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O suspense

segunda-feira, 08 de janeiro de 2024

Estou lendo “O apartamento em Paris”, da escritora inglesa Lucy Foley, um romance de mistério passado em um edifício de luxo na capital francesa. Seus moradores e suas paredes guardam segredos que vão se revelando aos poucos de modo que não consigo parar de ler. 

Estou lendo “O apartamento em Paris”, da escritora inglesa Lucy Foley, um romance de mistério passado em um edifício de luxo na capital francesa. Seus moradores e suas paredes guardam segredos que vão se revelando aos poucos de modo que não consigo parar de ler. 

Um dos grandes desafios do escritor de prosa literária é prender o leitor na narrativa. Um texto carregado de circunstâncias a serem desvendadas, cuja leitura evoque perguntas e espantos é instigante e prazeroso. Mas elaborá-lo? Uauuu! Construir cenas densas, mas pouco explicadas, personagens misteriosos e enigmas é um desafio e tanto ao escritor. A literatura de suspense apresenta grandes obstáculos a serem superados, que exigem a definição pormenorizada dos mínimos detalhes que compõem cada uma das cenas. São definições que precisam ser esclarecidas e dominadas previamente pelo escritor, ou seja, antes mesmo de começar a elaborar o texto. Além do mais, os fatos devem ser mostrados pouco a pouco e cuidadosamente ao leitor, que, ao ler, vai desvendando segredos nada vulgares. Quanto mais inteligente é a trama, mais o leitor vai se sentir desafiado a desvendá-la.

Não é somente a literatura de suspense, mas todo texto deve considerar a capacidade reflexiva do leitor para compreender situações. Talvez possa afirmar que compor um texto seja engenhoso porque requer planejamento, cálculos precisos e construção minuciosa das cenas. Em “Aventureiros da Serra”, romance de minha autoria, os personagens precisaram atravessar um rio, e tive de calcular distâncias, riscos e tempo. 

O texto literário de ficção tem de ser verossímil! Um personagem de menor estatura precisa dar mais passos para percorrer a mesma distância do que outro mais alto. As cenas não podem ser lentas nem rápidas demais, a ação dos personagens deve ser realizada em momentos certos da narrativa para criar no leitor a máxima expectativa. Os acontecimentos devem ter sequência contínua de modo a preparar a narrativa para um desfecho, exigindo paciência e causando inquietude no leitor. Não é possível antecipar informações para amenizar o suspense, o que arruinaria o texto em poucas linhas.

Quase sempre a literatura de suspense envolve atos de perversidade, como em “O silêncio dos inocentes”, de Thomas Haris. Os romances policiais de Agatha Christie, como “Morte no Nilo” e “Expresso Oriente” trazem situações de morte violenta. Se não fossem as passagens trágicas não haveria uma narrativa consistente e atraente ao leitor. Quanto maior é a maldade e o sofrimento, melhor qualidade o texto pode alcançar.

As escrever “Aventureiros da Serra”, um personagem, o Edu, surgiu repentinamente na minha imaginação. Ele, vindo carregado de inveja e egoísmo, fez com que a narrativa crescesse. Suas atitudes levaram as cenas mais simples ao suspense. Ao escrevê-las, eu ia desvendando o seu caráter que criava grandes dificuldades ao grupo de amigos. Ao longo da narrativa, ele foi se transformando e fazendo com que os outros personagens amadurecessem. Foi uma experiência literária incrível. 

Estou escrevendo esta coluna porque pretendo, em 2024, começar a escrever um romance de suspense. Estou me preparando, aquecendo as turbinas, como dizia minha mestra Virgínia Cavalcanti. 

2024 me chegou cheio de ideias desafiadoras que serão tecidas por linhas. Linhas! Será um bom título? O ano promete muito suspense. Ainda bem... 

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2024 - O rabo da lagartixa, quando cortado, nasce de novo

terça-feira, 02 de janeiro de 2024

Estava passeando calmamente entre as minhas expectativas para 2024 e me lembrei da crônica “O Rabo da Lagartixa”, escrito pela médica e budista Nazareth Solino, publicada no livro do mesmo título, em 2006. 

Vamos reviver a vida, mais uma vez, em 2024! 

