Até os dedos dos pés têm seus conflitos

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Ao avaliar os textos que Nívea Maria Dutra Pacheco enviou à Academia Friburguense de Letras no intuito de tornar-se acadêmica, eu me deparei com uma questão que faz parte do quotidiano, o conflito. Em seu artigo “Mediação de Conflitos, Um Novo Paradigma, in Direito”, publicado na coletânea, “Cidadania e Processo”, editado em 2015 pela Editar, comecei a refletir sobre o assunto, especialmente do modo como lidamos com ele na vida diária. Como sou formada em pedagogia e minha visão de mundo tende ao pensamento explicativo e conceitual da filosofia, vi nesse artigo uma praticidade com a qual não estou habituada a refletir. O conflito tem de ser resolvido!

Cá para nós, estamos cercados de visões diferentes, como a religiosa, a psicológica, a social, a geográfica. Cada campo aborda o conflito de um modo particular. Por sua vez, a literatura abraça todas. E, nós, meros viventes mortais, estamos enrolados com conflitos diversos. Inclusive, até os dedos dos pés, volta e meia, são prejudicados por estarem em desarmonia com sapatos, pisos e pés de móveis. Pobre mindinho!

Os conflitos podem ser compreendidos a partir de formas distintas de interpretar os interesses divergentes, a legitimidade dos modos de pensar e agir. As disputas de posse não tomam conta dos quartos em que duas crianças ou mais compartilham? Enfim. O conflito é necessário e faz parte da nossa vida. Emerge da adversidade e implica no prejuízo de uma ou mais partes envolvidas. Faz parte do processo dinâmico da interação humana, isto é, entre indivíduos, grupos, organizações e coletividade. 

O desenvolvimento, seja individual, coletivo, institucional ou familiar, está relacionado aos modos como as questões adversas são negociadas, e a ideia de cooperação ganha importância suprema. Até nos nossos conflitos pessoais podemos contribuir ou não para que sejam resolvidos. Ah, como tem gente que emperra e dificulta as situações! Nas circunstâncias mais simples, como situações relacionadas à vizinhança. Os conflitos exigem atenção e tratamento objetivo. A vida é rápida demais para que fiquemos tropeçando na mesma pedra.

Todas as pessoas envolvidas nos conflitos têm responsabilidade diante do problema. Ninguém é ingênuo e vítima, não há vencedores e perdedores. Todos coexistem na situação problemática que necessita de uma solução inteligente e eficiente entre as partes. O diálogo e o acordo são vantajosos para os implicados. 

O artigo da Nívea assinala que vivemos numa cultura que alimenta o litígio, que estende as situações pendentes e não resolvidas. E não é verdade que existe uma dificuldade imensa na praticidade das soluções? Entretanto, a ética, os princípios que orientam o comportamento humano e refletem as normas, os valores e os direitos do cidadão, não podem estar ausentes das formas como as soluções dos conflitos serão buscadas e definidas. 

  Para finalizar, deixo uma frase de Daisaku Ikeda, 1928, mestre budista: “Obviamente, desde que somos seres humanos, eternamente existirão algumas espécies de conflitos, rivalidades ou mesmo divergência de opiniões. Entretanto, terminantemente, jamais haverá necessidade de nutrirem-se de ódio ou mesmo matarem-se uns aos outros.”

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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