O Papa Francisco e a sinodalidade

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segunda-feira, 17 de julho de 2023

Um extraordinário e inédito processo de escuta de todo o povo de Deus, por dois anos, lançado nos últimos dias 9 e 10 de outubro de 2021, em Roma, pelo profético Papa Francisco, nos projeta num caminho já proposto e resgatado pelo Concílio Vaticano II e impulsionado pelo iluminado Papa São Paulo VI - a sinodalidade. Isto foi expresso nas últimas décadas, pela implementação do Sínodo dos Bispos, como um forte e rico momento de escuta do Sucessor de Pedro dos seus irmãos sucessores dos apóstolos, espalhados no mundo inteiro, representando e ecoando as realidades e anseios de seus milhares de rebanhos. Estes processos enriqueceram muito a reflexão de toda a Igreja sobre diversos temas, com a contribuição das mais variadas culturas e especificidades dos países representados por seus pastores, com a contribuição de vários peritos, clérigos, religiosos e leigos. Estas proposições dos padres sinodais serviram de base para importantes e renovadoras Exortações Apostólicas pós-sinodais, assinadas pelos pontífices desde São Paulo VI.

Mas, com certeza, faltava um aprofundamento sobre a própria sinodalidade, exercitando não só a colegialidade episcopal, alcançando de forma indireta as comunidades. Já há tempos, era sugerido, inclusive pelo próprio Papa Francisco, um processo de "caminhar juntos", escutando diretamente todas as expressões do povo de Deus, colhendo das bases das comunidades e dos cristãos, dos não cristãos e da sociedade em geral, as impressões, testemunhos e dados referentes à essencialidade da Igreja, em sua "comunhão, participação e missão", ouvindo, deixando que todos tomem a palavra, falando com coragem, integrando liberdade, verdade e caridade; celebrando a Palavra e a Eucaristia, na corresponsabilidade missionária, participando da comunidade eclesial e no serviço à sociedade, com responsabilidade social e política, no diálogo e na busca da justiça e do bem comum, salvaguardando os direitos humanos, no cuidado com a casa comum; fomentando a união e diálogo ecumênico, a partir de um único Batismo.

A dimensão da sinodalidade como um princípio educativo para a formação da pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades, numa decisão por discernimento com base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito, tornando as lideranças e membros da Igreja mais capazes de caminhar juntos, de se ouvir mutuamente e de dialogar, num crescimento em comunhão, aumentando a participação ministerial e o comprometimento missionário. 

O Papa Francisco recupera a centralidade da perspectiva sinodal que remonta à fundação e constituição da própria Igreja, inserindo-a no contexto de toda a comunhão humana: com a casa comum, na plena integração do homem com a natureza, numa sinodalidade ecológica. Para o processo de escuta, neste sentido é preciso rever os ensinamentos da sua encíclica Laudato Si, com a reflexão de que tudo está interligado na corresponsabilidade do cuidado e da preservação, rumo a uma consciente Ecologia Integral, na defesa de toda vida, especialmente a vida e a dignidade humana, numa verdadeira conversão ecológica.

Na mesma linha, numa atitude dialógica, o profético sucessor de Pedro, situa a sinodalidade social, apresentando o caminho e partilha comum da solidariedade, da amizade de todos os homens, construindo uma sociedade de justiça, igualdade, fraternidade e paz. É necessário aprofundarmos a temática da sua outra encíclica Fratelli Tutti, acompanhados das propostas da Economia de Francisco e de Clara e do Pacto Educativo Global, que recolocam o horizonte da partilha solidária e do crescimento comum fraterno, com equidade e desenvolvimento sustentável, partindo da educação dos valores e princípios de um humanismo cristão, na concepção universal de que todos somos irmãos, filhos de Deus

Para a missão evangelizadora da Igreja permanentemente em saída, Francisco insiste numa comunhão dinâmica, superando uma igreja autorreferencial, que pelo impulso do Espírito refaça a unidade humana e cristã, numa reconstrução comum, pelo testemunho do Amor, expressão da Misericórdia de Deus e da Verdade, anunciando a alegria do Evangelho, restauradora e libertadora da pessoa humana integral, para a transformação da sociedade em Reino de Deus. Neste âmbito, é riquíssima a contribuição da sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, propondo uma forte sinodalidade eclesial missionária, na esteira da conversão pastoral da Igreja do Documento de Aparecida, grandemente talhado por sua redação.

Numa decisão inédita e histórica, o Papa Francisco inseriu a participação, com direito a voto, de leigos, homens e mulheres, jovens, sacerdotes, religiosos e religiosas, representantes dos diversos trabalhos eclesiais, de vários países, na própria Assembleia Sinodal dos Bispos, em outubro deste ano, estendendo o processo de escuta e discernimento até outubro de 2024, quando haverá a segunda sessão da Assembleia Sínodo, direcionando, então para toda a Igreja, iluminações, frutos de toda a comunhão-participação do povo de Deus para a melhor realização de sua missão. Em comunhão com este processo e tema, realizamos nossa Assembleia Diocesana, nos últimos dias 7 e 8 deste mês, com maduras reflexões e eleição das prioridades pastorais, com ótimos encaminhamentos.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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