Estava passeando calmamente entre as minhas expectativas para 2024 e me lembrei da crônica “O Rabo da Lagartixa”, escrito pela médica e budista Nazareth Solino, publicada no livro do mesmo título, em 2006. 

Vamos reviver a vida, mais uma vez, em 2024! 

Ora pois sim, não será um ano inédito, certamente, como os anteriores; será um tempo em que vamos prosseguir os caminhos já trilhados e alguns novos. Que nossos passos se orientem pelo ensinamento que o rabo da lagartixa nos oferece: religar e cicatrizar. Vamos prosseguir nossas trajetórias existenciais de modo mais aperfeiçoado posto que a vida tem plasticidade, tal qual esse réptil de pequenas dimensões, capaz de recompor seu rabo quando decepado. Em pouco tempo, ele está com o corpo refeito, tendo a prontidão para seguir sua vida com disposição. E, nós, os humanos, não perdemos nossos pedaços diariamente? Cada dia jamais será por nós vivenciado da mesma forma como foi no passado. Nosso quotidiano é mutante, inclusive nos momentos em que o consideramos rotineiro. Não trocamos de roupas!? Sim, temos o livre arbítrio e a oportunidade para reparar nossos sentimentos, pensamentos e as ações. Cada momento é único, e o “aconteceu” é um tempo que leva as águas dos nossos rios para os oceanos do mundo. E, aí, surge, a magia do resgate.  Somos os encantadores do nosso destino. 

Que em 2024 tenhamos gratidão ao que a vida vai nos proporcionar, mesmo nas situações mais difíceis e dolorosas, mas que nunca deixam de nos oferecer significativos aprendizados. Que aprendamos a ter gratidão!, esse nobre sentimento, um dos mais raros, como, certa vez, minha amiga Carmem, psiquiatra e psicanalista, me confabulou com tristeza. A gratidão nos permite olhar para as circunstâncias e para as pessoas com reconhecimento e coragem a fim de transformar o ambiente e, inclusive e principalmente, a nós. Tendo atenção para os aspectos positivos, sem recusar os benefícios que nos oferecem. Nossos olhos são sábios quando permitimos que o sejam. Somente assim, seremos capazes de conquistar a liberdade para vislumbrar diversos horizontes em cada paisagem. 

Ao carregar a lagartixa nos bolsos, vamos, em 2024, configurar a vida diariamente. Como será saudável aprender a surfar as pequenas e grandes ondas, submergindo e emergindo nos mares em que estamos mergulhados. 

Que tenhamos energia vital nas veias para trilharmos todos os nossos caminhos.

Até semana que vem!

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Panelas, as relíquias de Natal

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Hoje, segunda-feira, dia de Natal, quero abraçar meus leitores e mostrar meu agradecimento à A Voz da Serra que, gentilmente, acolhe minhas palavras. É bom sentir a sensação de consideração por aqueles que me leem e de receber a hospitalidade deste jornal.

Vou retribuir toda essa atenção através de um conto que escrevi, faz tempo, que expressa os esforços e a alegria do escritor. 

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Hoje, segunda-feira, dia de Natal, quero abraçar meus leitores e mostrar meu agradecimento à A Voz da Serra que, gentilmente, acolhe minhas palavras. É bom sentir a sensação de consideração por aqueles que me leem e de receber a hospitalidade deste jornal.

Vou retribuir toda essa atenção através de um conto que escrevi, faz tempo, que expressa os esforços e a alegria do escritor. 

***

A rua brilhava o Natal; à noite, as luzes cintilavam nas árvores e piscavam nas janelas. A casa, entre tantas enfeitadas, era pequena; poucos cômodos. Família grande, casa de gente limpa que usava pano de chita como porta dos armários. Casa sem tapetes para enfeitar o chão de cimento liso. A televisão na sala era o quadro que fazia a arte sumir na tela escura. A mesa, preparada para a ceia, tinha vários pratos, copos e talheres cuidadosamente arrumados. Ah, a cozinha! Na cozinha, estavam as preciosidades de Natal. As panelas. Mais reluzentes do que as luzes que piscavam na árvore, penduradas na parede sobre a pia, como relíquias dos sonhos de uma vida. Eram o orgulho, mostravam o prazer dos braços que as arearam e a coragem dos dedos que engrossaram a pele com o bombril para fazê-las iluminadas. Ali estavam estampadas na cor do alumínio as esperanças que o Natal trazia. O trabalho. A vontade de compartilhar a vida.

