Pároco de Santo Antônio e São Francisco de Assis, paróquia responsável pela capela da Praça do Suspiro, o padre Miguel Angel explica em detalhes, nesta entrevista, o funcionamento do novo badalar observado pelo Caderno Z, suplemento do jornal A VOZ DA SERRA. Segundo ele, os sinos são um instrumento sonoro criado na China há mais de quatro mil anos. A palavra tem origem latina: signum (sinal). Na Igreja Católica, eles datam do século V nos mosteiros do Sul da Itália. Com o tempo, tornou-se comum vê-lo nas igrejas paroquiais, imponente nos campanários. “Interessante saber que, ao longo da História, o toque dos sinos desempenhou diversas funções, desde ações religiosas como chamar o povo para celebrações e funerais, até ações civis, tal como marcar as horas e até convocar o povo para protestos e mobilizações”, conta.
A VOZ DA SERRA: Há quanto tempo estão sendo tocados os sinos com a Melodia de Westminster, a mesma do Big Ben de Londres?
Padre Miguel Angel: Em todo o mundo, em templos grandes ou pequenos, os sinos sempre são tradicionais. Seu badalo ressoa nos campanários anunciando as horas, chamando as pessoas à oração e anunciando os acontecimentos da comunidade local. De algum modo, o badalar dos sinos exprime os sentimentos do povo de Deus, quando exulta ou chora, e convida os ouvintes a parar por um pequeno instante, fazer uma oração, dar graças ou mesmo fazer uma súplica ou pedido. Assim, em janeiro, os sinos da Capela de Santo Antônio voltaram a tocar, marcando as horas, convidando o povo à oração e trazendo esperança aos corações. O toque dos sinos inicialmente estava programado para iniciar a 11 de janeiro de 2021, em memória dos dez anos da maior tragédia climática do Brasil, como um ressoar de esperança a toda a cidade, porque, além de importante ponto turístico, a Capela de Santo Antônio tornou-se símbolo da reconstrução de Nova Friburgo. A pré-badalada ou melodia é tradicional em relógios do mundo inteiro, talvez a harmonia mais reproduzida nos aparelhos.
Mas esse badalar começou quando, exatamente?
O badalar começou depois do dia 11 de janeiro, precisamente no sábado 23 de janeiro, quando a instalação foi concluída.
Trata-se de uma gravação ou do badalo dos próprios sinos?
A Capela de Santo Antônio constitui um bem tombado estadual, cuja construção foi concluída em 1884 e a torre, erguida em 1948. Oscilações dos sinos em movimentos, a médio e longo prazo, podem resultar em danos à estrutura do templo histórico. De igual modo, os sinos são fixos e, para haver movimento, precisariam ou serem deslocados para o interior do campanário ou então terem seus cabeçotes e contrapeso modificados promovendo alterações significativas no visual da fachada. Neste sentido, após estudos, optou-se pelo sino eletrônico ou carrilhão eletrônico digital, que produz o badalo dos sinos de modo automático e manual. Não constitui CD muito menos uma gravação, é um instrumento ou controlador lógico programável capaz de reproduzir sons de sinos e melodias que se complementam ao toque dos sinos existentes. Este mecanismo encontramos na Matriz de Nossa Senhora das Graças (Olaria), Santa Terezinha (Conselheiro Paulino), Santo Antônio e Cristo Ressuscitado (Prado) e Sant'Ana e São Joaquim (Cônego).
O sino ou carrilhão eletrônico digital reproduz o badalo do próprio sino ou de algum outro?
Desde a antiguidade, os sinos sempre são um sinal da presença de Deus na vida do Povo. Na modernidade, surgiram os chamados sinos eletrônicos que são um controlador lógico programável capaz de reproduzir os sons dos sinos a partir da memória (sons de outros sinos), em alguns casos o aparelho também produz o som do sino (tal como um instrumento musical digital). Falar em gravação está equivocado porque equipararia o aparelho a uma caixa de som. O aparelho é um sistema digital com precisão no tempo, podendo ainda controlar o balanço dos sinos e do relógio, com acionamento automático e programação dos sinos mecânicos etc. Na Capela de Santo Antônio, o sino possui dois sistemas: um mecânico-manual e outro por difusores. Ambos soam do campanário, local próprio para o toque dos sinos.
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