“Quem não teve a sua vocação voltada para a arte, não sabe o quanto é difícil não se ter espaço para praticar a sua função, que esteja disponível no município no qual mora. Imaginem um médico sem o hospital público para auxiliar os doentes de corpo e mente, como seria terrível!
Apesar de ser considerada, pela maioria das pessoas, como uma profissão descartável, nós artistas somos os doutores da alma. Se não houvesse a arte para informar, questionar, divertir, entreter, a vida seria menos colorida, não é mesmo? Pois há muitos anos nossas casas estão ruindo, metafórica e fisicamente. O trabalho, muitas vezes sem retorno financeiro que baste para o sustento, faz o artista ficar à deriva, dependendo apenas do seu esforço próprio.
No nosso caso, artistas de teatro, são várias as etapas para se chegar ao final de uma obra: criação, produção executiva de cenários, figurinos, cartazes, banners, etc. Ensaios, por tempo extenso, que requerem doação, vontade, disponibilidade e devoção. Onde se gasta em transporte e alimentação, na maior parte das vezes, do próprio bolso. Inúmeras idas e vindas. Várias tentativas, horas de exaustão até se chegar ao resultado desejado.
Onde são os ensaios? Nas sedes dos Coletivos que, quase sempre, são as casas dos atores. Até que se chega ao final da obra. E agora? Onde apresentar? Desembolsar mais dinheiro, já que são poucos os empresários que investem no seu próprio lazer e cultura, e alugar um teatro. Em Nova Friburgo contamos com o Teatro Sania Cosmelli, equipado com luz e som, ou com o Barão de Nova Friburgo, sem equipamento próprio, isso nos leva a mais gastos com o aluguel dos mesmos.
Partimos para os editais. Alguns são de circulação, nos quais se oferecem espaços para apresentação, outros pedem que se indiquem locais e carta de intenção dos teatros. Mais uma maratona: juntar documentos, passar noites confeccionando o conteúdo e, finalmente, inscrever. Ansiedade pelo resultado. Se não participamos de editais, volta a pergunta: apresentar onde? É um carrossel de emoções.
Não é por acaso que cobramos a reabertura dos teatros municipais, que se encontram sem uso. Teatro Municipal, que está em obras e em breve voltará a funcionar, Centro de Arte, que ninguém sabe o destino final, e Praça CEUS (ou Estação Cidadania), que atenderia ao bairro de Olaria, descentralizando as apresentações e evitando o deslocamento do cidadão para acessar cultura.
O pior, nesse turbilhão criativo, é ouvir de alguns, que ser artista é fácil, que é só diversão! Pior ainda, é ser solicitado para fazer nosso trabalho por poucos tostões ou de graça. Essa é a vida do artista!”
*Atriz, diretora e dramaturga
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