Feliz Natal!

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Esses seres admiráveis, os personagens?

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Quem são esses seres fascinantes que nascem no imaginário do escritor? Que sejam emergentes da realidade em que vivemos ou do universo da ficção. Querem saber a verdade? Não importa de onde venham, apenas é preciso que sejam bem construídos e prendam a atenção do leitor. Simples assim? Posto que não. 

Quem são esses seres fascinantes que nascem no imaginário do escritor? Que sejam emergentes da realidade em que vivemos ou do universo da ficção. Querem saber a verdade? Não importa de onde venham, apenas é preciso que sejam bem construídos e prendam a atenção do leitor. Simples assim? Posto que não. 

Os personagens criados a partir da inspiração de uma pessoa existente ou que já tenha existido, são, na literatura, seres ficcionais. Dificilmente o escritor conseguirá retratá-lo na produção literária com fidedignidade, ele será reconstruído através de palavras e cenas elaboradas no imaginário. Mesmo no cinema ou teatro, a vida da pessoa é narrada através de um roteiro ou de um texto dramatúrgico. O personagem só existe situado em uma história com os elementos e atributos criados exclusivamente na imaginação. Vamos supor que três indivíduos presenciem uma cena, cada um vai descrevê-la de uma forma, vai notar os detalhes com parcialidade e observar a partir de um ponto de vista próprio, que está enraizado em formas de pensar, afetos e experiências de vida. 

Há personagens tão extraordinários e tão bem construídos que influenciam a vida dos seus leitores, causam espantos, risos e reflexões.  São entidades que, além de habitarem nos livros, vivem na mente daqueles que os admiram. Um personagem que me deixou marcas foi Raskolnikof, de “Crime e Castigo”, escrito por Fiódor Dostoiévski, pela sua insolência e capacidade de enganar, como se fazer amigo do chefe de polícia para mudar o rumo das investigações e evitar ser descoberto como o assassino de duas pessoas. Esse personagem foi tão bem elaborado que me lembro dele com repúdio sempre que me deparo com uma situação criminosa. 

São personagens que sobrevivem ao tempo, como Jean Valjean, de “Os Miseráveis”, criado por Victor Hugo ou Emma Bovary, de “Madame Bovary”, idealizado por Gustave Flaubert; Otelo, da obra de Shakespeare. São entidades que permeiam nossas vidas, como Hellen Keller, em que ela narra a sua bela história de superação em uma autobiografia, Dom Casmurro através do qual Machado de Assis apresenta a terrível dúvida com relação à fidelidade de Capitu. E a crueldade mostrada através da inveja de Iago, personagem de Shakespeare, em “Otelo”. Os personagens marcantes apresentam motivos para reflexões relevantes, e suas histórias contribuem para a construção da identidade individual de cada um de nós. Fernão Capelo Gaivota, protagonista do livro do mesmo nome, construído por Richard Bach, sempre me foi um exemplo de vida. Em muitos momentos da minha pré-adolescência eu me identifiquei com Zezé, de “Meu Pé de Laranja Lima”, escrito por José Mauro de Vasconcelos.

E de onde vêm os personagens? Ah! Será das estrelas, dos ventos ou do cheiro de sabonete?

Sei lá...  

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O valor da educação

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Sou educadora, de formação. O meu olhar tem este viés porque tudo o que vivemos é carregado de aprendizado. Até mesmo o conectivo “e”, que significa união; ninguém o utiliza sem ter a intenção de adicionar, posto que a adição é transformadora e reúne significados que podem ser observados e refletidos. Aliás, a observação é o ponto de partida dos processos educativos.

Sou educadora, de formação. O meu olhar tem este viés porque tudo o que vivemos é carregado de aprendizado. Até mesmo o conectivo “e”, que significa união; ninguém o utiliza sem ter a intenção de adicionar, posto que a adição é transformadora e reúne significados que podem ser observados e refletidos. Aliás, a observação é o ponto de partida dos processos educativos.

