eles" (EG,198). Apresenta o discernimento comum do caminhar juntos no Espírito: "Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede" (EG, 20). E alerta para o verdadeiro sentido da autoridade - servir a todos na comunidade eclesial missionária: "Não esqueçamos isto jamais! Para os discípulos de Jesus, hoje e sempre, a única autoridade é a autoridade do serviço; o único poder é o poder da cruz".
Repetindo as palavras de Jesus sobre a busca do poder e a opressão dos líderes do mundo, expressa: "Entre vós não deverá ser assim. À luz dessas palavras compreendemos o que significa o serviço hierárquico". Portanto, "na Igreja, as funções não justificam a superioridade de uns sobre os outros" (EG, 104).
E fala sobre as mentalidades de muitos agentes pastorais que podem se apresentar mais administradores que pastores (EG, 63) satisfeitos "com o pragmatismo cinzento da vida cotidiana da Igreja" (EG, 83), sujeitos a um "mundanismo espiritual" (EG, 93), numa "suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário" (EG, 94), que "se desdobra num funcionalismo empresarial" (EG, 95). Neste contexto, o clericalismo se torna um sério obstáculo para uma Igreja realmente sinodal. Mesmo aquele mais distorcido que tende a contaminar os próprios leigos.
Leiam, para um aprofundamento, o livro de base deste artigo: "Igreja Sinodal". Teologia do Papa Francisco, de Mário França Miranda, Paulinas.
Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo
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