Hoje as crianças vivem a infância com plenitude?

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

A Academia Friburguense de Letras está realizando um Ciclo de Palestras on-line, via Zoom, “Os desafios da Literatura Infantojuvenil” e temas diversos estão sendo apresentados durante as palestras. Ontem, Anna Cláudia Ramos, escritora e Mestre em Literatura, abordou a importância do brincar e do ler durante a infância. Brincar. Sim, brincar. Passear pelo universo do “Faz de Conta” com passos criativos, em que a criança recria suas fantasias e os personagens das histórias que conhece. 

Através do brincar, a criança revive sua realidade, externa seus sentimentos e escuta sua voz. Conhece-se. Sente-se. Apreende melhor o ambiente em que vive, reexperimenta a cultura familiar, comunitária e social à sua maneira. Percebe-se, de modo lúdico, como sujeito, sujeitado, como pessoa afetiva e como indivíduo com características próprias. A cada brincadeira, vai amadurecendo a percepção de si, do outro e do mundo. Quando brinca, a criança se transforma em um animal, que seja gato, papagaio, peixe ou leão. Que seja idoso, adulto e, até mesmo em outra criança. De qualquer forma é a pessoa dela inteira que está ali, construindo sua personalidade, experimentando modos de ser e de fazer diferentes, sendo ela mesma ou não.  

E, diante das telas dos tablets e celulares, que oportunidades a criança tem para se construir? Com um objeto frio nas mãos, que pode ser ligado e desligado a qualquer momento, deixa de experimentar a concretude dos fatos ao interagir com outra criança, vivenciar divergências, competir, estabelecer relações de amizade. Como fazê-lo se não tem o outro, criança como tal, para dialogar, discordar, cantar, gritar?  Gostar e desgostar?

A literatura infantil, ao fazer parte do universo infantil, enriquece a experiência lúdica. A história de Pinóquio mostra que a criança pode construir seus próprios brinquedos e a estimula para entrar no mundo fantástico do “Faz de Conta”, quando Gepeto dá vida a um boneco feito de madeira para ser usada como lenha. Outro fato que posso apontar é que a história aborda a relação afetiva entre gerações, na medida em que Gepeto, já velho, cria um boneco que o trata como um filho e preenche seus vazios. Além de tudo, a história conta as travessuras de um boneco de madeira, exaltando-o como um aprendiz da vida. Outro personagem interessante é o Grilo Falante que representa a consciência do boneco do menino, o superego, a instância responsável entre o eu e o ambiente circundante.

Além do mais, os personagens são fontes de inspiração para a criança encená-los nas brincadeiras e nos teatros que produzem. E, cá para nós, é gostoso imitar personagens e reproduzir suas falas!

A leitura de histórias possibilita o contato do leitor infantojuvenil com sua língua, amplia seu vocabulário e mostra o emprego dos fatos gramaticais, sintáticos e ortográficos. 

Para finalizar, quero fazer uma referência à Convenção dos Direitos da Criança, elaborada pela Assembleia Geral da ONU, em 1989, que promove, protege, e assegura o exercício pleno de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais para todo o indivíduo com menos de 18 anos de idade. Indiferente à raça, cor, sexo, origem, religião, classe econômica ou deficiência física.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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