Nestes dias, por acaso, mensagens, podcasts e conversas me trouxeram a educação como tema de reflexão. Ao me debruçar sobre as teorias educacionais, a construção de uma pessoa, de um lugar e, especialmente, de um país acontece sobre as bases educacionais. O crescimento individual é ilimitado através das capacidades e possibilidades que podem ser atingidas sem limites preestabelecidos. Da mesma forma, as realizações de uma nação dependem da evolução dos seus cidadãos.

As gerações mais novas recebem dos seus antepassados um saber adquirido através da experiência milenar que é repassada de diversas formas. Hoje, os meios de comunicação são facilitadores, porém o contato interpessoal possui força de influência e absorção eficientes, decorrentes das relações afetivas e dos processos de identificação.

Também não podemos esquecer que a literatura guarda a maior fonte de saber existente no planeta. 

Os processos de aprendizagens começam no momento do nascimento quando a criança vai aprendendo, dia a dia, a interagir com o ambiente e com as pessoas com quem tem contato. Inclusive, com ela mesma ao perceber seu corpo e suas emoções. O corpo e a mente humana são versáteis, possuindo qualidades e habilidades múltiplas que podem ser estimuladas, desenvolvidas e, consequentemente, transformadas, possibilitando às pessoas realizar tarefas cada vez mais especificadas e complexas. Os processos educativos nos tornam mutantes, principalmente quando há a consciência de que podemos nos aperfeiçoar para melhorar nossos modos de viver.

A leitura é um recurso educativo valoroso, mesmo os livros de literatura ficcional para crianças e jovens. Certamente a literatura é arte e sua intenção não é pedagógica. Entretanto, ao abordar a experiência existencial nas histórias infantis, guarda pressupostos educativos relevantes. “Pinóquio”, por exemplo, escrito por Carlo Collodi, é uma obra que deveria ser lida por todos. Como também “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carol. E outras, como o “O Sítio do Pica-pau Amarelo”, de Monteiro Lobato, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry ou “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder. Mas não é somente a prosa literária que o jovem pode ser incentivado a ler. A obra de Shakespeare tem belíssimas adaptações para o público juvenil. 

A formação do leitor é um processo educativo e encontra no prazer de ler seu objetivo principal. É iniciado na mais tenra infância com livros de ilustrações e sem texto. O gosto pela leitura é construído ao longo de anos e segue a vida infantil e juvenil. O adulto, quando leitor, tem uma visão ampla e aprofundada dos fatos, que são esclarecidos por várias ciências, como a filosofia, psicologia, sociologia, biologia, geografia, história, dentre outras. Como também pela vivência daqueles que transpõem para o papel suas reflexões através da prosa e da poesia. 

Um pensar parcial é frágil. O saber comum é inteligente e rico, sem sombra de dúvidas, mas se enriquecido pela leitura oferece maiores possibilidades ao sujeito de interagir no ambiente, de expressar-se para abordar com clareza e objetividade seus pontos de vista. De tirar conclusões e tomar decisões.

Infelizmente as oportunidades educacionais e os programas de estímulo à leitura são ainda precários no Brasil. Nem todos têm acesso ao livro e à educação. Acredito que a maioria das crianças e jovens gostaria de tê-lo! Foi triste escutar de um grupo de jovens que gostariam de ler mais, mas não podiam pela impossibilidade de adquirir os livros, mesmo nas bibliotecas. 

Assim, cabe-me, mais uma vez, reforçar o valor da educação e da leitura nesta coluna semanal. Não deixa de ser como um canto de alguém diante do mar, sempre atraente, indomável e pouco desconhecido.

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Pode o afeto atravessar a tela do celular?

segunda-feira, 04 de dezembro de 2023

Felicidade! É inútil buscá-la em qualquer outro lugar que não seja no calor das relações humanas.

(Antoine de Saint-Exupéry)

Felicidade! É inútil buscá-la em qualquer outro lugar que não seja no calor das relações humanas.

