Quando interessa interpretar mal a fala dos outros

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, se viu envolvido na semana passada numa confusão causada por interpretação distorcida daquilo que falou. Zema é alinhado com a direita, muito bem votado nas últimas eleições para govenador e um possível candidato às presidenciais de 2006. Natural, portanto, que suas proposições tenham provocado tamanha celeuma por parte da esquerda, já que para ela tudo que não for canhoto só pode extrema direita.

Na realidade Zema defendeu a formação de um bloco das regiões sul-sudeste, o Cosud, nos moldes do já existente Consórcio Nordeste. De acordo com ele, “Além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político”, afirmou o mineiro, acrescentando que é preciso “que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada”. Aliás, essa é a realidade nua e crua da federação brasileira, quando vemos a carga de investimentos financeiros que convergem para o nordeste, um verdadeiro saco sem fundo. Desse ponto de vista, o que se pode pensar é que isso seria um sinal inequívoco de que as políticas para o desenvolvimento das áreas mais pobres estariam fracassando e seria necessário revê-las, em vez de se retirar ainda mais recursos dos estados mais fortes economicamente. É o que acontece ano a ano, há décadas.

O petismo e seus aliados no mundo político e na opinião pública trataram de criar a narrativa de um Zema xenófobo (ou até mesmo separatista), adversário dos estados de outras regiões, especialmente o Nordeste. Flávio Dino (PSB), ministro da Justiça e ex-governador do Maranhão, acusou a “extrema-direita” – de “fomentar divisões regionais” e chegou a chamar o mineiro de “traidor da pátria”. João Azevêdo (PSB), governador da Paraíba, adotou a mesma linha e acusou Zema de incentivar “uma guerra entre regiões”; em uma enorme ironia, a manifestação de Azevêdo foi feita na qualidade de presidente do Consórcio Nordeste, ou seja, de um grupo que funciona exatamente nos mesmos moldes do Cosud.

No entanto, uma reflexão deveria ser feita sobre a divisão da federação brasileira. Por quê? Porque ela é injusta, uma vez que estados mais ricos e populosos não têm uma representatividade na Câmara dos Deputados, proporcional a essa diferença. Na realidade os estados maiores acabam ficando sub representados e os menores super representados. Nosso modelo difere daquele dos Estados Unidos, onde a representação dos componentes da federação americana é móvel, variando de acordo com cada censo.

De acordo, ainda, com o pensamento das esquerdas, os estados mais ricos o são em função de terem sido mais favorecidos, mesmo argumento que levaram às políticas de cotas nas universidades e distribuição de vagas em concursos públicos. Isso nem sempre retrata a realidade, pois uma vontade mais forte de se dedicar ao trabalho ou aos estudos pode ser o diferencial. Na minha opinião, trata-se, na realidade, de agir preventivamente, atacar o “mal” pela raiz. Zema é governador de Minas Gerais, um estado politicamente importante, alinhado com os ideais que sempre nortearam os rumos corretos da sociedade como a honestidade, a decência, o crescimento da família e dos bons costumes. Além do mais, tem uma forte aprovação dos eleitores de seu estado e, sobretudo, faz um grande governo. E, é claro, isso o qualifica para a disputa das próximas eleições presidenciais, como representante da direita. Sendo uma ameaça para as pretensões das esquerdas, de se perpetuarem no poder, tem de ser desqualificado desde o início, mesmo com a utilização de falsos argumentos.

Acredito que a população brasileira, à medida que o tempo passa, já tenha conseguido a discernir o certo do errado e que, de sã consciência, não esteja satisfeita com o que está ocorrendo no Brasil desde a eleição de 2012. O tempo dirá e, Zema, pense duas vezes antes de emitir opiniões, pois o risco de ser mal interpretado, levianamente, sempre existe.

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