Medo: suas cores e tamanhos

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 09 de outubro de 2023

O que vai acontecer depois?!

Que barulho forte é este?!

Tem alguém aí?!

Há medos de todos os tamanhos, dos mais bobos aos mais profundos. Há os que emergem de fatos e outros criados pela imaginação. Ainda há aqueles que guardamos debaixo do travesseiro como bons inimigos e os que jogamos fora na primeira lixeira. Que seja de multidão, aranha ou de ficar sozinho, o medo é uma reação emocional diante de uma situação ameaçadora. 

Ora pois sim, quem não os tem?

Fui presenteada por Maria Clara Cavalcanti, escritora e contadora de histórias, especialista em Leitura e em Literatura Infantil e Juvenil, com o livro “Passos no Porão”, editado pela Escrita Fina. Foi um presente que me fez adentrar os bosques do medo, repleto de raízes espinhosas e intermináveis, arejado por inseguranças e ameaças que invadem as emoções das crianças, adultos e velhos. É um bosque em que penetramos devagar, pé ante pé, com olhos arregalados e respiração forte. 

“Passos no Porão” conta a história de um menino que escuta barulhos nas noites de mau tempo e corre para a cama do pai. Com o passar dos dias o medo vai sendo dissipado até porque o estranho som era de uma janela que batia com o vento no porão da casa.  A beleza do conto está na relação do pai com o filho que busca abrigo e proteção nos braços paternos. 

O medo nos acompanha quando crescemos, amadurecemos e envelhecemos. Faz parte da vida! É um sentimento que arranha e fere nossos momentos, enquanto emoção que ninguém gosta de ter, mas, em algumas circunstâncias, chega a ser necessário e benéfico. Podemos dizer que surge como um estado de alerta a ameaças físicas, morais ou psicológicas. A pessoa, especialmente a criança, ao sentir-se indefesa, o medo pode ganhar maiores proporções, como na história de Maria Clara Cavalcanti, que fez com que um menino saísse da sua cama e corresse para os braços do pai, braços que os protegeram do barulho e sustentaram seu amadurecimento.

O texto também nos chama a atenção para o desconhecimento da circunstância estranha e ameaçadora, uma vez que o não saber como reagir é o que mais assusta. Muitas vezes a intensidade do medo pode não ser compatível com o tamanho da causa.

Meus filhos, quando pequenos, tinham medo do escuro. Certa vez, fiquei com eles no quarto antes de dormirem à noite apagando e acendendo a luz. Quando a acendia pedia para que eles observassem o quarto. Depois, ao apagar, fazia o mesmo e perguntava se havia algo diferente. Fiz isso algumas noites. Eles não tiveram mais medo de dormir no escuro, contudo não deixaram de ter outros.

Penso que o medo nos modifica, fazendo-nos desenvolver capacidades para enfrentá-lo, alerta-nos para o perigo e torna nossos olhos atentos ao que nos rodeia.

Vou confessar e não contem para ninguém, por favor. Tenho medo de barata! Arc... Até hoje, aos setenta anos, não consegui retirá-lo da minha bagagem. Será que vou carregá-lo ainda por muito tempo? 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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