(Antoine de Saint-Exupéry)

Tudo muda. ‘Nada do que foi será do jeito que já foi um dia. Tudo passa, sempre passará”, poetaram Lulu Santos e Nelson Mota em “Como uma onda”.  Premissa notável e de sabedoria milenar. E veio o celular, chegou a cada um de nós de maneira impetuosa, volumosa e, também, desastrosa. Adentrou a vida, mudando as relações interpessoais. Ao mesmo tempo em que nos colocou no fluxo das interações humanas, isolou-nos. Fez com que a afetividade ganhasse novos modos de trocar sentimentos, como mensagens de voz e de texto, emojis, vídeos. Substituiu os modos convencionais de expressar afeições e de conversar, tornando a presença física não tão mais relevante ao criar a impressão de proximidade; as pessoas podem não se sentir longe de quem gostariam de estar perto. 

Ninguém consegue sentir cheiro pelo celular”. Esta frase do livro “Cheiro de Formiga”, de Verena Alberti, editora Patuá, me chamou a atenção para o fato do celular ser, hoje, predominante objeto intermediário nas relações afetivas, inclusive as ligações de vídeo possibilitam ver e perceber o outro em seus gestos e expressões; a presença física pode, naturalmente, ficar em segundo plano. 

Na presença real sente-se com plenitude o outro: o calor do corpo, a respiração, a força dos braços em cada abraço, o estalar do beijo, o toque das mãos, o som da voz, o cheiro. O afeto tem vida!

Quando a presença se faz através da tela do celular, a forma como sentimos o afeto torna-se diferente, a começar pela temperatura fria do vidro. A troca de afeto virtual é completamente diferente do físico. Quando o afeto é experimentado presencialmente, os sentimentos se misturam, tornando até os limites imperceptíveis. 

Estamos tão mergulhados neste universo irreal que, a cada dia, acostumamo-nos, mais e mais, a desenvolver afetos irrealizáveis. O ambiente virtual não é o nosso mundo real.

Certa vez me contaram que dois amigos de infância e que não se viam há bastante tempo, um dia, por acaso, se encontraram na rua. Depois de um abraço, um disse para o outro: depois me liga e a gente se fala. Como as relações de afeto estão ficando vulgares, sem originalidade!

É preciso ter sensatez e inteligência emocional para aprender a lidar com os caminhos da modernidade. Não podemos esquecer que somos gente. De carne e osso. De afetos.

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Fazemos parte do Divino

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Adentrar os bosques da filosofia é um ato de amor à vida pela grandeza das ideias que nos permitem conhecer e compreender a nós, bem como os fatos presentes e passados. Será que conseguimos responder a todas as questões que vão surgindo no dia a dia? Quem busca entendê-los? Na maioria das vezes, deixamos de lado uma relação de perguntas para poupar o tempo ante tantos afazeres.

Adentrar os bosques da filosofia é um ato de amor à vida pela grandeza das ideias que nos permitem conhecer e compreender a nós, bem como os fatos presentes e passados. Será que conseguimos responder a todas as questões que vão surgindo no dia a dia? Quem busca entendê-los? Na maioria das vezes, deixamos de lado uma relação de perguntas para poupar o tempo ante tantos afazeres. Mesmo resistindo, em algum momento, sentimos a necessidade de pensar para nos situarmos melhor diante de um Todo maior do qual fazemos parte e diante do qual sentimos a impossibilidade de vê-lo com objetividade e clareza. A filosofia vai muito além de achismos. A partir de suposições relevantes vai em busca de conhecimentos capazes de oferecer explicações a respeito de questões sobre as quais repousam indagações e inquietações.

Este modo desassossegado que nos invade, sequestrou-me numa tarde desta semana. Pensei nos povos antigos, mais especificamente os egípcios e os gregos, civilizações milenares carregadas de ensinamentos, que se debruçaram em torno da existência e foram revelando com sabedoria temas essenciais sobre a humanidade. Hoje, milênios depois, são ainda importantes de conhecer. Foram interpretações que constituíram a base da filosofia construída posteriormente, oferecendo possibilidades aos pensadores de alcançar o saber mais aprofundado. Somo seres que precisamos de explicações, mas não de manuais que nos orientem para a experiência diária.  

