Os olhos desenham a forma do infinito

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 18 de novembro de 2023

Coragem? Temos de sobra. Medo? Também. Às vezes, o que não se tem é escolha. Com coragem ou medo é necessário enfrentar suas lutas exclusivas que, por mais que se assemelham às dos outros, é sua e só você pode mergulhar.

Seria fácil apenas dizer: vai! Aqueles tais 30 segundos de insanidade talvez seja o que se precise para ir. Os tais segundos que não pensamos em temor ou consequências, se faz o que precisa ser feito e que mais ninguém pode fazer por você. Resultado? É tudo que vem depois de decidir entrar no jogo. 

O jogo é permanente, mesmo não estando em campo, antes ou depois. A vida é várzea, é montanha no horizonte. Viver é oceano que nem sempre tem ilha ou praia. Os olhos desenham a forma do infinito, mas o olhar é que estipula finitudes ou não. Pode se enxergar longe e não ver o que está perto. Pode-se sentir o que está dentro, mas desatento desconsiderar o que explode no peito, o que treme fora e as causas.

Acumulamos e pode ser que jamais se chegue a tal gota d’água. Aquela que faz transbordar o copo. Seria ela a mais importante? 

O que precede os tais segundos em que, de repente, decidimos enfrentar, encarar, desbravar, ser? Por que não antes? Porque é agora!         

Chamar para dançar aquele que se observa do outro lado do salão. Trocar de emprego. Ir, sem ingresso, à final do campeonato que seu time nunca venceu. Pegar as chaves do carro, uma mochila grande e viajar sem destino, entrar em cidades que nunca entrou ou sequer ouvir falar o nome. Quebrar o alarme e dormir por mais duas horas, mais um ou dois dias inteiros. Demitir o patrão. Invadir a piscina do vizinho do lado e chamar os amigos para um churrasco. Mandar embora a dor que aquele amor causou e se despedir de relacionamentos que foram bons enquanto duraram, mas que não podem mais perdurar, para preservar as boas memórias. Desfilar com pernas de pau no bloco de carnaval. 

Escrever, escrever e escrever poesias para os desconhecidos da praça. Se declarar apaixonado para o bonitão que bebe cerveja no bar da esquina e não se preocupar em ser assustador demais ou muito emocionado. Andar pelado pelo apartamento depois de um banho gelado e não se preocupar se os vizinhos do prédio em frente te observam da janela. “Tá olhando o quê?” Atentado ao pudor seria estar vestido dentro de sua própria casa nesse calorzão de 35 graus com sensação térmica de 50. 

Beba água. Diminua a velocidade. Desligue o computador. Lave as mãos. Apague as luzes. Proibido fumar. Não urine na tampa do vaso, acerte o alvo. Leia a Bíblia. Anarquistas adoram dar ordens. Filósofos não pecam, mas dão conselhos. Por que? Nem tudo tem resposta, talvez para tudo haja perguntas. Não saber é dádiva contemporânea.  

Bom mesmo é brincar na chuva. Inventar a brincadeira de ser feliz com suas próprias regras em que a primeira regra é não ter regra. Livre, desenhar com o dedo o símbolo do infinito no céu, perceber que o olhar forma o infinito em si para o universo. Você pode ver. Eu posso sentir. A tristeza vai embora. O que vigora para além da rima? Você é infinito. 

Respire. Sinta. Abrace. Fique à toa. Vá à luta. Pergunte tudo o que quiser à Mãe de Santo. A Roda da Fortuna está na sua mesa de tarô. A Morte pode ser bem-vinda. Mudanças são ótimas, quando para melhor. Não temas. Dizem que o melhor ainda está por vir. Veio e virá ainda melhor mais uma e mais outra e tantas outras vezes. A paixão é o que há de mais instigante, e intenso é…                  

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