Parou com a compulsão, mas não parou com a confusão

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quarta-feira, 03 de janeiro de 2024

Conviver com uma pessoa difícil é um desafio nas relações humanas e causa estresse. Uma pessoa difícil pode ser, por exemplo, a dependente do álcool ou de outras drogas, pode ser um mentiroso e manipulador. Ou quem sabe é viciado em sexo, ou possui outro tipo de vício que perturba a paz do ambiente.

Nos grupos de Alcoólicos Anônimos existe uma expressão chamada “porre seco”, atribuída ao indivíduo que era dependente do álcool e que tem se mantido sóbrio, mas sem interesse em, além de parar de beber, lutar contra seus defeitos de caráter. Ele não mais cria problemas por causa da embriaguez, enquanto se mantém sóbrio, mas é uma pessoa de difícil relacionamento.

Felizmente existem os que param de ingerir bebidas alcoólicas e se mantêm sóbrios e abstêmios, e também se interessam por cultivar pensamentos que produzem sentimentos e conduta agradáveis. Estes vivem o chamado “despertar espiritual”, que não tem que ver com uma religião específica, mas com o discernimento de sua conduta, aceitação de ter dificuldades de personalidade e, por isso, procura ajuda divina, no Deus de sua concepção.

Quando o viciado para de ingerir bebidas alcoólicas ou para de usar outras drogas que alteram seu comportamento, criando muito estresse geralmente na família, ele não necessariamente melhora seu jeito de ser e de se relacionar com as pessoas. Sim, há inúmeras vantagens em não mais viver drogado, para a própria pessoa e para com quem ela se relaciona. As vantagens maiores, porém, surgem para todos quando o viciado começa a trabalhar consigo mesmo para vencer maneiras de funcionar como ser agressivo verbal, mentir, ser corrupto, ter explosões emocionais, entre outras complicações.

Assim, quem convive com um dependente químico ou viciado em outra coisa que vinha causando muito estrago emocional em todos, pode se frustrar quando este indivíduo difícil começa a conseguir interromper sua compulsão, mas segue machucando as pessoas com o comportamento disfuncional.

Por exemplo, pense num viciado em álcool há vários anos e que por conta do vício criou muito sofrimento na família, com amigos e no trabalho. Ele entra em recuperação do alcoolismo, para de ingerir bebidas alcoólicas, não mais tem embriaguez. O álcool de certa forma o acalmava. Agora sem esta bebida intoxicante, ele se torna nervoso, acusador, abusivo com palavras e tom de voz, brigando por besteira. Parar de beber não termina com todos os problemas.

Você que convive com alguém assim, precisa aceitar esta frustração e pensar que você não causou isso (o descontrole emocional da pessoa), não pode controlar isso e não pode curar isso. Você é impotente diante do comportamento de uma outra pessoa adulta.

Entretanto, não é obrigatório aceitar o inaceitável. Você não precisa provar nada para este indivíduo difícil, não tem que retrucar as ofensas dele, não necessita provar que você está certo, não tem que dar explicações de perguntas feitas só para perturbar sua paz. Você tem opções de resposta. Não precisa gritar no mesmo tom dele ou dela. Talvez um silêncio seja a melhor resposta no momento. Ou pedir licença e se retirar do ambiente, dizendo que se recusa a ficar discutindo enquanto a pessoa destrata você com palavras duras, ofensivas.

Em muitas ocasiões ajuda não trazer as palavras da pessoa descontrolada como algo pessoal. Um indivíduo que geralmente se descontrola emocionalmente não tem razão se ele diz que você não é alguém legal. Ele é que não é legal nem com ele mesmo, por isso perde o autocontrole.

Se você ficar em dúvida sobre que atitude tomar, se você tem uma pergunta diante de uma situação tensa e não sabe a resposta, a melhor resposta é perguntar, e orar. Mas perguntar a alguém que respeita você, tem experiência e ética, e tem uma mentalidade de querer ajudar.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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