Estou lendo “Para entender o Caibalion, da filósofa, professora e escritora, Lúcia Helena Galvão Maya, que se debruçou sobre “a antiga e enigmática escola de pensamento filosófico denominada hermetismo”, descrita pelo sábio Hermes Trismegisto, que possivelmente viveu no Antigo Egito. O Caibalion reúne ensinamentos básicos que foram transmitidos oralmente durante séculos. Vejam como a literatura guardada na oralidade se manteve coesa por milênios. Somente em 1908 O Caibalion foi impresso em formato de livro, tendo a autoria creditada a indivíduos que se autodenominavam “Três iniciados”.

O Cabalion relaciona princípios universais acompanhados de explicações, que exigem do leitor esforços intelectuais e estudos. São ensinamentos preciosos que podem explicar os fatos da nossa rotina diária. Do autoconhecimento à percepção da existência da divindade em tudo. Da compreensão de que a natureza, nós, os humanos e o universo estão intimamente interligados e que fazemos todos parte do Divino.  

Do nascimento da consciência à evolução humana, as relações estruturais entre a matéria, a mente e o espírito de cada ser afetam o Todo. A existência de elos interruptos, impregnados de vibrações, faz aflorar a espiritualidade, de modo que a matéria vai se impugnando pelo espírito. 

Enfim, estou começando meus estudos que me serão desafiadores. Deixo delicadas questões a serem observadas a partir da ideia de que a banalização da vida guarda um caráter debilitado: será que percebemos a divindade em tudo o que fazemos e que nos rodeia?

Já notaram como somos individualizados, entretanto não somos separados de nada? Como tudo nos afeta e como afetamos o Todo que nos acolhe nos braços? 

Somos capazes de reconhecer a soma de nossos atributos essenciais: Espírito, Matéria e Energia?

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Os legados literários de Nova Friburgo

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Quem sai de Cachoeiras de Macacu e começa a subir a serra sente o cheiro da mata. As florestas, que cercam a região de Nova Friburgo, iluminam o imaginário de quem se sensibiliza com tamanha beleza. A Mata Atlântica tem fertilidade e generosidade, abundância e variedade em sua flora e fauna. Suas reservas ecológicas, como a dos Três Picos, preservam a vida natural, como a da onça parda. Cada passarinho, ao voar e pousar nas plantas e campos, vai espalhando sementes, alimentando filhotes, refazendo a vida com suavidade. É um ambiente que toca a música literária com alegria.

Quem sai de Cachoeiras de Macacu e começa a subir a serra sente o cheiro da mata. As florestas, que cercam a região de Nova Friburgo, iluminam o imaginário de quem se sensibiliza com tamanha beleza. A Mata Atlântica tem fertilidade e generosidade, abundância e variedade em sua flora e fauna. Suas reservas ecológicas, como a dos Três Picos, preservam a vida natural, como a da onça parda. Cada passarinho, ao voar e pousar nas plantas e campos, vai espalhando sementes, alimentando filhotes, refazendo a vida com suavidade. É um ambiente que toca a música literária com alegria.

Nova Friburgo é um lugar que faz brotar a rama literária em cada um dos seus cidadãos ou visitantes. Tivemos trovadores e escritores, poetas e contistas que iluminaram a história da cidade, fazendo a palavra acompanhar a vida do friburguense. A trova rodopia pelas curvas das estradas e passeia pelas esquinas das cidades. Rodolpho Abbud, JG de Araújo Jorge e Dilva Moraes deixaram um legado que tornaram a trova viva nas terras Friburguenses.

Seria o mundo perfeito,

Se os sonhos fossem seus reis,

Com o Amor tendo o direito

De ditar todas as leis!

                                              Rodolpho Abbud

Desde os anos sessenta, Nova Friburgo realiza anualmente Jogos Florais quando premia trovadores de várias partes do mundo. Em 2004, foi sancionada a Lei Municipal 4.345 que concede à cidade o título de Cidade da Trova.

Não podemos deixar de ressaltar que nosso escritor maior, Machado de Assis, caminhou pelas ruas em torno da Praça Presidente Getúlio Vargas, cujas árvores o inspiraram à criação de histórias e personagens que enriqueceram a literatura brasileira.

