Ensina-nos a rezar

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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.

terça-feira, 26 de julho de 2022

No último domingo, 24, ouvimos o pedido sincero dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Este clamor provindo de homens que conviviam diariamente com Jesus nos conduz a um lugar de reflexão tão importante nos tempos de hoje. Poderíamos pensar que este é um tema que se restringe apenas a uma religião específica. Contudo, aprendemos com o Papa Francisco que o ato da oração pertence a todos os homens de todas as religiões e até, de certo modo, àqueles que não professam religião alguma.

A oração não é uma ação exterior ao orante, mas é fruto de um mergulho profundo no interior de si, é um encontro com o “eu” sem máscaras, sem reserva. O Catecismo ensina que o seu lugar de nascimento é o coração (cf. CIC, 2562-2563). Deste modo, “as emoções rezam, mas não se pode dizer que a oração é unicamente emoção. A inteligência reza, mas rezar não é apenas um ato intelectual. O corpo reza, mas pode-se falar com Deus até na invalidez mais grave. Por conseguinte, é o homem todo que ora, se o seu ‘coração’ reza” (Papa Francisco, 13 mai. 2020).

Assim, a oração é fruto do encontro do ‘eu’ consigo mesmo que o conduz ao ‘tu’, ao “outro’. Um caminho que vai sendo construído/conquistado a cada passo, numa dinâmica constante de esvaziamento de si e quebra de pré-conceitos. Este itinerário que não pode ser calculado é conduzido apenas pela necessidade de realizar a essência de ser social.

Contudo, a cultura atual se traduz em uma sociedade onde a comunicação a cada dia se torna mais virtual, esvaziando a beleza do encontro. Esta realidade tem atingido inclusive a vida de oração. Hoje, somos levados a viver uma realidade puramente intimista, voltada apenas para a satisfação de nossas paixões e caprichos. Anula-se o comprometimento de crescer no conhecimento de si e do encontro.

O tríplice âmbito do encontro – consigo, com Deus e com o outro - não pode ser substituído pelo vazio de muitas palavras. É preciso fortalecer o cuidado de, também na vida de oração, não substituir as relações interpessoais pelas amizades virtuais, limitando a vida, o contato, a proximidade, somente aos momentos de interesses. Hoje é recorrente ver amigos sentados em uma mesma mesa, cada qual conectado ao próprio mundo, fechados nos horizontes de seus próprios interesses e ignorando os que estão ao redor.

A oração encerrada no individualismo é estéril. A revolução gerada pelo cristianismo se fundamenta na relação entre Deus e o homem. O caminho de encontro é uma iniciativa do próprio Deus. É Ele que em primeiro se comunica e revela-se ao homem. Desde o ato criador, Deus entrou em relação conosco rompendo toda herança “feudal”, de servidão. “No património da nossa fé não existem expressões como ‘subjugação’, ‘escravatura’ ou ‘vassalagem’; mas sim palavras como ‘aliança’, ‘amizade’, ‘promessa’, ‘comunhão’, ‘proximidade’. No seu longo discurso de despedida dos discípulos, Jesus diz assim: «Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Ibidem).

Procuremos, pois, entrar no grande mistério desta aliança de amor. Colocar-nos em oração nos braços misericordiosos de Deus, sentir-nos envolvidos por esse enigma de felicidade, que é a vida trinitária, conectando-nos com nossas dores e misérias, saindo ao encontro das urgências de nosso tempo.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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