Casimiro de Abreu, autor da poesia “Meus Oito Anos”, estudou em Nova Friburgo, no Instituto Freese. Como Carlos Drummond de Andrade estudou no Colégio Anchieta. A escritora Clarice Linspector admirava a natureza quando aqui se hospedava quando se sentiu inspirada para escrever algumas de suas crônicas, como “Rosas Silvestres” (2010): “Esqueci de dizer que as rosas silvestres são de planta trepadeira e nascem no mesmo galho. Rosas silvestres, eu vos amo. Diariamente morro por vosso perfume”.

Por aqui também passou Francisco Gregório Filho, escritor e contador de histórias, onde criou a Secretaria de Promoção da Leitura. Em uma das suas crônicas para o Jornal A Voz da Serra, escreveu em janeiro de 2013, “A região serrana há muito tem acolhido durante os fins de ano muitos profissionais da área do livro e da literatura para momentos de recanto e recolhimento.” 

Friburgo tem uma Academia de letras atuante desde 1947. Seu patrono é Julio Salusse, autor “Cisnes”, considerado um dos sonetos mais belos do século passado. Homenageou grandes escritores como Julia Lopes de Almeida, romancista, cronista, patronímica da cadeira número 27, que colaborou ativamente com a fundação da Academia Brasileira de Letras. Desce a sua criação, a AFL acolhe os escritores da cidade como forma de difundir a literatura, incentivar a produção literária e preservar a Língua Portuguesa, enquanto patrimônio maior do brasileiro. 

A literatura está viva em Nova Friburgo através de escritores produtivos e agentes culturais. Será que os friburguenses têm conhecimento do potencial literário da sua cidade? 

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"Por que amo Nova Friburgo?"

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A Academia Friburguense de Letras realizou, neste ano, o concurso literário “Por que amo Nova Friburgo?”, realizado com o apoio da Secretaria Municipal de Educação. O concurso abrangeu duas categorias diferentes de alunos do Ensino Fundamental: 6 e 7anos; 8 e 9 anos. 

A Academia Friburguense de Letras realizou, neste ano, o concurso literário “Por que amo Nova Friburgo?”, realizado com o apoio da Secretaria Municipal de Educação. O concurso abrangeu duas categorias diferentes de alunos do Ensino Fundamental: 6 e 7anos; 8 e 9 anos. 

Foi uma cerimônia alegre. Muito alegre. As cores da Academia pareciam brilhar e se misturavam com o sorriso dos pais e professores. Os premiados chegavam com uma postura tímida e com passos suaves. Os rostos dos pais não escondiam o orgulho de acompanhar os filhos, e os professores chegavam com passos firmes e confiantes do cuidadoso trabalho que fizeram com os alunos. E, nós, os acadêmicos, com alegria e paz, recebemos os convidados com afetividade.

O professor e acadêmico Robério José Canto cuidou do concurso com o toque de mestre, resultado da experiência de uma vida como professor de literatura e, também, como organizador de concursos literários da AFL; foram muitos, envolvendo temas diversos e participantes de vários estados do Brasil.

Neste concurso resolvemos dar atenção aos alunos da Rede Municipal de Ensino como uma forma de valorizar a Língua Portuguesa e a literatura na nossa cidade, lugar que amamos e no qual vivemos. Por isso o título, “Por que amamos Nova Friburgo?”. Também tivemos a intenção de fazer os alunos olharem com afeto para o lugar onde vivem.

Neste concurso, a nossa Casa, a Casa de Júlio Salusse, autor de “Cisnes”, um dos poemas mais belos já composto, cumpre suas finalidades. Durante a cerimônia, o auditório repleto me fez constatar que a Academia está cheia de vida e seus acadêmicos trabalhando para tê-la com as portas e janelas abertas para a cidade. 

Além dos alunos premiados, acompanhados por suas famílias, amigos e professores, contamos com a presença da Secretária de Educação, Caroline Moura Klein, do Secretário de Cultura, Daniel Figueira, Jorgeana da Vitória Abreu, Coordenadora de Língua Portuguesa da Secretaria de Educação, Márcia Machado, Coordenadora da Biblioteca da Secretaria Municipal de Cultura. Depois da cerimônia, a Academia ofereceu aos presentes um coquetel, durante o qual puderam compartilhar aquele vitorioso momento, conversar e reencontrar pessoas.

Enfim, a literatura engrandece, transforma e une as pessoas. Acredito que um jovem, depois de vencer um concurso literário, seja uma pessoa enriquecida pela experiência de ter realizado uma tarefa desafiadora com empenho, criatividade e inteligência. Reconheço que a sensação de ter conquistado uma vitória com lisura e autenticidade é importante para a construção do caráter de uma pessoa.

Salve os vencedores dos 6ª. e 7ª. anos do Ensino Fundamental: Rafaela Vieira Giz, Ana Júlia Marchon Freiman, Polyana Lima Batista Breder, Maria Eduarda Combat, Miguel Netto. 

Salve os vencedores dos 8ª. e 9ª. anos do Ensino Fundamental: José Fraga Storani, Fernanda Tardin Linhares, Davi Rocha, Kauê Jorge Linhares Veloso, Lara Figueira Pinto Bastos.

Salve os professores:  Rosiara Campos Knupp, Daniele de Souza Figueira, Olympia Maria de Lima David, Aparecida Eva de Lacerda de Freitas, Juliana Barros Muniz, Juliana de Souza Cabral.

Salve a professora Jorgeane da Vitória Abreu, coordenadora de Língua Portuguesa.

Salve Maria Janaína Botelho, nossa presidente.

 

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Dia de sensíveis recordações

segunda-feira, 06 de novembro de 2023

Estou começando a escrever esta coluna às 14h do Dia de Finados. Um dia que, a meu ver, deve ser vivenciado com naturalidade e de modo particular. Quantas pessoas não fazem aniversário hoje e tantas boas notícias não são recebidas em 02 de novembro? É um dia comum; o relógio vai girar da mesma forma, o sol despontou no alto da montanha e vai se pôr ao anoitecer. Hoje, como em todos os dias, invariavelmente, uma flor de hibisco vermelha nasceu, enquanto outra caiu sobre a grama, em frente à minha janela. 

Estou começando a escrever esta coluna às 14h do Dia de Finados. Um dia que, a meu ver, deve ser vivenciado com naturalidade e de modo particular. Quantas pessoas não fazem aniversário hoje e tantas boas notícias não são recebidas em 02 de novembro? É um dia comum; o relógio vai girar da mesma forma, o sol despontou no alto da montanha e vai se pôr ao anoitecer. Hoje, como em todos os dias, invariavelmente, uma flor de hibisco vermelha nasceu, enquanto outra caiu sobre a grama, em frente à minha janela. 

Hoje é um dia em que nos lembramos dos que já partiram, das pessoas que fizeram parte da nossa vida e nos influenciaram. Também dos animais de estimação que estiveram ao nosso lado por algum tempo. Ah, como eles vivem pouco... As pessoas e os animas são efêmeros, mas podem se tornar presentes em nossos dias, basta pensar neles que revivemos os momentos em que compartilhamos afetos. A vida é veloz, passa de um instante a outro, e, quase em um supetão, nos traz cestas de pães variados e leva malas cheias de nós. 

O personagem de Saint Exupéry do livro “O Pequeno Príncipe” nunca se esqueceu da frágil rosa que deixou em seu planeta. Da mesma forma, Lola, personagem do livro “Éramos Seis”, de Maria José Dupré, que relembra a história de sua família. Nossas recordações dão vida a quem desejamos que assim permaneça porque nos deram sustento emocional. O que levamos para a vida espiritual não são saldos bancários nem gavetas cheias de perfumes ou joias. Se as nossas bagagens possuíssem unicamente a materialidade das coisas, seríamos um inflado saco vazio, sem espiritualidade e afetividade. 

Concordo com o pensamento de Fernando Pessoa: somos a vida e, também, somos a morte. A vida é rápida; a morte tem eternidade. Enquanto vivos estamos de mãos dadas com o destino. Porém, aqueles que se foram nos deixaram marcas que estarão registradas em cada passo que daremos em nosso caminhar. Tal qual minha imaginação, agora, retoma Saint-Exupéry e Fernando Pessoa. Não somos geração espontânea.  Que bom!

Hoje é o dia que gosto de me recolher para rever pessoas que coloriram as células do meu corpo. Foi bom tê-las deixado me pintar. É saudável tocá-las nesta tarde nublada em que o sol também está se recolhendo atrás das nuvens.

Amanhã será outro dia, e eu estarei mais plena do que nunca.

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